Coruja 29/06/2011Esse mês no Clube do Livro, continuando com nossa viagem de volta ao mundo, paramos na América Latina, mas especificamente na Argentina do incomparável Jorge Luís Borges.
Adoro Borges. Dos contistas, ele é um dos meus favoritos – Borges consegue conjugar cotidiano e absurdo e fazer daquilo que temos no dia-a-dia algo a ser visto sempre com novos olhos. É também um autor estilo Barsa, que nos espanta com sua cultura e nos deixa curiosos em buscar suas fontes – o que me faz pensar em Eco e Manguel, dois outros autores que sempre me dão enorme prazer e me forçam a estudar e pesquisar.
O História Universal da Infâmia segue essa tradição – embora esteja aquém das obras mais consistentes de Borges. Não é, exatamente, um livro de contos, mas uma coletânea de perfis curiosos e me fez pensar constantemente em um álbum de figurinhas.
Meus infames favoritos: Lazarus Morell, que aparece em Life on the Mississippi (que ganhei do Dé no amigo secreto do ano passado), Bogle e o mestre-de-cerimônias Kotsuké no Suké.
Lazarus Morell era um empresário de visão. Nos tempos da escravidão nos Estados Unidos, ele e seu bando prometiam liberdade e dinheiro para os escravos dentro de um esquema muito simples: os escravos fugiam de sua fazenda original, se deixavam vender pelo bando de Lazarus que, posteriormente, entregaria o dinheiro dessa venda ao escravo uma vez que ele voltasse a fugir.
O mesmo escravo poderia ser vendido e revendido várias vezes até pensar com seus botões que já tinha feito um bom dinheiro, ir atrás de Lazarus para acertar as contas e amanhecer no fundo do rio – o que proporcionava uma excelente campanha de marketing já que vendo que seus companheiros fugidos não voltavam, outros escravos acreditariam na farsa e também se deixariam vender após fugir.
Bogle, o companheiro de Tom Castro, é, para mim, o verdadeiro infame do segundo conto, uma vez que grande mentor da troca de identidades. Tom Castro, contudo, merece o prêmio óleo de peroba, porque, vou te contar, pense numa cara de pau você sair por aí depois de preso por identidade falsa a contar todo o esquema, mudando o final a cada vez...
A história do mestre-de-cerimônias, por sua vez, é bem pitoresca: por uma falha de protocolo, um grande senhor é morto e seus samurais a princípio, comportam-se como se não se importassem, atraindo assim a desonra. Na verdade, tudo não passava de um estratagema para fazer com que o tal mestre-de-cerimônias culpado baixasse a guarda, de forma que os samurais podem vingar seu senhor e em seguida cometer suicídio ritual para poder segui-lo.
Borges viaja por todo o mundo com sua galeria de infames – dos rincões da América Latina aos mares da China, colorindo cada uma dessas passagens com tintas tão fortes que nos sentimos também transportados a cada virada de página.
E pensar que está é considerada uma obra menor do gênio argentino... aí você imagina o que é ler uma de suas obras-primas...