Leonardo798 22/07/2023
Olhar o passado para compreender o presente.
É um livro que cumpre sua proposta, de fácil compreensão e importante para, em um primeiro momento, compreender como funcionava o sistema feudal na Europa, seu apogeu nos séculos XI e XIII aliado ao imensurável poder da Igreja Católica e queda, com a ascensão do comércio e as classes burguesas.
Léo Huberman descreve, com riqueza de detalhes, toda a estrutura de funcionamento do sistema feudal, onde os donos de terras faziam suas próprias leis e direcionavam os rumos econômicos e políticos dos reinos. Quem não possuía terras, trabalhava para esses senhores feudais em suas áreas de plantio, cuidando, plantando, arando e colhendo.
A Igreja Católica foi atuante em todo esse período, sendo um poder ainda maior que os senhores feudais e, posteriormente os reis. Era dona de nada menos que um terço de todas as terras europeias e sua vontade era lei. Seu poder político e econômico era tamanho que até mesmo superou sua importante religiosa.
Os comerciantes foram surgindo aos poucos, e com eles algumas cidades (burgos) onde se instalavam e vendiam seus produtos. Este é um ponto importante do livro, pois com a ascensão do comércio, nasce a classe burguesa e os reis. A partir daqui o sistema feudal começa a entrar em crise, pois muitas pessoas saíram dos campos rumo as novas cidades, que ofereciam novas tecnologias e formas de emprego.
Os reis surgem em um contexto da necessidade de um poder central, já que os comerciantes muitas vezes eram roubados nas estradas, não possuíam organização política nem militar etc. Portanto, este poder mais centralizado apareceu como uma forma de organização, sendo que os reis não tinham muito poder, sendo dependentes das vontades do clero e dos comerciantes mais abastados.
Prosseguindo, o livro nos leva também para o surgimento dos primeiros bancos, onde estes surgiram em um contexto apenas de guardar dinheiro para seus clientes, mas que com o tempo, começaram a ganhar lucros sobre isso, financiar guerras, invasões etc. Prática que foi condenada pela Igreja Católica, que viu seu monopólio ser ameaçado.
O livro também nos leva para Revolução Industrial e Revolução Francesa no século XVlll, onde a primeira foi ocasionada pelo crescimento industrial na Inglaterra aliado ao acúmulo de capital. A segunda, foi ocasionada pela insatisfação com o sistema absolutista francês e as contradições do clero, que tinham muitos privilégios enquanto os pobres pagavam muitos impostos. Aqui se deu o fim definitivo do sistema feudal, a ordem da Igreja Católica e o início da era industrial, que trouxe consigo o sistema de acúmulo de dinheiro: o capitalismo.
O sistema capitalista, novo modelo econômico vigente na Europa, trouxe consigo diversas contradições. Com o fim definitivo do feudalismo, os camponeses deixaram os campos rumo aos centros urbanos, onde as novas fábricas estavam instaladas. Mas sem as terras, o que essas pessoas poderiam oferecer em troca? Para o capitalismo, somente seu tempo livre, e isso é mais que o suficiente. No entanto, nos primórdios desse novo sistema, não havia nenhum limite para o tempo de trabalho, os salários eram baixos e as pessoas passaram a morar em locais insalubres. A exploração do homem pelo homem passou a ser regra.
Na segunda metade do século XIX, Karl Marx observa essas correntes do capitalismo e desenvolve sua crítica, fazendo as pessoas refletirem as contradições que o capitalismo trouxe consigo e suas injustiças. Até hoje, forças que detém o capital tentam o desmentir, mas isso não passa de medo de que um dia os trabalhadores se unam e busquem novas perspectivas.
Neste gancho, o Huberman cita a Revolução de 1917 na Rússia, onde o czarismo cai para os bolcheviques em um movimento com certas semelhanças da Revolução Francesa, onde os monarcas possuíam muitos privilégios enquanto a os camponeses ardiam de fome.
Por fim, o livro se encerra citando a crise do capitalismo na primeira metade do século XX, onde a Europa se mergulhou em duas guerras mundiais e os Estados Unidos amargou a crise de 1929. A burguesia europeia com medo do que aconteceu com a Rússia em 1917, financiou na Itália os Camisas Negras de Mussolini e os Camisas Pardas de Hitler na Alemanha. Huberman encerra seu livro expondo que o capitalismo em momentos de crise, recorre a guerra. A ascensão do fascismo e do nazismo nada mais foram que uma resposta das elites para manterem a ordem do capital funcionando.