Milla 18/12/2012www.amorporclassico.comSerá que consigo transmitir para vocês tudo que Jorge Amado escreveu em Gabriela, Cravo e Canela?
Depois de longo tempo sem ler/resenhar clássicos, trago um livro da melhor qualidade para iniciar este mês de julho. Em seu romance, Gabriela Cravo e Canela, Jorge Amado usou Ilhéus como cenário de uma trama rica, bem elaborada e bem amarrada. A narrativa, em terceira pessoa, aborda três circunstâncias paralelas.
O assassinato de Osmundo e Sinhazinha, pelo traído Jesuíno.
A disputa política entre Ramiro Bastos e Mundinho Falcão.
O envolvimento de seu Nacib e Gabriela.
Ilhéus é uma cidade em notável progresso, comandada há vinte anos por Ramiro Bastos, um homem respeitável, mas que acha que governar é calçar ruas e fazer jardins e não é adepto a algumas modernidades. Para lhe fazer oposição nas próximas eleições surge Mundinho Falcão, exportador de cacau vindo do Rio de Janeiro que tem investido no crescimento da cidade.
Mas o ano é 1925 e um homem traído só limpa sua honra se matar sua esposa e o amante, e é esta atitude que o coronel Jesuíno toma a respeito de Sinhazinha e o dentista Osmundo. O coronel é levado a julgamento, mas todos sabem que é mera formalidade porque certamente ele será absolvido.
O ponto de encontro de todos os personagens é o bar Vesúvio, administrado pelo árabe de nascença e grapiúna de vivência, seu Nacib. Entretanto sua cozinheira e arrumadeira decide cumprir uma antiga promessa de ir embora e ele se vê desesperado por encontrar uma substituta porque no dia seguinte ele tem uma encomenda de jantar para trinta pessoas. Buscando daqui e dali sem encontrar, ela acha no mercado de escravos Gabriela, imunda de poeira e rindo a toa como uma lesada e decide arriscar levá-la para casa.
Em casa, após um banho, ele descobre que Gabriela é uma linda mulher, cheiro de cravo e cor de canela. Gostosa na cama e excelente cozinheira. Mas ele se vê inquieto porque todos querem-na, ele tem medo de perdê-la e não pode se casar com mulher sem origem. Que fazer?
Já disse: é um livro riquíssimo, mas devo acrescentar que é bem lento.
A própria Gabriela demora mais de 50 páginas para aparecer e os desvios do romance principal para abordar outros acontecimentos muitas vezes podem parecer cansativos para quem está acostumado com literatura fast food.
Gabriela é uma personagem indescritível, próxima a qualquer coisa de inexplicavelmente perfeito, que nos encanta e apaixona.
Os personagens são tão populares que vamos lendo e sorrindo por identificar um corriqueiro costume ou outro. Além de entretenimento, Gabriela Cravo e Canela nos oferece um mergulho na cultura cacaueira (para nós que só estudamos política café com leite) e nas mudanças ocasionadas pelo "progresso" em cidades cuja política se limitava ao coronelismo. Conhecemos costumes antigos que se tornaram obsoletos e outros que permanecem até os dias atuais.
Acho que ler Jorge Amado nos possibilita ler sobre o passado em perspectivas atuais. É um livro que recomendo sem receios, apesar de algumas passagens mais picantes, características da segunda fase da escrita do autor.
Você sabia? Os padrões de beleza estética sofreram uma mudança. Em 1925, por exemplo, uma mulher para ser bonita precisava ser robusta. Após ficar evidente que gordura não é sinal de saúde, nossos padrões começaram a exigir magreza das mulheres. Por isso na novela as mulheres são magrinhas, enquanto no livro são todas carnudas.