Isa 26/03/2023
História Real?
E vamos falar sobre esse livro que me deixou impressionada, positivamente.
Tenho dificuldade em ler livros com mais de 50 páginas que são escritos em prosa, então quando pensei em ler esse, me perguntei se seria de fato uma boa. Procrastinei, ainda que tivesse interesse na história, até que o momento surgiu. E cá estou eu, pra falar que li ele do início ao fim em menos tempo que imaginei.
O livro é sobre Dirceu e Marília, mas o mais interessante é que Dirceu na verdade é o autor é Marilia é a sua amada. Isso mesmo, o livro é baseado em fatos reais e você vai entender isso melhor lendo o que venho dizer aqui.
Dirceu é o Tomás Antônio Gonzaga, Marília é a sua amada Maria Doroteia e outros personagens que são citados, vou explicar mais adiante. Mas o que precisamos entender? O livro é do período do arcadismo e inclusive fez com o autor se consagrasse nesse meio, que até então ele mal conhecia. Sendo dessa época ele contém essas características, como por exemplo ideias iluministas, a busca pela simplicidade (pessoas do espaço urbano narrando o espaço pastoril e natureza), a exaltação da natureza, a crítica da vida no meio urbano, linguagem simples (mas com palavras utilizadas na época), menções à mitologia grega e a vida resumida em amor, casamento, natureza?
Algo importante também de se lembrar desse período são os termos em latim, carpe diem (o famoso é usado em tantas tatuagens), que justamente passa a ideia de aproveitar e viver o momento. Fugere urbem, que sugere justamente essa vida no campo. Existem outros, mas cito esses dois. Ao decorrer do livro você entende isso claramente.
Outra coisa importante de saber antes de ler o livro é que Tomás, junto com Tiradentes e outro amigo, foram responsáveis pelo ?início? da Inconfidência Mineira, sendo assim, sofreram as consequências. Tomás (autor do livro) foi condenado ao exílio em Moçambique uma semana antes de seu casamento com Maria, que tinha em torno de 15 anos e por isso (e demais motivos óbvios) ficou no Brasil. (Importante lembrar que não foi casamento arranjado, ela amava ele e NA ÉPOCA essa diferença de idade era comum).
Sendo assim, Tomás escreve o livro em duas partes, uma antes da prisão e outra depois, e isso você vai conseguir perceber claramente, a diferença na escrita e nas características e foco principal.
Na primeira parte ele conta como conheceu Marília (Maria), como gostaria que a vida deles fosse, exalta ela, seu amor, sua beleza e a vida que quer ter com ela. Na segunda parte ele já fala sobre a prisão, o quão dificil é, a saudade que tem dela e que é ela quem lhe dá forças, a remota chance deles voltarem a se ver e terem uma vida que sonharam.
Alguns personagens são citados, que são baseados em pessoas reais. Já falei de Marília e de Dirceu e agora falo de Glauceste que era o Claudio Manoel da Costa, grande amigo de Tomás. Tambem tem o Alceu que era o Alvarenga Peixoto. A Eulina que era a amada de seu amigo, Laura que foi uma mulher que gostou de Tomás a qual despertou ciúme em Maria Doroteia. Também temos o Cupido que é uma mistura da referência ao amor e à mitologia grega.
O livro então é autobiográfico mas ainda assim muita coisa foi alterada para as características do arcadismo. Exemplo: Tomás era do centro urbano e no livro, Dirceu é pastor, assim como Marília: o pastoril é uma característica do arcadismo. Dirceu descreve a Marília como loura, outra característica dos pastores do arcadismo, mas em outro momento a descreve como de pele branca como a neve e cabelo negro, que eram as características de Marília. Então ainda que seja um livro autobiográfico, ele possui diferenças da vida real, Dirceu é seu pseudônimo (característica também do arcadismo, presença de pseudônimos), mas também é um personagem.
Dividido em duas partes com liras e outra com sonetos, o livro é fácil leitura. Eu gostei bastante e amei e sofri junto com Dirceu. Acredito que a experiência de ler esse livro deve ser vivenciada por todos, por ser um pedaço da nossa história e um pedaço da história da literatura.