Lucas.Costa 31/10/2020
Reviravoltas até a última página... Um livro pra se devorar
O estilo "who done it" onde um crime acontece e um dos objetivos da obra é chamar o leitor ao papel de detetive se popularizou muito com obras como Sherlock Holmes e os livros de Agatha Christie. Em comum, ambos apresentam a história sobre o ponto de vista de um detetive, e, pra mim, pecam em encher as obras de "genialidades" dos detetives, afastando o leitor das descobertas. A rainha do mistério inclusive costuma colocar vários elementos nos últimos capítulos pelo qual o detetive percebeu o crime, mas o leitor não tinha acesso. Aqui é diferente, estamos sob o ponto de vista de um escritor, tão leigo quanto qualquer leitor nas artes investigativas e suscetível aos mesmos erros, e como caímos nesses erros.
ENREDO
Contado em várias linhas do tempo, alternando principalmente entre o presente e o passado à época do crime, o livro é magistralmente escrito. Como bônus, cada capítulo se inicia com uma dica de Harry sobre como escrever um bom livro, e como é gostoso ver cada dica dessas aplicada e nos conduzindo a uma leitura que prende até o último ponto final.
São várias camadas a se desvendar, vários erros induzidos, nosso ponto de vista sobre personagens muda constantemente e cada página virada vira um convite a próxima. É simplesmente impossível largar o livro na metade final.
Livros com a estrutura do Who done it, não costumam me prender muito, apesar de ser convidado a desvendar o mistério, sempre há um toque de genialidade do detetive em um mínimo detalhe do livro, muitas das vezes nem apresentado, que soluciona o mistério e aponta para quem menos se espera. Aqui não, a condução das entrevistas alinhada com a descrição dos fatos nos leva a, de fato, construir essa história em nossas cabeças e apontar culpados, toda hora um diferente, mas apontamos =). E como se amarram as coisas no final. É impressionante que pouquissima coisa aqui é atoa, as quase 600 páginas do livro são necessárias para construir a história que o autor desejava e são um deleite.
PERSONAGENS
O que mais me chama a atenção em livros são personagens. Stephen King me leva muitas vezes para plots absurdos como carros assassinos, mas com personagens tão geniais que me prendem na leitura. Aqui, felizmente, é isso que acontece. Os personagens são profundos, com várias camadas, ninguém é puramente bom, ninguém é absolutamente mau, isso nos leva a desconfiar de todo mundo e até encontrar motivos plausíveis pra eles. Harry Quebert é uma cebola cheia de camadas brilhantemente descascada ao longo das páginas e sendo finalmente e puramente conhecido somente nas últimas páginas. Marcus Goldman é bem descrito, apesar de ser apenas o fio condutor da história. Nola também é uma personagem muito complexa e profunda, que vai sendo revelada com o passar das páginas. Tudo é muito bem amarrado e logo o leitor se identifica e passa a se importar com o desfecho de cada um deles.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não sei se dá pra chamar de surpresa, dadas as notas altas que a obra possui em todas as redes, mas é uma leitura que vale a pena demais. O hype é válido e me deixou muito curioso a ler tudo o que o autor escreveu. Vale cada segundo debruçado sobre o livro.