Hiago 05/10/2016
Impecável no que se propõe.
Li a versão traduzida por Fulvio Lubisco, da editora Jardim dos Livros, que acompanha os comentários de Cristina da Suécia e Napoleão. Bom, aos acadêmicos de ciências sociais e aos historiadores, é indispensável; Nos dá uma visão política e histórica sem precedentes, única e realmente humana, sobre como as coisas foram e, de certa forma, ainda são. Não trata-se de um livro somente sobre ciência política - ainda que seja majoritário nesse aspecto -, mas de conduta humana e, sobretudo, história! Diferentemente do que se pensa ao utilizarem termos como ''maquiavélico'' para designar algo nefasto, malvado ou desonesto, a noção que se tem ao ler o livro com cuidado, é de que Maquiável somente reproduziu o que concluiu através de suas análises exaustivas e extremamente detalhistas (são muitas!). Não penso que o autor tenha sido um homem mau, visto que ele próprio nunca exerceu grande influência (sob terceiros) a esse ponto - ainda que tenha convivido com aristocratas e a alta classe florentina -, mas penso que tenha sido sim um observador nato, isso sem dúvida. O que se vê na obra é a representação fidedigna de conflitos e medidas previamente adotadas por outros antes dele, por exemplo, pois a noção comum é de que Maquiável tenha inventado as abordagens expostas no livro, quando não é o caso. Neste livro, o leitor compreende de que forma diversos Estados podem ser constituídos, conquistados, mantidos ou derrotados, é essencialmente um manual político à época, com menos eficiência hoje em dia, mas com um valor inestimável e que não pode ser subestimado salvo algumas observações (por vezes pueris quando trata-se de analogias envolvendo personagens bíblicos ou a própria igreja católica). A contemporaneidade baseia-se em princípios dissecados de outros tempos, há raízes em nossas instituições e conceitos que caminharam por outros séculos e ganham novas formas com o passar dos anos, mas que podem ser regredidas e por isso merecem ser compreendidas minuciosamente. O livro pode ser pesado e cansativo aos que não possuem mínima afinidade com história ou política, mas ainda sim pode ser tragável, com devidas pausas mais longas e análises superficiais (não é prejudicial nesse caso). Mas, como um todo, fico com a opinião de que, mesmo que tenha exercido enorme influência durante os anos seguintes e algumas vezes até em personagens históricos mais recentes, ele deve ser lido à luz de sua época, sempre; Digo isso porque é muito difícil correlacionar conceitos que estão no livro com os de hoje em dia, há mudanças drásticas e blindáveis, não se pode fantasiar ao ponto de achar que tudo ainda é praticável, não mesmo. O único lado negativo, talvez, vá para os comentários arrogantes e pretensiosos de Napoleão, que por vezes parece uma criança mimada e inflexível e contrasta como sendo aluno de um professor mais lúcido e consciente (o próprio Maquiavel). Por fim, o livro é um marco, um clássico que merece a fama que o precede.