R...... 08/08/2019
Coleção Aventuras Grandiosas (RIDEEL, 2004)
Li a edição original há mais de dez anos, quero reler um dia. Essa adaptação infantojuvenil serviu como resumo, para leituras de HQs no momento. São apenas 32 páginas, mesmo assim deu para clarear as ideias.
É uma história aberta a discussões pelo teor metafórico. O contexto aventureiro, assim como aconteceu com trocentas histórias dos séculos passados, está relacionado às viagens oceânicas, literalmente um atiramento ao mundo, em busca de descobertas e aprendizagens. Swift já havia explorado isso com "Os Robinsons Suíços", onde a natureza na relação com o homem foi temática. Agora a aventura é centrada na interação entre os homens, em um contexto surreal e estranho, proporcionando descobertas e aprendizagens de críticas sagazes.
Em linhas gerais, vemos o país dos Liliputianos e Blescafus (ou quase isso). Homenzinhos aparentemente amistosos, que ajudam um estranho e desconhecido náufrago. Será esse o resumo? Qual o que! Homenzinhos como tantos outros interesseiros e mesquinhos, que veem apenas a oportunidade de se dar bem, tendo no náufrago a percepção de uma arma que pode ser usada a seu favor. Não foi o que aconteceu? Imaginem só, desejaram até furar o olho de Gulliver para que sua vontade fosse guiada apenas pela vontade do rei, a sua ideologia...
Já na terra dos gigantes, percebemos o bairrismo e desconsideração a tudo que não faça parte de sua realidade, tratada com desdém, como algo qualquer, sem o reconhecimento de seu valor, num estilo Trump, de megapotências em seu imperialismo sobre tudo, como desejam e acham.
O inusitado marinheiro vai parar também em países (ou terras) que remetem a racionalismo científico e devaneios ilusórios. Não me preocupo com os respectivos nomes, cada coisa estrambólica... Mas a mensagem não é difícil de perceber, bastante reconhecível. Em que? No apego à ilusão e cientificismo, sem disposição de ação, de trabalho. Em Laputa faltava labuta (não é que deu para fazer um trocadilho). Provocavam miséria aos cidadãos procurando viver a custo dos outros com suas desculpas e motivações inventadas para seus fins. Uma miséria com desculpa científica e apego a ilusão. Na verdade, nas duas terras, existia muito ócio.
O país dos cavalos, assim como aconteceu com vários leitores, é minha parte favorita também, tornando notório o saber e o trabalho, com justiça social, para o progresso, algo que faltou aos Yahoos (os homens com primitivismo de interesses essencialmente egoístas e materialistas).
Essa adaptação não expõem, mas o livro na versão original ressalta também o contexto altamente sexualizado entre os Yahoos (Gulliver chegou a ser "atacado" por uma jovem).
A parte dos imortais também não foi muito explorada, no paralelo à existência sem qualidade de vida.
O livro não se resume nisso, mas estas coisas também fazem parte.
Na minha percepção, Gulliver é também um exemplo negativo, não transformando as descobertas em conhecimento que o melhore como pessoa. Acaba demonstrando muitas coisas pelas quais teve repulsa. Bairrismo, desprezo pelo próximo e interesses egoístas.
Na subjetividade do livro, é o que me revelou...