Marcus 28/12/2023Amor VenerisFederico Andahazi não chegou a ser queimado na fogueira, como alguns dos personagens de seu romance O Anatomista. Mas sua obra não escapou do conservadorismo.
O Anatomista é a obra de estreia do escritor argentino Federico Andahazi, de 60 anos. O livro lançado em 1996 romanceia a vida do médico e professor Matteo Realdo Colombo. O personagem é real, nascido em Cremona em 1516. Como outros cientistas da Renascença, dedicava-se a dissecar corpos de pessoas e outros animais para compreender sua anatomia.
Entre outros avanços da medicina, por exemplo sobre a circulação sanguínea e a visão humana, Matteo Colombo pesquisava uma substância, poção mágica, o que fosse para despertar o amor nas mulheres.
Essa busca é a parte histórica do romance, uma obsessão de feiticeiros e alquimistas desde sempre. É aí que entra o talento literário de Andahazi, que introduz Mona Sofia, belíssima prostituta de Veneza. Ela se torna uma obsessão para Matteo Colombo, que motiva ainda mais sua busca pela chave do amor e prazer feminino.
O Anatomista tem sequências explícitas, que incluem cenas chocantes de pedofilia. Era um período da humanidade em que a prostituição não tinha idade para começar. Algo que virou crime, mas infelizmente não acabou.
A narrativa de Federico Andahazi combina o obsceno com o erudito, o profano com descrições científicas, ficção e realidade histórica em um texto muitíssimo bem escrito e fluido. O protagonista interage com vítimas da sociedade, a intolerância de religiosos, prostitutas, enfrenta um vilão e faz amizade até com um corvo.
O anatomista tornou-se um êxito mundial e foi traduzido para mais de 30 idiomas. Já em 1996, o livro foi finalista do Prêmio Planeta, e ganhou o Primeiro Prêmio da Fundação Fortabat. Porém, María Amalia Lacroze de Fortabat disse que não concordava com a decisão do júri. E ela era simplesmente a financiadora do concurso. Seu argumento, publicado em jornais de Buenos Aires, era que o romance “não contribui para a exaltação dos valores mais elevados do espírito humano”.
A Fundação Fortabat ratificou a escolha do júri e manteve o prêmio. Mas a senhora María Amalia, dona da bola, destituiu o júri e acabou com os concursos literários organizados pela Fundação Fortabat. Ela por fim concordou em dar os US$ 15 mil do prêmio a Federico Andahazi. Mas não o prêmio em si o autor não recebeu.
Muito bem, eu só não disse qual foi a grande descoberta de Matteo Realdo Colombo. E não vou dizer o que é o famosíssimo Amor Veneris. Você pode descobrir numa rápida pesquisa, mas deixo no ar para provocar seu desejo de ler esse livro. Vale muito a pena!
Eu li nesta edição da Relume Dumará de 2000, na tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman. A edição hoje disponível é da Editora Bertrand Brasil.
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