Tendo o Rio de Janeiro das décadas de 40 e 50 como cenário, a história começa quando o autor recebe um embrulho sem remetente na recepção de um hotel cujo restaurante costuma frequentar. A primeira reação é achar que se trata do original de um livro, como muitos que costumam parar em suas mãos. Mas logo os detalhes o surpreendem: a letra no envelope é a do pai morto há dez anos, assim como o nó no barbante e a cor da tinta da caneta. Inconfundíveis. Aquele objeto inesperado desencadeia em Carlos Heitor Cony lembranças do pai (Ernesto, jornalista, como o filho viria a ser) e dos tempos de menino.
Ao ativar a memória do autor, o misterioso envelope traz de volta sensações e sentimentos experimentados com o pai, como o cheiro de manga, a capacidade de sonhar, de viver a vida com entusiasmo, a alegria pura da infância, que transforma o ato paterno de soltar balões em algo de proporções heróicas. Com grande sensibilidade e contundência, Cony revisita também os sentimentos contraditórios da relação entre pais e filhos: aqueles momentos em que se alternam vergonha e orgulho, medo e respeito.
Lançado originalmente em 1995, Quase memória marcou a volta de Carlos Heitor Cony à ficção de forma consagradora, depois de mais de vinte anos afastado da literatura.
Ponto alto na produção literária brasileira das últimas décadas, este romance explora o território entre a ficção e a memória a partir das reminiscências do autor sobre o pai morto. Nele, Cony mapeia minuciosamente a relação pai e filho: os sentimentos contraditórios, as alegrias e tristezas que não se esquecem, o afeto incondicional e, acima de tudo, a cumplicidade.
Ficção / Literatura Brasileira / Romance