O louco de palestra

O louco de palestra Vanessa Barbara




Resenhas - O Louco de Palestra


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Victor Hugo 20/05/2020

Boa surpresa. Estilo divertido de escrever que nem sempre é regular (pelo visto é muito difícil manter a regularidade escrevendo colunas semanais), mas com certeza é virou uma referência pra mim.
Sustentar uma leitura de humor sem diálogos é invejável
AlexN 05/07/2021minha estante
Também gostei bastante do estilo irônico dela, muito sustentado por hipérboles e pelas observações de situações curiosas do dia-a-dia.




Henrique Fendrich 04/09/2014

Vanessa Barbara, cronista que anda de ônibus
O caso de amor de Vanessa Barbara com o transporte coletivo não é passageiro – é ela mesmo quem faz o trocadilho. Em 2008, ela produziu um trabalho jornalístico sobre o Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo, que acabou publicado sob o título “O livro amarelo do Terminal” (Cosac Naify) e com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de reportagem no ano seguinte. Desde então a escritora, que mal passou dos 30 anos, continua andando de ônibus por aí. E escrevendo a respeito, coisa rara mesmo entre os cronistas, que aparentemente ascenderam de condição social e não precisam mais fazer uso de transporte coletivo. Ganham em comodidade, mas perdem uma gama fantástica de assuntos que nascem em meio à diversificada fauna que continua indo de Volvo para lá e para cá.

Acrescente-se que Vanessa Barbara é paulistana e sabe muito bem que não há nada mais típico na cidade do que ônibus lotado. E foi de tanto viajar nessas condições por São Paulo que ela arrumou temas para boa parte dos textos de “O louco de palestra e outras crônicas urbanas” (Companhia das Letras), possivelmente o livro mais hilariante do gênero no ano. É verdade: Vanessa tem a habilidade de escrever as coisas mais engraçadas sem deixar transparecer o menor sorriso. Das precárias condições que são oferecidas no transporte público da cidade, a cronista se vinga com o gracejo, a galhofa, o exagero e o absurdo.

Os letreiros dos ônibus que ninguém entende a lógica, os itinerários mais improváveis, a televisão instalada para distrair os passageiros, as maneiras de passar o tempo durante a viagem, as conversas que escuta dos seus companheiros de infortúnio, tudo é captado por uma cronista atenta e que já escrevia bem desde muito cedo, como se comprova no impressionante “Um conto do 701U”, feito quando tinha apenas 21 anos.

É dura a vida de quem não tem carro. Foi pensando nessas dificuldades que Vanessa chegou a criar uma Sociedade Paulistana dos Sem-Carro (SOPASECA). Porque quem anda de ônibus também anda muito a pé e, no caso das ruas de São Paulo, isso é semelhante a jogar Pitfall. É dessas agruras a matéria de alguns dos textos mais divertidos do livro.

Que, aliás, já começa muito bem, com a cronista reconstruindo, de forma bem-humorada, a lógica do Mandaqui, o distrito em que mora, na zona norte de São Paulo, com todas as suas ruas e personagens pitorescos. Vanessa também gosta muito de imaginar, de viajar pelo absurdo, coisa que sempre gera textos cômicos, como aquele em que o próximo Papa é escolhido através de um reality show, ou ainda “A marcha dos satisfeitos”, “Unidos do lacrimogênio” e “A nova geração saúde”, todos tendo como motivação os protestos de 2013 no Brasil.

Nessa categoria, uma das melhores crônicas é “Promessas de ano novo”, em que Vanessa visualiza como seria o mundo se todas as pessoas de fato cumprissem as promessas de mudança que fazem no dia da virada.

Entre aquilo que chama de “crônicas urbanas”, Vanessa Barbara incluiu alguns textos que não são exatamente próprios do gênero, como o ensaio de 13 páginas que dá nome ao livro (uma divertida análise sobre aqueles sujeitos que erguem a mão durante uma palestra e não falam coisa com coisa), além de “Papai Noel armênio e egípcio de quipá” (9 páginas em que reconstrói cenários e tipos do bairro do Bom Retiro) e “Uma em um bilhão” (uma espécie de reportagem em primeira pessoa, com 15 páginas, sobre a sua viagem literária a Macau, China e Hong Kong).

Na parte final, há alguns textos que envolvem Londres durante as Olimpíadas de 2012 e o livro se encerra com duas crônicas escritas a la Rubem Braga e Paulo Mendes Campos – pois Vanessa, além de cronista, é entusiasta do gênero e dos seus autores clássicos, tendo sido capaz até de incluir alguma coisa sobre a crônica durante uma das exóticas palestras de que participou no sudeste asiático.

É um livro que contribui para mostrar que, a despeito dos grandes escritores do passado, a crônica continua viva, inteligente e próxima ao leitor – e, para nossa sorte, a moça mal passou dos 30 anos.

site: http://rubem.wordpress.com
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