Paulo Silas 12/02/2018O clássico "As Viagens de Gulliver" traz ao leitor uma história de fôlego, repleta de relatos de viagens feitas pelo protagonista da obra. O livro encanta, principalmente ao considerar as peculiaridades das ilhas e seus habitantes que são descritos nos vários capítulos que o compõem. É narrado como fossem anotações que escritas em forma de relato das diversas passagens por lugares excêntricos a que passou o personagem principal - responsável pela narrativa. Enfim, é uma literatura atemporal que se justifica assim ser através de suas notáveis linhas.
O livro conta a história Lemuel Gulliver, narrado pelo próprio, que se aventura em diversas viagens desbravadoras de novos lugares. Por ter estudado medicina, seus conhecimentos enquanto cirurgião são úteis à tripulação de um navio. Daí que surgem oportunidades para rumar para novos lugares. Deixando esposa e filho em casa, Gulliver promete o retorno após suas necessárias aventuranças. Assim, parte para o desconhecido.
Sua primeira viagem conta com um naufrágio. É partir desse episódio que Gulliver inicia o contato com o primeiro dos quatro mundos que conhece ao longo da história. A ilha de Lilliput é habitada por seres minúsculos. Tudo é diminuto. O protagonista, após conseguir se salvar do naufrágio, desperta na ilha amarrado ao chão. Vários seres pequeninos o prendem, receosos com a presença daquele gigante na ilha. Aos poucos, o contato vai sendo firmado - tal qual em todos os lugares que Gulliver acaba visitando - e a confiança vai sendo estabelecida. Muito se aprende com aqueles pequenos seres.
Após um período de convivência naquela ilha, Gulliver consegue retornar à sua terra (Inglaterra), lá permanecendo até que surja outra oportunidade de viagem. Todas as outras três grandes viagens que realiza se dão nessa mesma dinâmica: partida, período de vivência num lugar novo e peculiar, e o feliz ou triste retorno para o seu lar.
O segundo mundo conhecido por Gulliver, Brobdingnag, é habitado por gigantes, onde o personagem é inicialmente acolhido por uma família simples que passa a lucrar com sua exposição ao público, sendo posteriormente vendido para a família real, quando passa então a viver com um pouco mais de luxo - em que pese as diversidades que enfrenta todos os dias, tal como o anão da família real e os insetos gigantes que o atormentam.
A ilha flutuante de Laputa é o terceiro destino de Gulliver, onde encontra diversos habitantes absortos em suas próprias pesquisas e feitos, os quais acabam solapando o contato com o mundo em que vivem, passando ainda por Balnibarbi, Luggnagg, Glubbdurdrib e Japão.
Finalmente, a última estada de Gulliver é no país dos Houyhnhnms - seres que são cavalos dotados de razão. Nesse mundo, o domínio é exercido pelos cavalos, os quais possuem extrema inteligência e conduzem sua sociedade de modo louvável e invejável. Convivem nesse lugar uma espécie de humanos: os yahoos, que são bestas em formas humanas -com características semelhantes às da sociedade de Gulliver. Esse último retorno do protagonista para sua terra é fatídico, pois reluta ao máximo ter que deixar aquela terra graciosa dos "cavalos pensantes". Vergonha, desgosto e até mesmo nojo passam a ser sentidos por Gulliver quando retorna em definitivo para o seu lar, uma vez que acostumado com o modo de viver dos Houyhnhnms, vê em seus pares, os humanos - incluindo sua família, a pior das bestialidades e mediocridades possíveis.
O livro agrada bastante qualquer leitor. Em que pese sua linguagem seja fácil e acabe fluindo bastante, há vários pontos que são desgastantes pelo excesso de descrições - o que é feito de um modo próprio -, tornando a leitura arrastada em algumas partes. Atribuo isso ao estilo de escrita que segue a obra, ou seja, por se tratar de uma narrativa em forma de "relatos de viagem", essa forma de se contar a história é característica do próprio estilo - agradando alguns leitores mais do que outros. Ainda assim, como já pontuado, a leitura é agradável e envolve o leitor.
Além de proporcionar o prazer da própria leitura e dos diversos mundos fantásticos presentes na obra, o livro carrega reflexões críticas da sociedade europeia (principalmente da Inglaterra, segundo consta) do século XVIII - muitas das quais também presentes na atualidade e com maior abrangência. Isso é perceptível nos diálogos que o protagonista trava com os diversos habitantes dos lugares que visita, bem como em suas autorreflexões.
Um livro de fôlego. Vale a leitura!