GuisoloGui 12/01/2023
A Roda do "Progresso' em Gabriela
De maneira surpreendente o livro utiliza o romance entre os protagonistas apenas como pano de fundo para que Jorge Amado narre, de maneira que lhe é peculiar, as mudanças sociais ocorrida na cidade baiana de Ilhéus. O autor utiliza a dualidade por todo o texto, sempre confrontando os antigos costumes de uma sociedade dominada pelos fazendeiros de cacau, contra o desabrochar de uma sociedade ligada ao comércio, tida como mais "progressista".
Gabriela a protagonista é alma livre, não se deixa prender sob a algema de nenhum desses costumes, sejam novos ou antigos, segue seus desejos de maneira natural, sem se envolver com esse conflito político, passando por ele apenas como uma alegoria, os personagens desistem de tentar entender a bela e não serei eu a faze-lo, Gabriela está ali e isso basta, podemos vê-la mas não entende-la. Por isso velhos dizeres como "lealdade" não se encaixam em seu modo de vida.
Essa resenha não tem começo e nem final, Jorge Amado nos entrega outra bela história, com personagens similares aos encontrados em cada cidade pequena, com isso traça um perfil da camada social de Ilhéus, daquela época, de maneira crítica e clara mas jamais moralista. Amado consegue demonstrar que os ciclos de substituição dos costumes não cessam, Coronel Ramiro da lugar a Mundinho Falcão, que por sua vez será substituído por outro, tão logo seu tempo de progresso se torne comum e passe a ser visto, por outros, como atraso.
Caso alguém se interesse, o tempo histórico dessa obra é posterior ao tempo descrito na obra, do mesmo autor, Cacau, valendo a leitura para compreender e seguir a jornada do ciclo do cacau na Bahia.