Caren Gabriele 18/03/2016Quase Memória Para ser bem sincera, dificilmente esse seria um livro que eu espontaneamente leria. Provavelmente me interessaria, colocaria na minha lista de leitura e deixá-lo-ia lá, suspenso no tempo e espaço. Mas daí a professora de Gêneros jornalísticos resolveu que essa seria a nossa leitura obrigatória (além dos outros textos da disciplina, é claro) do semestre, e como eu simplesmente não tenho como saber quando meu semestre acaba (por motivos muito além da minha alçada), resolvi adiantar meu lado e, para não esquecer de alguns detalhes, escrever essa resenha (afinal, esse post está sendo escrito no fim de janeiro).
"Uma quase-memória, ou um quase-romance, uma quase-biografia. Um quase-quase que nunca se materializa em coisa real como esse embrulho, que me foi enviado tão estranhamente. E, apesar de tudo, tão inevitavelmente." (p. 108)
Sua leitura, ao contrário do que costuma acontecer com outros textos indicados por professores desde que me entendo por gente, não me trouxe nenhum arrependimento ou cansaço. Muito pelo contrário. Esse é um daqueles livros que transmitem leveza e nos aguçam o sentido sempre em busca de um pouco mais da história.
E que história... Ao transcrever suas memórias, o autor não só faz uma homenagem belíssima a seu pai, como também nos presenteia duplamente. Primeiro, ao nos permitir conhecer através de seu olhar e sensibilidade, um homem louco, otimista, cheio de uma alegria que hoje encontramos em raríssimos seres humanos e um não sei o quê, uma felicidade em estar vivo que é simplesmente inspiradora.
E segundo, esse passeio por um jornalismo brasileiro completamente diferente do que conhecemos hoje, da primeira metade do século XX, do tempo em que se vendia notícia no papel e uma história bem contada valia muito mais do que o imediatismo. E é claro que eu simplesmente não poderia deixar de falar disso, afinal, é justamente o tipo de jornalismo que me faz suspirar.
"(...) uma despedida sem dor e sem lágrima, despedida de um caminhante exausto, fatigado de tudo, uma despedida geral e agradecida do camicase que doou a vida pelo objetivo de viver, viver tudo, inclusive o ato final, a despedida sem mágoa e rancor." (p. 164)
Carlos Heitor Cony é um jornalista e escritor brasileiro, editorialista da Folha de S. Paulo e membro da Academia Brasileira de Letras desde 2000. Além de contos e crônicas, o autor já publicou dezessete romances, dentre eles, Quase memória que vendeu mais de quatrocentos mil exemplares.
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