Alle_Marques 24/12/2023
A Família Que Salvou a Minha Vida
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[...] “Ah, é verdade, mas não é só disso que eles precisam. Se alguém desse de comer a você, mas não limpasse o seu corpo, não cuidasse da sua saúde nem demonstrasse o menor amor, como é que você se sentiria?”
“Alimentada.” [...]
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Acabou sendo bem melhor do que eu esperava, comecei sem grandes expectativas, mas a história avança e se mostra interessante.
É uma leitura rápida e fácil, a autora tem uma escrita sensível, leve e fluida, trabalha bem em cima das situações que desenvolve e constrói uma história interessante, profunda, que transita muito bem entre os temas pesados e os respiros de alivio. O livro aborda bastante assuntos difíceis, como os traumas, as deficiências, a guerra e o sofrimentos, mas faz isso de forma responsável e realista, além de também transitar entre temas mais leves, como a recuperação, a amizades, a infância, o significado de família e as relações saudáveis. No geral, é um romance de formação bom, bem feito e original, com uma história interessante e profunda, e personagens bem desenvolvidos e fáceis de gostar.
A Ada é um bom exemplo disso, seu desenvolvimento ao longo da obra é realista e sensível, e a forma como ela supera os obstáculos é bem feita e funciona, não cai no moralismo forçado que deixa tantos outros livros semelhantes parecendo mais autoajuda e discurso raso de superação, ela também é bem coerente, é uma criança traumatizada que age como tal, uma criança profundamente ferida e que foi impedida de viver desde que nasceu, logo, é uma criança insegura, prevenida e com medo até da possibilidade de ser feliz, e é justamente nesse pequenos detalhes, tão sensíveis e bem feitos, que a historia mais se fortalece. Mas além da protagonista, os outros personagens também são igualmente complexos, bem feitos e cheios de pequenas e grandes nuances, Jamie é adorável e fácil de gostar, além de funcionar muito bem como um apoio emocional da irmã, a Susan é cheia de camadas, humana e tão apreensiva com a vida quanto a própria Ada, vai ver por isso elas se complementam tão bem, já as interações entre os três é ótimo de acompanhar, mesmo quando eles não estão nos melhores dias, é um dos pontos altos do livro.
Porém, ele poderia ser bem melhor em muitos momentos, especialmente no final, nesse aspecto ele deixa a desejar, é clichê e conveniente demais, além de meio previsível, na maneira como foi feito pelo menos.
Outro ponto que não funcionou pra mim foi o título, não consegui simpatizar com ele, é chamativo e atrai, verdade, mas a simples ideia de que qualquer coisa boa possa vim de algo tão horrível é simplesmente assustador e incomodo, parecem mais aqueles discursos fajutos de adultos feridos como o “apanhei e sobrevivi” ou “sou gente hoje por causas das surras que levei”, e mais um monte de besteiras similares, ainda mais quando sabemos que não foi a guerra que salvou a Ada, foi o afeto, o amor, a paciência e o chance de um recomeço saudável, foi a Susan, afinal, mesmo com a guerra e a fuga da mãe, caso a Ada e o Jamie fossem parar nas mãos de outras pessoas, adultos ruins, negligentes e que os deixassem a própria sorte, nesse caso, o título ainda poderia ser o mesmo?! Ainda faria sentido a guerra tê-los salvado?! Claro que não.
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28° Livro de 2023, 39ª Resenha de 2023
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