alice 16/04/2021então...SINOPSE: (sem spoilers)
Marcus Goldman é um escritor mundialmente famoso devido ao seu primeiro e único livro (esqueci o nome do livro, mas enfim). Passam-se meses, e sofrendo de uma crise criativa, Marcus sente-se cada vez mais pressionado para entregar seu próximo romance. É assim que ele acaba indo parar na cidadezinha de Aurora, no litoral dos EUA (esqueci qual estado, pouco importa), e hospeda-se na casa de seu mestre, Harry Quebert, o responsável pelo seu sucesso como escritor.
A partir daí que a história se desenrola, quando descobre-se o corpo de uma garota de 15 anos, enterrada no quintal da casa de Quebert. A garota é identificada como Nola (K... algum sobrenome), a menina desaparecida no verão de 1975, e que impactou a cidade de Aurora.
Para piorar a situação: o manuscrito de grande sucesso "origens do mal" do escritor Harry Quebert, é encontrado com ela. Mais ainda: Harry confessa que o seu grande livro era dedicado a Nola, e que a garota de 15 anos e o escritor de 30 e poucos mantinham um relacionamento antes do seu desaparecimento.
Convencido da inocência de Quebert e pressionado por livrá-lo da cadeira elétrica, Marcus começa a investigar a cidade, buscando pistas sobre o que realmente acontecera naquele marcante verão de 1975.
RESENHA: (SEM SPOILERS)
Um dos principais aspectos responsáveis por manter o leitor no livro são os personagens que ele nos traz. E por mais interessante que a história seja, são o caráter dos indivíduos que nos carregam.
Nesse livro, nós temos Marcus Goldman como narrador, um homem branco, jovem (nos seus 30 eu acho), que acabou de vivenciar um grande sucesso, está famoso e rico. Ele foi, pelo menos pra mim, um personagem muito difícil de engolir. Nós temos regressos ao seu passado, na adolescência; quando ele conhece Quebert e durante trechos da amizade deles. Quando jovem, tinha pavor do próprio fracasso, da própria falta de caráter e por esse motivo ele se protegia ao empurrar os demais para baixo e se equilibrar em cima. Lendo esses trechos eu senti nojo dele, e foi difícil tirar essa imagem da minha cabeça.
Ele continuou crescendo e entrava nas competições mais fáceis, trapaceava, buscava aqueles que ele poderia superar sem esforço, para manter aquela imagem falsa imbatível dele. Ele era conhecido por um nome no ensino médio, alguma coisa como o Invencível, o Astro, o Insuperável, o Incrível (algum lixo assim).
É na faculdade (a mais desconhecida de todas, porque, envergonhado desse passado dele, ele tenta mudar de vida) que ele conhece Quebert, e depois de provar que pode ser um pouco menos covarde do que ele está acostumado, os dois viram amigos.
No livro, o Marcus diz que Quebert é como um pai para ele, mas assim que ele conquista o sucesso e a fama, esquece completamente do homem por mais de um ano, até aparecer com seu problema na porta da casa dele. Basicamente, Marcus é um personagem repulsivo, cheio de erros, mas tem seus próprios valores e é extremamente teimoso, o que ajuda ele a avançar pelo livro. Algumas horas eu pensava em desistir da história só por causa desse cara. Enfim.
Quebert seria o personagem central da história, por mais que não participe tanto. A narrativa é sobre ele, sobre quem ele era e sobre a realidade do que ocorreu. De forma geral, Quebert é um homem solitário, que depois de seu grande sucesso (que por acaso é o mesmo livro que vai causar sua desgraça), vai viver isolado na cidadezinha de Aurora. Ele não teve ninguém desde seu relacionamento com Nola.
A medida que o livro vai se desenrolando, entendemos mais sobre a relação deles, e por mais romantizada que seja escrita, não dá pra evitar: é um homem de 30 e poucos anos e uma menina de 15. Uma coisa que me deixou muito incomodada é que ela é descrita por possuir "corpo de mulher", como se fosse uma justificativa pro relacionamento, mas em constraste com isso o comportamento dela é extremamente infantil, você percebe isso só lendo as falas.
Quanto a Nola, a única personagem feminina que parece ter algum caráter (isso é outra coisa que me incomodou demais. Por mais que tenham outras mulheres na história - nunca do lado dos investigadores, apenas moradoras de Aurora -, elas tem sempre o mesmo objetivo, isto é, se comportam muito iguais. São todas mulheres de família, com comportamentos bobos, ignorantes, ou engraçadinhos (que na verdade não são nada engraçados). Quando demonstram coragem, sempre é na mesma direção: é pra proteger o marido, ou filhos, etc. *É uma atitude bonita, proteger os seus, mas não foi exatamente a atitude que me incomodou, mas sim o fato de que todas elas tem a MESMA atitude*
Até mesmo Nola acaba se enquadrando aí. A história da Nola é interessante, ela é uma garota que sabe o que quer, e desde que as coisas começam a se encaixar eu soube que tudo que ela fez vinha da determinação dela.
Tem um único aspecto dela que me incomoda demais e no fundo me pareceu meio desnecessário, não encaixa muito bem na história e existem muitas outras formas de dar a volta naquilo (pra quem já leu o livro: estou falando do Alabama)
De forma geral, acho que os personagens são o maior pecado desse livro. (para falar a verdade, teve um ÚNICO personagem que eu me afeiçoei no livro inteiro, e pra mim, foi ele que carregou a história da metade pra frente*¹).
Por outro lado, o mistério se manteu concreto desde o momento que começa (tem um início meio lento) até as últimas páginas, e, mesmo que aqueles que eu desconfiava se provaram os culpados, eu não conseguia entender como tudo ocorrera, e a explicação foi satisfatória, naquele momento.
Um ponto forte do livro, pra mim, foi o modo como foi escrito. Eu gosto dessas coisas, de ser um livro dentro de um livro. Na realidade é como se "A verdade sobre o caso Harry Quebert" tivesse sido o livro escrito pelo Marcus Goldman da história e eu fiquei apaixonada pelo esse tipo de narrativa. Além disso o livro ainda trata sobre o Marcus aprendendo a se tornar um escritor, e é muito legal ver como esses detalhes e aprendizados que o Quebert passa a ele transbordam para a história.
É um suspense que vale a pena ser lido, com seus pontos fortes e fracos, e é necessário um olhar crítico pra processar algumas coisas que acontecem ali dentro, mas de forma geral o enredo salva o livro.
(SPOILERS)
*¹: o único personagem que eu me afeiçoei foi o luther. não por eu gostar dele, mas porque ele tem um caráter, eu senti durante a história a humanidade dele escondida debaixo daquele homem assustador, e desde que ele foi apresentado soube que ele não tinha más intenções, mas foi julgado e marginalizado. não é um personagem perfeito, está bemm longe, mas eu consigo ver o consistência e coerência dos comportamentos dele.
E uma coisa que me irritou de um jeito nessa história foi o final dele. Não estou falando da morte, mas sim do livro dele. O Marcus, sabendo da verdade, escolhe ainda manter a autoria de "origens do mal" escondida, e "homenageia" o Luther com um trabalho que não é dele apenas pelo bem estar do Quebert. Aquilo me irritou muito, o não reconhecimento de uma obra-prima, reconhecida mundialmente só para salvar a pele já queimada do amigo.
POR FIM, o objetivo da resenha é a gente entender os pontos do livro, e buscar uma explicação pras emoções que a gente vai sentindo durante a leitura. O propósito não é desmerecer o livro, mas sim fazer críticas construtivas e argumentar a respeito delas.
Caso tenha se incomodado com algum dos pontos que eu levantei, me procura :)