Paulo Sousa 01/03/2017
Trilogia Nova York
Livro lido 7°/Fev//13°/2017
Título: A Trilogia de Nova York
Título original: The New York Trilogy - City of Glass, Ghosts, The Locked Room
Ano de publicação: 1986
Autor: Paul Auster (EUA)
Editora: @companhiadasletras
Páginas: 342
Minha classificação: ??????????
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Junte mistério, detetives metidos a filósofos, rotina de escritores famosos e anônimos, jogos intrincados de intrigas, desaparecimentos e morte, somando-se a isso, reflexões profundas sobre a própria identidade, tudo isso ambientado nas ruas de Nova York. Esses os ingredientes utilizados pelo escritor norte-americano Paul Auster nessa sua "A Trilogia de Nova York", que acabo de ler. Até então, Auster figurava na minha lista de futuras (e improváveis) leituras. Resolvi passar o livro à frente de outras leituras em andamento não somente por se tratar de um romance policial bastante elogiado, mas principalmente pelo primor e beleza da capa, concebida por Art Spiegelman, autor do clássico HQ "Maus".
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Para minha surpresa, concluída a leitura, estou simplesmente maravilhado com a escrita de Auster, concebida com uma elegância, um dinamismo que te faz devorar às paginas quase que num fôlego só. A beleza plástica das sentenças, as referências a outros romances importantes( as citações de Paraíso Perdido, de John Milton, Walden, de Thoreau entre outros, são notáveis) mostrando o quão cosmopolita é a visão do escritor, e as tramas, embora independentes, ligadas de uma forma assombrosa com perfeição ímpar, tudo isso sem perder aquela aura de mistério e suspense obrigatórios num romance deste gênero.
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Como o próprio título diz, A Trilogia de Nova York divide-se em três contos, Cidade de Vidro, Fantasmas e O quarto fechado, publicados em meados da década de 1980, mas mantendo uma jovialidade e atualidade singulares. Cada uma das estórias lança o leitor no epicentro de uma trama, surgidas quase que intempestivamente, e a partir daí, acompanha um jogo intricado de pistas, charadas, contra-informações, desembocando no ápice do suspense, quando os personagens, despidos de suas próprias certezas e conclusões, vagam e se perdem a esmo... O que chama muito a atenção é a maneira como cada conto foge do lugar-comum (daqueles que após o leitor percorrer o desenrolar da história recebe como prêmio um desfecho com "final feliz"). Isso não acontece nos contos que compõem esta trilogia.
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Antes, Auster quebra aquela ideia de completude, interrompe a história com tamanha brusquidão, deixando o leitor (de propósito!) perplexo. Particularmente fiquei boquiaberto com tamanha originalidade como findam as três tramas. Desde que passei a ler com regularidade e disciplina, dos romances policiais que passaram por minhas mãos não havia experimentado nada semelhante, nada tão prazeroso de ler. Por isso farei referência a cada um dos contos, o que é mais que justo, tamanha é a qualidade de cada um deles. Passemos a elas.
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Em CIDADE DE VIDRO, um telefonema aparentemente equivocado acaba tirando Daniel Quinn, um escritor menor, de sua letargia literária colocando-o dentro de uma busca alucinante ao assassino que retorna da prisão decidido a se vingar de seu algoz, nada mais nada menos que seu próprio filho retardado. Embora Quinn -- aqui confundido com Paul Auster, um famoso detetive nova-iorquino -- nada entenda da atividade em si, senão o que põe em sua ficção, vê na oportunidade a chance de se passar por Auster e vai em busca de Stillman, um gênio louco que anos atrás faz hediondas experiências com o próprio filho, Peter. Quinn, ou melhor, Auster, passa a acompanhar cada passo de Stillman-pai, até que, ao perder a pista dele, algo acontece com o próprio Quinn...
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Em FANTASMAS, Blue é contratado para seguir White a pedido de Black, e partir daí a vigilância do detetive pelas ruas de Nova York levam-no a descobrir que aquele a quem ele vem vigiando de sua janela é, na verdade, quem iniciou essa empreitada, levando Blue a tomar uma decisão no mínimo perigosa...
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O último conto, O QUARTO FECHADO, um escritor menor reconstrói a vida de Fanshawe, com mais talento que aquele e seu amigo de infância que misteriosamente abandona a esposa às vésperas de dar à luz o filho do casal e desaparece sem deixar pistas. O mesmo, antes de sumir do mapa, deixa uma grande quantidade de documentos, na verdade manuscritos de romances e poemas geniais, que logo são publicados levando Fanshawe a uma fama improvável. Porém, boatos de que o autor de "Neverlands", um dos romances deixados jamais teria existido, faz com que seja dada início à reconstrução dos passos de Fanshawe e seu paradeiro desconhecido...
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Três contos distintos, porém com uma interligação estreita. Todos levam inevitavelmente os personagens à gradual perda da própria identidade ou mesmo a uma grotesca simbiose, uma mistura das personalidades, tornando impossível distinguir quem é quem e quem é o outro. A escrita soberba e maravilhosa de Auster me levaram a inclui-lo -- sorte minha -- entre meus escritores preferidos.