Fernanda Rebelato 21/03/2016
Simplesmente Acontece
Romances. Sempre tão clichês e sempre despedaçando os corações alheios que sabem que o amor não é apenas flores e borboletas. Em Simplesmente Acontece acompanhamos Alex e Rosie, dois grandes amigos, desde os 7 anos aos mais de 50, que por armações do destino, negam para si e para o mundo o amor que sentem um pelo outro. Como o próprio nome do livro diz, as coisas simplesmente acontecem na história dos dois personagens, coisas da vida, que podem acontecer com qualquer pessoa, o que acaba impedindo os dois de ficarem juntos.
Desde sempre Alex e Rosie são amigos. Sonharam juntos, realizaram planos juntos, entraram em encrencas juntos. Os dois conhecem um ao outro melhor do que ninguém, e o amor um pelo outro é visível, todos acreditam que eles devem ser um casal, pois são inseparáveis, mas as coisas não ocorrem no tempo que deveriam.
Alex é o estilo de cara desleixado, que não faz longos planos, escreve errado e não tem responsabilidade nenhuma, até que em um momento resolve dar um rumo para a sua vida. Já Rosie é a garota certinha, que está sempre correndo atrás do que deseja, tem tudo planejado, mas por um deslize sua vida mudou completamente e os sonhos ficaram para outra hora.
''Como a vida é engraçada, né? Bem na hora em que você pensa que está tudo resolvido, bem na hora em que você finalmente começar a planejar alguma coisa de verdade, se empolga e sente como se soubesse a direção em que está seguindo, o caminho muda, a sinalização muda, o vento sopra na direção contrária, o norte de repente vira sul, o leste vira oeste, e você fica perdido.''
Alex se muda para o outro lado do mundo seguindo o sonho de ser médico, e Rosie agora tem uma filha, Katie, a quem ama incondicionalmente, mas que a impede de realizar muitas coisas. Reviravoltas e mais reviravoltas do destino acontecem com os dois em função dos personagens secundários que tem um papel importante para a construção da narrativa. Brigas, segredos, casamentos, mudanças, mortes e perdão são o que constrói esse livro, tudo em volta de uma amizade enorme.
Eu conheci a história primeiramente através do filme, e me apaixonei, mas ao ler o livro parece que as minhas expectativas foram se reduzindo. A narrativa do livro é contada através de cartas, bilhetes, e-mails, chats, mensagens no celular, cartões postais ou comemorativos, trocados por Alex e Rosie ao longo dos anos. Confesso que isso me deixou um pouco decepcionada com a história e incomodada também. Eu esperava mais, eu queria mais. Queria um certo contato real entre os personagens e não apenas por chats online.
Quando vi o filme sentia a proximidade dos personagens, sentia a saudade que sentiam um do outro, percebia a dor de estar longe de quem se ama, mas ao ler o livro pareceu que, mesmo os personagens morando na mesma cidade, eles quase nunca conversavam pessoalmente. Existe a ajuda, os conselhos, e tudo mais, mas senti falta do contato real entre elas. As cartas puderam contar mais dos relacionamentos conturbados que tinham e da vida de Katie e Josh, filhos dos personagens, por outro lado eu ainda senti falta das coisas físicas da história, que tanto me emocionaram quando vi o filme. É acho que talvez, esse seja uns dos raros casos em que prefiro o filme ao livro.
Eu gostei da história, mas particularmente, prefiro o romancezinho clichê em que o casal fica brigando a história inteira e então, no fim, ficam juntos e felizes. Para mim, o romance precisa desse contato físico entre os personagens, precisa de proximidade, e apesar de sentir o amor que havia entre Alex e Rosie, esse amor parecia uma ideia muito distante para os dois. Eles demoraram muito tempo para perceber o que sentiam, e foram deixando as coisas acontecerem como se adiassem algo. Tudo bem, sempre tem aquele velho ditado de que tudo tem seu tempo, mas aqui me pareceu tempo demais.
''No começo tínhamos tanta coisa pra conversar que falávamos umas cem palavras por segundo, e mal esperávamos o outro terminar uma frase para começar outra. E demos muita risada. Rimos à beça. Então os risos terminaram e veio o silêncio. Um silêncio estranhamente confortável. Que diabos foi aquilo? ''
O amor entre Rosie e Alex existia sim, mas eles nunca pareciam estar em sintonia para dizer o que sentiam. Num momento o trabalho era o foco, em outro os filhos, no outro os casamentos que iam de mal a pior, e assim por diante. O amor estava ali, senti isso enquanto lia, mas por problemas pessoais e brincadeiras do destino ele nunca era revelado. E foi assim que a narrativa foi me cansando.
As chances foram passando de uma em uma, o amor foi deixado de lado por medo de dizer o que sentiam, por besteiras e contratempos. Teve momentos durante a leitura que eu pensava: por favor, sentem e resolvam isso de uma vez! Mas como todo romance, isso é coisa para os últimos segundos.
Acredito que a autora quis mostrar que tudo tem sua hora certa para acontecer, mas que às vezes devemos aproveitar as oportunidades que temos ao longo do tempo, mesmo que não de certo no futuro. Eu gostei mais da adaptação cinematográfica, mas o livro traz pontos da história que não são retratados no cinema, e talvez isso foi o que mais me cativou na escrita, conhecer melhor os personagens, mas em questão do romance deixou um pouco a desejar. Para os apaixonados por romances clichês, esse é o livro, mas para quem, assim como eu, prefere o contato real dos personagens, talvez devesse procurar outra história.
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