spoiler visualizarThiago Barbosa Santos 20/06/2021
A vida como ela é
Meu primeiro contato com Nelson Rodrigues foi através do futebol. Não sou contemporâneo dele, mas sempre ouvi boas referências sobre as crônicas do exímio escritor, de como descrevia o futebol de maneira apaixonante, mágica. Não é exagero algum dizer que ele foi um dos grandes responsáveis por fazer com que esse esporte fosse adorado com tanto fervor pelo brasileiro. Ele criava cenas em nosso imaginário quando praticamente não havia imagens do jogo. Fez história na crônica esportiva.
Mas também foi extremamente importante em outras áreas, como o teatro, com peças famosíssimas, que ajudaram a moldar o teatro moderno brasileiro.
Ainda menino, me lembro de uma série dentro do Fantástico intitulada A VIDA COMO ELA é, dirigida por Daniel Filho e inspirada no livro homônimo de Nelson Rodrigues.
Na verdade, essas crônicas da vida real, do cotidiano, descritas sempre com um nível absurdo de excelência, eram publicação em jornais famosos da época, e posteriormente foram reunidas em livro.
Esta edição que eu li é da editora Nova Fronteira e reúne as 100 crônicas mais famosas da série.
As histórias são compostas do mais puro cotidiano, com a mais pura crueza da vida real, com dramas, amores, traições, tragédias e tudo o mais. É uma leitura extremamente prazerosa e ao mesmo tempo impactante.
O cardápio é completo, tem a tragédia da mulher largada pelo amante, que não quer largar a família por aquela aventura passageira; o noivo que descobre que a noiva, que constantemente adiava o casamento, tinha era um outro amor; a mulher que tinha fascínio pela morte e morreu com pouco tempo se casada, afetando inclusive a sanidade mental do marido; a família que entra em ebulição quando um membro se envolve com a cunhada caçula, de 17 anos, mas foi a própria que tomou a iniciativa; a esposa, que parecia fiel e perfeita, confessa uma série de traições; o homem que deu em cima da viúva rica, casou-se com ela só pelo dinheiro. Dava-lhe amor, que para ela valia em troca da exploração financeira e das surras e traições; o homem que se regenerou completamente após o casamento, mas que fugiu de casa no dia no nascimento do filho, sendo encontrado apenas 12 anos mais tarde como artista circense; a moça que enfrentou a família para se casar com seu grande amor, que tinha um jeitinho afeminado; o marido que vivia o casamento perfeito até a esposa adoecer e, perto da morte, tendo alucinações, chamar por um tal de Euzébio. Na missa de sétimo dia, o marido, com orgulho ferido, foi armado, ao fim, recebeu os cumprimentos de todos, até chegar um desconhecido e se apresentar como Euzébio. Foi o tempo de saírem da igreja para tomar três tiros e morrer; o rapaz que foi criado entre as mulheres e gerou preocupação no pai, que antes de morrer, pediu para o médico e amigo arranjar um casamento para ?salvar? o filho, que no dia do casamento, vestiu-se de noiva e se enforcou com o véu; o homem que só aceitava se relacionar com mulheres casadas, bem na vista dos maridos bobalhões; a sogra megera que quase acaba com o casamento do filho, mas quando morre repentinamente, reascende a chama daquele amor; o cara que se apaixonou pela esposa do amigo de infância e sequestrou o filho do casal para obrigá-la a transar com ele; a história da moça jovem que engravida, os suspeitos são o irmão adotivo e os cunhados. O padrasto, moralista, tenta descobrir quem foi, chega ao filho solteiro, dá-lhe uma surra e o força a casar. Contudo, ele próprio era o abusador, quando o filho descobre e cobra satisfações, o velho se mata; a mulher que descobre o amante rico da mãe depois que ela morreu, o marido chantageia o ricão e lhe extrai dinheiro pelo silêncio, ele cede às pressões mas vaticina que o chantagista será traído pela esposa. O moço não pensa duas vezes e joga água quente no rosto da mulher enquanto ela dormia; a moça que, contra tudo e contra todos, casou-se com um rapaz mulherengo, boêmio é sustentado por uma velha rica. Aos poucos, veio a desilusão com o casamento e ela descobre que o marido passou uma doença para a velha e talvez para ela também. Separa-se dele e volta para a casa dos pais. O marido fica em casa, desolado, com medo das consequências da doença. Até que a cunhada, que o odiava por ter tirado de casa a irmã, ela própria saiu de casa e foi cuidar e ser mulher dele; a mulher que é tentada o tempo inteiro a trair o marido, até que cede e comete o adultério. A filha, louca pelo pai, lhe dá um copo de veneno e diz, ou você bebe ou eu. A mulher não teve outra saída a não ser beber e colocar fim à própria vida após ter descoberto carícias que jamais conhecera; a esposa que casou-se e com o tempo começou a se desiludir com as atitudes do marido. Mesmo sabendo que era traída, nunca o traiu, mesmo tendo a oportunidade. Um dia, apanhou e a filha a sacudiu mandando largar aquele homem; a moça que nem comia, era desmilinguida, rosto pálido e saúde débil, arranjou um namorado que era fascinado pela morte e sonhava vê-la morta só para contemplá-la. A moça, quando já estava nas últimas, se escondeu para morrer em um local escondido para que ele não achasse. Foi encontrada dias mais tarde, quando o mau cheiro chamou a atenção. O corpo já estava putrefato; a mulher fiel que sempre batia no peito e sentia orgulho de dizer que nunca traiu o marido. Ele tinha a saúde frágil, de asmático, e morria de medo da mulher, que era uma fera. Um dia, ela começou a receber mensagens de um admirador secreto, ficou indignada, se encheu de fúria. Desconfiava de um rapaz fortinho que jogava vôlei de praia. Recebeu flores, sem nenhuma mensagem. Mais tarde, o marido chegou alegre, havia ganhado no bicho, mandou flores para ela, que o descompôs e chorou copiosamente por ter sido ele; Chagas, recém casado, confessa ao amigo que trai a esposa. Depois, tenta forçar a união deste amigo com a cunhada, eles acabam se casando, mas a cunhada, na noite de núpcias, acaba repelindo o marido e dizendo que não pode ser de dois homens ao mesmo tempo, tentou, mas não conseguiu. Não revelou o nome do seu amante, e a irmã disse que admirou a atitude dela, sem saber que o amante da irmã era o próprio Chagas; o doutor que é apaixonado por crianças, larga a profissão, a boa posição social, para montar um orfanato. Ganha ainda mais respeito da sociedade, é chamado de santo, mas depois se descobre que ele abusava de todas as meninas e tinha feito vários ?anjinhos?; o homem que não sabia como se livrar da namorada, que apesar de bonita, era pegajosa e o controlava em tudo, ficou doente e ela mostrou um frasco de veneno, que tomaria para que morressem juntos, ele morreu de pavor com essa possibilidade de, nem na morte, conseguir se livrar dela; um homem recebe um diagnóstico e, se não se tratar, ficará louco. Adorou a possibilidade, fascinava-o a ideia de ser totalmente livre, pois os atos de um louco não são julgado, beijou uma moça casada que o atraía, mas logo a matou enforcada, já estava louco, foi preso; o rapaz tinha seis dedos, tentava esconder da pretendente sempre com as mãos no bolso, mas ela conseguiu descobrir e o rejeitou. Ele se matou, mas antes, cortou a mão com os seis dedos e enviou para a moça no dia do casamento dela, que nunca mais quis saber de ninguém; o marido que descobre a traição da mulher com um amigo, faz o flagrante e, armado, manda-o pagar a esposa pelo serviço e ir embora, fincou o dinheiro na parede da cozinha com um facão, a mulher nunca mais teve apetite e morreu anêmica, foi enterrada com a nota; o rapaz que queria uma noite de núpcias perfeita, pois um amigo havia dito que ela seria decisiva para o futuro do casamento, porém a noiva comete suicídio, jogando-se do 12º andar onde estavam hospedados; depois do sétimo filho, o casal começa a entrar em crise, a esposa se acha acabada, mas quer dizer ao marido que ela ainda vale muito, até que o trai com um primo do esposo que estava passando uma temporada na casa deles. Ao fazer o flagrante, o marido, com um revólver, diz que o parente é quem vai sustentar os sete filhos a partir de agora, se se um passar fome, ele morre, e saiu de casa; um homem alerta o melhor amigo que a mulher dele o estava traindo, quando consegue a prova, o marido traído mata o melhor amigo porque contou, não o deixou iludido, destruiu sua felicidade; um casamento que parecia feliz, mas depois descobre que a esposa o traía, então passa a traí-la com uma prostituta, que não lhe cobra pelos serviços amorosos, pois gosta dele, achou mais honestidade nesta moça e um dia, bebado, durante festa na casa do sogro em que o amante da esposa estava presente, chutou o balde e chamou a amante prostituta para a festa, mandou todos ao diabo e disse que aquela, a partir de agora, era sua esposa de fato e de direito; depois de 25 anos de casado, o marido confessa ao amigo que nunca traiu a mulher. O amigo arma um plano e, depois de muita insistência, o convence a fazê-lo. Foi uma descoberta, não parou mais de traí-la. E no dia da festa das bodas, com a família toda reunida, chutou o balde e disse que não ficaria mais com aquela megera. Na saída, o namorado da filha tentou convencê-lo a não fazer essa loucura. Ele aconselhou-o a dar um chute na bunda da própria filha, que ela havia herdado o gênio da mãe; o rapaz vadio enrola a noiva, vai adiando a data do casamento e usa como desculpa a mãe que está doente do coração. Não quer arrumar emprego, até que a noiva, cansada de esperar, vai falar com o médico da sogra, que desmente a doença da velha. Sai do consultório indignada e morre atropelada; o cara que arrumou um amigo rico e se apaixonou pela esposa dele. O amigo, sem saber que seria traído, emprestou o próprio apartamento, onde se encontrava com a amante, o cara disse e a mulher ficou radiante ao saber que trairia o marido no apartamento onde ele a traía. No encontro, pesou a consciência do cara, que empurrou a mulher e disse que não faria isso com o próprio amigo, e que ela era cínica ao querer trair o marido no apartamento dele; na outra história, o cara consegue uma amante perfeita, mas uma coisa o intriga, como ela trai o marido sem o menor remorso. Até que um dia, ele se espanta ao ver a moça enganando o marido pelo telefone, larga dela, não quer saber mais de mulher, até não querer saber mais da própria vida; a moça que casou sem amor, apenas para ter filho, descobre, depois de muitas frustrações, que o marido era infértil. Tomou a providência dela e engravidou, o marido disse que amaria aquela criança como se fosse seu próprio filho; depois de meses de namoro, o rapaz pede um beijo para a namorada, que fica indignada e diz que não é uma qualquer. Aquela reação o encheu de orgulho, sua futura esposa era a mulher mais séria que já conheceu, se gabava para os amigos. Até que a moça morreu de uma hemorragia após fazer um aborto. Isso, ela tinha um caso secreto com um homem casado. Desiludido, o rapaz não queria mais saber de casamento, namorou com várias, até que se apaixonou por uma viúva e casou-se. Porém, ela o traiu, pegou no flagra com um comerciante português na cama. A vingança foi ficar com a mulher dele. Esfregou-a na cara da mulher e a expulsou de casa. Na manhã seguinte, os dois traídos, juntos, estavam vingados, mas ela ainda nem sabia o nome dele; a mulher, cansada do marido perfeito, sereno, calmo, um bunda mole, o trai sem remorso algum. O amante tem a oportunidade de conhecer o traído, acha que ele é um cara maravilhoso, que não merece aquilo e resolve terminar o romance. A mulher, com orgulho ferido, promete vingança. Conta tudo ao marido, que chora e a perdoa. Mas ela diz que ele não pode perdoar o amante, tem que matá-lo. Passa a noite convencendo o marido a cometer este crime. No outro dia de manhã, pega o revólver e a mulher repete, tiro na boca, não perdoe. O homem vira a primeira esquina, se lembra do conselho, coloca a arma na própria boca e puxa o gatilho; o cara que trai o melhor amigo tendo um caso com a mulher dele. De início, vem o remorso, depois, o ciúme doentio do marido dela. A moça, depois de um tempo, diz que só quis fazer uma experiência, pois só o marido havia a tocado, e essa experiência foi a pior possível, dali em diante, somente o marido iria tocá-la. Louco, passou a perseguir a mulher, e o marido, ao descobrir, quebrou a cara do agora ex-amigo; o cara termina o namoro ao saber que a namorada já teve um relacionamento anterior. Apaixonado, arrepende-se e a pede em casamento. Prepara tudo, mas depois ela some e ele descobre que se casou com outro. Meses depois, ela volta e propõe que ele seja amante dela. Espantado, aceita e marca um encontro para o dia seguinte em seu apartamento. Mas quando a moça chega ao local, o encontra enforcado, sai de lá às pressas, assustada, deixando um cheiro bom de perfume; o velho rico não se abstém de gastar o que for preciso para o casamento da filha. O genro é advogado das empresas dele, mas depois que casou, o único emprego dele era ser marido, estar ao lado da esposa e dar um neto para o velho, era exigência dele, tanto que prometeu muito dinheiro para o genro como premiação quando a gravidez fosse confirmada. A moça também desejava ardentemente o filho. Mas o tempo passou e ele não vinha. O advogado fez os exames e recebeu o veredicto, era infértil, não podia ser pai. Escondeu de todos, e tempos depois, a moça apareceu grávida. Foi ao genro buscar o dinheiro, mas exigiu o triplo, pois o filho não era dele, então seria mais caro para evitar o escândalo. Saiu de lá aos berros e tapas do sogro, sem nenhum tostão; o homem que manteve uma vida dupla por anos e anos, convivendo com a família problemática, que o odiava, e com a amante compreensiva e que não queria nada dele a não ser o amor que poderia dar. Cogitou várias vezes largar tudo e ficar com a amante, mas ela insistia que ele não poderia largar a família dele, até o mandava para casa mais cedo para que ele não precisasse manter uma desculpa. Um dia, os filhos descobriram, um deles entrou escondido no quarto deles e disparou um tiro certeiro na moça, matando-a, o pai avançou em cima do filho e só não o matou porque a polícia chegou. O filho ficou preso, ele voltou para casa mas com o ódio da esposa e dos filhos. Nem conseguiu ir ao enterro; o rapaz rico, vagabundo e boa vida, de tanto aprontar, recebeu o castigo do pai, tinha que trabalhar, foi nomeado gerente de uma das empresas da família, nomeou um amigo de farra diretor, mas ambos não faziam nada, só pegavam as menininhas da empresa, até que se deparou com uma, a mais linda de todas, porém muito séria e noiva, casaria no mês seguinte. Não havia jeito de conquistá-la, até que fissurado, transtornado, o rapaz ofereceu cem mil cruzeiros por uma noite no apartamento dele em Copacabana. A moça, confusa, vestiu sua melhor roupa e foi, pediu o cheque antes, mas o rasgou, jogou na cara dele, o esbofeteou e depois o beijou com fúria; o amigo alerta o outro que um cara, com fama de falar mal de todo mundo, estava dizendo que a mulher dele, que era a perfeição de esposa, tinha amantes. Ficou transtornado. No dia seguinte, foi ao escritório do falador e disse que, se ele não provasse, o mataria. Os dois foram juntos a um ponto de encontro da traição e conseguiram flagrar a mulher chegando com o amante em um táxi e subindo no prédio. O falador, aliviado, disse, viu? Consegui provar, estou livre? O outro respondeu que não, ele havia dito amantes, no plural. Queria saber dos outro. O falador disse que não havia outros, só conhecia aquele. O outro disse que o que não poderia perdoar era o plural, deu dois tiros ali mesmo nele; o homem se casou com uma mulher completamente feia, mesmo com o alerta da família e dos amigos. Estava apaixonado. Depois de casado, começou a perceber a fealdade da esposa. Estar com ela era um martírio completo. Arrumou uma amante, a esposa percebeu e jurou vingança. Fez contato com o melhor amigo dele para dar o troco. Sem saber ao telefone de quem se tratava, o rapaz se deixou seduzir. Quando finalmente houve o encontro, ele a rechaçou. Ela se deu conta do quão feia era, humilhada, esperou o marido ir dormir e tocou fogo nele; os dois eram amigos inseparáveis, desde a juventude. Um se casou com uma moça que já havia namorado o bairro inteiro. O amigo não quis se meter. A amizade de fortaleceu ainda mais depois do casamento. Ele ia almoçar todos os dias na casa do casal. A mulher até brincava dizendo que ele era o segundo marido. Tiveram dois filhos, o amigo batizou um e Linhares, outro amigo, o outro. Até que o melhor amigo do casal falou com o marido que a mulher o traía. Ele não acreditou e expulsou-o de seu escritório. A mulher foi saber por que não aparecia mais na casa deles para jantar. Ele disse, ela falou que o que tinha era medo dela, medo de se entregar. Não resistiu e passou a sair com ela, trair o amigo, que um dia foi ao escritório dele para se vingar. Mas foi uma vingança diferente. Disse que ela estava traindo os dois com o Linhares. O amigo ficou inconsolável; a jovem de 17 anos que se apaixonou por um médico de 48 anos, enfrentou a oposição da família e casou-se com ele. O médico propôs que dormissem em quartos separamos, para não quebrar o romantismo. Tiveram dois filhos, contrataram uma babá da idade dela, formosa, que cuidava das crianças como se fossem delas. As crianças tinham devoção pela babá e não ligavam muito para a mãe. Um dia, teve um pesadelo e foi ao quarto do marido, encontrou a babá nua na cama. Indignou-se, exigiu que ela saísse da casa e que nunca mais tocasse nos seus filhos. O marido e as crianças se uniram para proteger a babá, e a mãe saiu corrida do próprio lar; uma mulher da vida mudou-se para a rua com a filha e a babá. A moça era extremamente atraente, chamava a atenção de todos e despertava inveja mas outras mulheres, que também é desprezava pelo falso moralismo. A moça e a filha eram desprezadas, e o pivô disso era uma vizinha megera, que arrumou confusão com uma outra vizinha, que contou por telefone, de forma anônima, umas fofocas para a novata, que ligou para o marido da megera e conseguiu flagrar a megera saindo de um motel com um compadre deles, vingança feita; a mãe ficou indignada quando o filho disse estar namorando uma fulaninha. Na família dela, ninguém prestava, as mulheres todas traíam os maridos. O rapaz não deu bola e seguiu o namoro. A mãe ameaçou cortar relações. Ele não ligou e seguiu em frente, casou-se. Não restou outra tática para a mãe a não ser tratar a nora como uma filha. Foi morar com os dois, até que descobriu que a moça traía o filho com um ex-namorado. Mandou-a embora. O filho, transtornado, disse que sabia de tudo e foi buscar a esposa, pois a amava incondicionalmente. A moça disse que não voltaria porque amava outro, nunca havia gostado dele. No desespero, esbravejou que tinha dinheiro, muito dinheiro, era tudo dela, não adiantou. Até que ele procurou o amante da esposa, que era um malandro, e ofereceu uma grana para ele ir embora, foi e a moça, dois dias depois, voltava para casa, o marido, radiante, repetia que a amava; o cara engata o namoro com uma moça, mas só pode encontrar com ela na casa dos pais e três vezes por semana. O sogro, severo e moralista, não admitia mais. Depois um amigo dele descobriu e contou que nos dias em que ele não ia, estava outro em seu lugar. Um mais rico, que dava dinheiro para a pequena e para a família. Foi tirar a prova, confirmou e tirou satisfação. O sogro o escorraçou e disse que o outro dava bem mais dinheiro que ele, que não passava de um pão duro, um sovina. Indignado, ele mais tarde estava sendo consolado em casa pela esposa e pelas filhas; o rapaz, único homem da família a não ser o pai, era excessivamente mimado desde pequeno. O pai era um médico frustrado. O sonho do rapaz era ser veterinário, amava animais, não poderia ver um abandonado que já pegava para cuidar. O pai o dissuadiu e disse que o caminho seria a psicanálise, fez e mantaram um grande consultório. A primeira cliente foi uma dondoca que estava com remorso de ter queimado um cigarro no olho do gato e o cegado. Ele fez o mesmo com ela e acabou sendo internado; a moça encontrou o noivo perfeito. Diferente do seu antecessor, que a traía. Este era fiel. Asmático, dizia que não podia com uma, imagina com duas. Casaram, mas o rapaz teve uma crise asmática bem na noite de núpcias. Não rolou nada naquele dia nem nos quinze subsequentes. A moça era a infelicidade em pessoa. O marido disse que o médico diagnosticou que o beijo causa crise asmática, então rifou o beijo. Desconsolada, a moça ligou para o antigo noivo, que apesar de cafajeste, sabia amar, e se encontraram; a pequena cidade vivia uma escassez de mulheres. Eram poucas, contavam nos dedos, e todas casadas. Os solteiros até tentavam que alguma cometesse uma infidelidade, mas os maridos eram implacáveis. Uma morreu e todos foram vê-la. O marido, sabendo das intenções, não quis deixar, mas cedeu. Todos a contemplaram e logo depois foram enxotados pelo marido, que não a enterrou, trancou o quarto e carbonizou ele próprio e o cadáver; o rapaz que teve primeiro o problema de vista, depois teve que arrancar todos os dentes e mesmo assim era galanteador. No hospital, com câncer na língua, ainda dedurou a amante, que foi morta pelo marido por causa da traição; as primas amigas, quase irmãs gêmeas, que chegaram a se estranhar por causa de um amor, mas fizeram as pazes, moravam praticamente juntas, uma delas casou com o homem, mas a outra também estava com ele. A esposa não podia engravidar e a outra engravidou por ela. Choraram emocionadas pela graça; o marido perdeu a esposa na queda de um avião. Ficou inconsolável, prometeu vestir luto eterno, já não queria mais nada da vida. O amigo e sócio, para tê-lo de volta, resolveu inventar que a mulher tinha um amante, viajou com ele. O homem ficou indignado, foi para um puteiro com o amigo e, no outro dia de manhã, destruiu o túmulo caro que Havaí feito para a esposa; a mulher que não se conformou com a traição do namorado e disse que só o perdoaria se ele tivesse uma doença grave, para morrer. Ele inventou um câncer, os dois se encontraram, fizeram amor e depois ele confessou ser apenas uma gastrite, o que ela respondeu: ?Bendita gastrite?; a moça pobre se envolveu com rapaz rico por amor. Ele só queria tirar proveito dela. Prometeu casamento somente para possuí-la, conseguiu e não mais a procurou depois de descobrir a gravidez. O pai da moça prometeu tiros se não houvesse casamento. Ele, com medo, aceitou forçado. No dia da cerimônia, disse um sim sofrido, mas a moça se vingou e falou um NÃO categórico; a mulher hesita muito, mas acaba traindo o marido com o melhor amigo dele. Chega tarde em casa, arrependida, diz a ele que agora sabe o quanto o ama, de verdade, e ainda mais. O filho de dois meses chora querendo mamar, ela tenta dar e não consegue, diz que pecou e que o seio dela tem veneno, não pode mais alimentar o filho, pede para o marido arranjar outro seio; o marido tinha uma doença que não podia ser contrariado. A esposa fazia de tudo para não deixá-lo nervoso. Quando contrataram uma empregadinha, de 15 anos, ele se engraçou com a menina. A esposa sentiu falta de umas joias, chamou a polícia e encontraram debaixo do travesseiro da menina. A empregadinha disse que a mulher chamou a polícia por ter raiva, pois o marido dela tinha beijado a menina várias vezes. Na delegacia, o homem chamou a menina de ladra para baixo; o rapaz queria ?alugar? a noiva na véspera do casamento para um ricaço que era tarado nela. A grana oferecida resolveria a vida do casal, mas ela não aceitou, terminou no noivado e se matou de desgosto; o rapaz rico fica doido por uma garçonete que trabalha na cafeteria do pai dele, faz inúmeras propostas, mas a moça é dura na queda, disse que só se entrega a ele com casamento, primeiro diz que não casaria com uma pobre e vagabunda, mas vendo que ela realmente não cederia, topou casar, enfrentou a rejeição dos pais e, louco na noite de núpcias, avançou e ela respondeu que ele nunca tocaria na pobre e vagabunda. O rapaz, desesperado, se ajoelhou e começou a chorar; a moça que se aproveitou da grave doença da irmã para seduzir o marido dela. A esposa disse que, quando morresse, ele poderia casar com qualquer outra, menos com a irmã, mas seria vencida nessa questão, fatalmente; a esposa não suportava a filha bebê que só chorava. O marido assumiu a responsabilidade de cuidar da pequena, enquanto a esposa saía para se divertir. Depois a menina parou de chorar e o marido descobriu que a mãe estava usando e dando cocaína para a menina, no outro quarto, descobriu o amante drogado, só não o matou porque a mulher segurou a bebê no colo e ameaçou matá-la; a moça recebe o primeiro beijo, se apaixona, o cara enjoa dela e finge ser casado, mesmo magoada, estava apaixonada, e resolveu engatar um romance com o rapaz. Marcaram no apartamento do amigo dele a primeira noite. De consciência pesada por desgraçar a pequena, disse que mentiu e não era casado. Ela disse então que se casariam com toda pompa e circunstância; a viúva foi para a casa da amiga passar uns tempos, não saía do luto, até que a amiga e o marido insistiram que ela precisava de um novo amor, seguir a vida. Ela disse que já tinha, mas manteve segredo. O marido morreu e, no velório, a esposa estava inconsolável, até que chegou uma coroa de flores, era da amiga, lamentando a morte do seu novo amor. Ou seja, a viúva realmente arranjou um novo amor, e era o marido dela; a moça que já passava dos 35, arranjou um noivo, que não tinha posição na vida. O pai dela, funcionário público respeitado, arranjou um bom emprego para o futuro genro, mas depois descobriram que ele era casado no Rio Grande do Sul. Foi um escândalo e a moça precisou ser internado porque surtou; uma família miserável, todo ano tinha um filho e nenhum deles queria saber de estudar, eram uns pestes. Até que veio o caçulinha, Joãozinho, que antes de nascer já causava uma impressão diferente na mãe, veio ao mundo, lindo, como um príncipe, mimado por todos, seria alguém na vida. A mãe comprou um lápis para o primeiro dia de aula. Foi, e na saída, desceu as escadas correndo para abraçar a mãe, caiu, rolou pelos degraus e teve o lápis cravado nas narinas, morreu quase que instantaneamente; o casal era feliz, mas a noiva tinha um fantasma, que era a própria, de 13 anos, que já era linda e prometia ser uma mulher de parar o trânsito. Alertou o noivo que jamais admitiria ser traída com uma relação entre cunhados. Todos se revoltaram com o alerta, mas o fato é que o tempo passou e a menina realmente foi atrás do cunhado, o fez de refém, o manipulava, foi um romance doentio. Perturbado com aquela garota e com o que ela lhe provocava, um dia, a matou com um punhal e foi se entregar na delegacia. A noiva passou pelo local do assassinato, foi à delegacia e beijou o noivo com ardor; o rapaz tem fetiche por perfumes, comprou alguns para a noiva, que insistia em não usar, a questão virou um problema quando já estavam casados, e a empregada passou a aparecer perfumada. A mulher quis demiti-la, mas o marido disse que a moça usava o perfume e não sairia nunca da casa; o rapaz seguia os conselhos do pai de não tocar na noiva, pois antecipar essas intimidades tira a graça da coisa, a moça concordava, não se deixava tocar e dizia que o sogro era um gênio, muito sábio. Mas a moça apareceu grávida, o pai aconselhou perdoá-la, mas se vingar do que cometeu tal abuso, sugerindo ter sido um ex da moça. O rapaz o matou e se matou logo em seguida. No velório, escondido, o sogro deu um beijo caloroso na boca da nora e disse que foi melhor daquele jeito, que agora estavam mais tranquilos; o homem penou para conquistar uma bonitona que era casada, e muito séria, segundo ele. Foram meses de investida até conseguir. Convenceu o amigo a lhe emprestar o apartamento por algumas horas, marcou para três e meia mas a bonitona só chegou uma hora depois, dizendo que se atrasou porque o marido demorou para levá-la, e não podia passar mais de meia hora porque ele estava lá embaixo esperando. Como assim? Ele sabia de tudo? Sim, e é ele que acerta os preços, vai ser mil cruzeiros. O homem começa a chorar; a moça, que era noiva, foi advertida no novo emprego pelas colegas que o chefe era conquistador e já tinha dado em cima de todas. Ela era séria e duvidou. Nos primeiros dias, ele foi extremamente respeitoso, depois foi tomando algumas liberdades discretas, bem tímidas, tinha 50 anos e ela 18, mas o velho não avançava nunca. O noivo ficou sabendo da fama do chefe e prometeu a noiva partir a cara dele se tentasse alguma graça. Ela mandou que parasse de valentia. O chefe viu o noivo, forte, jovem, atlético e sentiu a velhice pela primeira vez. Ficou deprimido e evitou a moça, que o procurou dias depois perguntando se estava com raiva dela. Ele, melancólico, disse que não valia nada, era um velho, o noivo dela sim era um homem de verdade. A moça sentou no colo dele e, como a consolá-lo, beijou a boca fervorosamente; a mulher comprou gaiola e depois apareceu com o passarinho. Não queria saber de outra coisa a não ser cuidar dele, o marido já enciumado achava que ela dava atenção mais ao bicho que a ele. Uma vizinha futriquenta insinuou que outro vizinho, o médico Linhares, adorava passarinhos e tinha um viveiro com várias espécies. Linhares era bonitão. O marido recebeu uma carta anônima falando que Linhares estava com tudo. Foi para casa, pegou o passarinho na frente da esposa e o esmagou com a mão, torceu-lhe o bico. Desesperada, ela gritava e dizia que era verdade, que gostava mesmo do Linhares. Ele saiu de casa e, horas depois, sentiu algo na mão, era o passarinho sem bico; o noivo ralhou com a noiva porque viajou no lotação com o Chaves, disse que não era ciumento, mas não queria que ele nem olhasse para aquele cafajeste, que não perdoava nem as cunhadas. Falava tanto sobre isso, e todos os dias, que a noiva começou a sonhar com o Chaves, ligou para ele, passavam horas ao telefone conversando, até que ele a convenceu de encontrá-lo em um apartamento. Ela resistiu, e só foi com a promessa de que ele não a tocaria. Conversaram e ele foi respeitoso, não tentou nada, foi um papo agradabilíssimo, e quando ele mesmo disse que estava na hora de ir embora, ela estacou e o agarrou, beijando-o fervorosamente; o homem não queria de jeito nenhum que a esposa engravidasse, avisou logo antes do casamento. Odiava mulher grávida, ficava horrível. Mas aconteceu e ele praticamente a forçou a tirar. Ela quase morreu, e depois nunca mais quis que ele a tocasse. Meses depois, apareceu grávida de novo, e disse que, desta vez, ele nada poderia fazer. O homem só chorou e disse que a perdoava; o homem era fissurado por mulher, não escolhida cor, tamanho, idade, encarava todas. Achava que era uma doença. Foi ao psicanalista, que disse que ele era normal, um felizardo, é que gostaria que a ?doença? fosse contagiosa e o contaminasse. Saiu de lá querendo atacar todas as mulheres que via pela frente, precisou ser contido, louco que estava; a moça ia casar mas a família toda era contra. O rapaz não prestava, o pai bateu nela e nada adiantou, depois ameaçou o rapaz e ele desfez o namoro. Revoltada, ela virou prostituta e jogou na cara do pai metade do valor do primeiro programa, pois ele era o responsável por aquilo; o homem era casado e marcou um encontro com a colega de trabalho, que era uma moça jovem. Bateu uma crise de consciência e ele disse que não dava mais, tinha uma irmã daquela idade e não poderia colocar a moça em perdição. Ela disse que queria, insistiu, mas ele foi irredutível, apesar de estar apaixonado. Ela, indignada, disse que o que acontecesse com ela seria culpa dele. Um dia, em um bordel, o homem encontrou a moça, que disse que ele era o responsável por ela estar ali, não foi dele, e agora é de todos, mas irá com todos os clientes, menos com ele, que se ajoelhou chorando desesperado; a esposa que perdeu o marido cedo, vítima de uma tuberculose, e teve que criar a filha sozinha. Encheu-se de cuidados, pois a saúde da menina era frágil. Perdeu a beleza sacrificando-se pela filha, a menina cresceu mimada, inconformada de a mãe não ter condições de lhe dar uma vida de luxos, começou a levar para casa bijuterias aos montes, uma mais linda que a outra. A mãe não ligou muito para esse capricho, até um dia descobrir por acaso, através de um primo entendido do assunto, que o material era absolutamente verdadeiro, joia de fato, que existia uma verdadeira fortuna ali, encheu-se de dor e indignação com a conclusão óbvia; a mulher era casada e tinha um ?quase amante?, de quem gostava muito mas não tinha coragem de fazer sexo com ele, apesar da insistência do moço. O marido não merecia aquela traição, dizia, era quase um santo. Então, dali, só haveria amizade mesmo. Até que o dono da padaria onde comprou fiado lhe fez uma desfeita e ela, indignada, pediu ao marido que lhe desse um tiro, o homem quase se borrou de medo com a proposta da esposa, não era de dar tiros, quase se escondeu debaixo da cama. Revoltada, mudou de ideia e marcou encontro com o amante. Mas um velho conhecido a encontrou por acaso, lhe fez uma companhia inconveniente e indesejada e melou tudo. Chegou até a levar a moça em casa. À noite, ela se entregou ao marido com toda a volúpia que não pôde gastar com o amante; a moça guardava com carinho a imagem do pai já falecido que era calvo. Acho que por isso, amava, era fissurada por uma careca masculina. Um dia, viu um guarda de trânsito careca e ficou fascinada, disse ao noivo que preferia que ele fosse careca. Houve briga, desentendimento, mas por fim casaram-se. Ainda no carro, vestida de noiva, encontrou aquele guarda, desceu, saiu correndo como uma assombração nupcial e beijou calorosamente a careca do guarda; o malandro queria vida boa e não sabia mais de onde tirar dinheiro, tinha tudo para vencer na vida, um pai rico, que o fez se formar em medicina, mas ele mesmo nem sabe como se formou, não sabia nada da profissão, o amigo deu a ideia de abrir um consultório para ganhar dinheiro, mas como? Seria preso, não sabe nada de medicina apesar do diploma. O amigo sugeriu a psiquiatria, só conversar por uma hora e pronto. O pai do rapaz, que não daria dinheiro para farras, investiu orgulhoso no consultório, que tinha luxo e pompa. Demorou para aparecer a primeira cliente, veio, uma viuvinha que perdeu o marido na lua de mel, foram sessões e mais sessões, horas de conversa e ela melhorou, a família da moça o achava um gênio, promoveu um milagre, a moça se apaixonou por ele, caiu no xaveco; o rapaz casou com a moça por puro interesse, ela era rica, nem calculou se a noiva era feia ou bonita, mas o tiraria da lama. Viveu uma vida de luxo, de conforto, mas também de humilhações, ela era avarenta, controlava o dinheiro e também o marido em tudo. Não estava feliz. A esposa havia contratado empregadas ?pretas? para evitar o interesse do marido. E entre elas havia uma que saiu de Rainha de Sabha no Carnaval, era linda. O marido se apaixonou e no dia do aniversário dele, depois de receber um baita cheque do sogro para viajar com a esposa, o rasgou, disse que pediria o divórcio e se casaria com a criada; o cara descobriu que o amigo estava saindo com a mulher dele. Não o matou, disse que amava tanto a esposa que não seria capaz de provocar-lhe esse sofrimento. Mas disse que toda vez que encontrasse o amigo, lhe cuspiria na cara. O outro, resignado, aceitou, nem desviava o rosto e já tinha um lencinho especial para enxugar. Um dia, em um velório, chegou a implorar para que ele não lhe cuspisse ali, em público, naquela ocasião fúnebre. Nada adiantou. Humilhado, foi para casa e meteu uma bala nos miolos; o homem foi alertado pela mãe que a esposa o traía. Ele já sabia, na verdade, só não fazia nada em consideração à filha do casal, que ele amava incondicionalmente. O casamento teve seus dias de lua de mel, depois perdeu totalmente o encanto, ele destratou a esposa um dia em que chegou bebado, falou umas besteiras e ela, magoada, perdeu o encanto por ele e ficou cada vez mais alheia. Quando a mãe disse que ele precisava abrir o olho e tomar vergonha, foi tirar satisfações com a esposa, que zombou dele e disse que já o tinha traído com dezessete ao todo, até mesmo amigos dele. Disse que a esposa que só não a matava porque a filha gostava dela. No quarto, chorando, foi consolado pela filha, que disse ter ouvido tudo e que não gostava da mãe. Ele pegou a arma e deu dois tiros no peito da esposa; o noivo era quase perfeito, tirando o fato que não falava, era caladão, não dizia uma única palavra. Isso encabulava a noiva, que se abriu com a mãe. A velha tentou tirar aquela cisma da cabeça dela. Casaram, ele calado no carro, na lua de mel, ela insistindo para ele falar uma palavra sequer e nada, ele dava carinhos, sorria, mas não falava. Ela saiu de casa, disse que se separaria, mas a família o convenceu a voltar. O marido a recebeu com um sorriso e um beijo na testa. Mas nada de falar, jantaram, foram para a varanda, ele acendeu um cigarro e nada de falar ao menos um ai. Ela, desesperada, saiu correndo e foi para o quarto. Horas depois, ele saiu e foi atrás dela no quarto, viu um vulto pendurado, havia se enforcado; o homem viajou e deixou a esposa, uma das mais lindas do Rio de Janeiro em casa, ligou para ela, morto de saudades, e ouviu que havia entrado um ladrão em casa, voltou desesperado, ouviu o testemunho da vizinha, que o viu primeiro, não levou nada o camarada, saiu pela porta da frente e ela bonito e elegante. A velha era ótima fisionomista e disse que seria capaz de reconhecê-lo. Um dia, foram a um baile e a vizinha reconheceu o ladrão, cercado de mulheres e tomando um drink. O marido foi denunciar a presença do criminoso para a dona do estabelecimento, que riu e disse se tratar de um engenheiro bem sucedido e cheio da grana. Ficou aquele silêncio no caminho de volta, em casa, o marido pegou uma arma, foi até a esposa e disse que não tinha coragem de matá-la. Apontou a arma para os próprios miolos e disparou; o pai enlouquece quando descobre que a filha mais nova está namorando. Mas convida o rapaz para um jantar, o interroga sobre as intenções para com a filha e depois diz que foi largado pela esposa quando jovem. Ela fugiu com outro, e a caçula é a cópia dela, fará o mesmo com o rapaz, perguntou se ele queria ser traído, o moço disse que não, saiu da casa às pressas. O pai, ainda transtornado, ouviu da filha que iria se matar. Ele disse, moramos no décimo segundo andar, veja como é fácil, subiu no parapeito e depois gritou com a queda. A polícia interpretou como suicídio ou acidente, mas a própria moça confessou ter empurrado o pai; o marido reclamou para o sogro sobre o tratamento da esposa, que só lhe fazia desfeitas, não se cuidava, não deixava sequer ele dar beijo, fazer um carinho nela, destratava-o sempre na frente de todos. O sogro disse que essa era a maior prova de fidelidade. As esposas que tratavam bem os maridos os traíam. Era batata, no duro, conhecia vários exemplos. Até que um dia, do nada, ela estava toda arrumada, perfumada e o tratou como a um príncipe. Achou maravilhoso, mas depois lembrou da fala do sogro, foi ter com ele, que disse que o homem não tinha que ir atrás dessas coisas, nem mesmo ser o último a saber, deveria era nunca saber. Recebeu cartas anônimas que davam conta de que o amante era o melhor amigo dele, que jantava na casa do casal ao menos duas vezes por semana. Depois ele noivou e a esposa queria morrer, até que o marido pegou um revólver, foi ao amigo e o ameaçou mandando terminar o noivado e exigindo que passasse a ir todos os dias jantar por lá. A esposa voltou a ser uma seda com o esposo, que ficou muito satisfeito; o homem teve um colapso cardíaco e achava que a hora dele estava chegando, reuniu a mulher e a filha e disse que não queria morrer sem ver a filha casada e ter um neto. A moça, que já era noiva, apressou o casório, mas na noite de núpcias, o marido confessou que era infértil, não poderia ter filhos. Foi um sofrimento e a pressão por esse neto era casa vez maior e constrangedora, até que, no desespero, o marido levou um amigo discreto e de confiança para casa. A mulher finalmente engravidou, realizou o desejo do pai. À noite, os dois no quarto sozinhos, ela chorava e ele a consolava, dizendo que ela não tinha culpa é que ele amaria a criança como se fosse dele; o viúvo, inconformado, diz que só não se mata enquanto não constrói o mausoléu onde será sepultado com a esposa falecida. Em princípio, a família acha que logo a dor passará, mas não acontece, o rapaz mergulhou em um sofrimento profundo, ninguém sabia mais o que fazer. Um primo teve a ideia de inventar um amante, para que ele, magoado com a traição, pudesse sair do transe e tocar a vida. O pai do viúvo veio com a armadilha, o filho pediu o nome do amante, apontou uma arma para a própria cabeça, o pai, desesperado, apontou para o primo, que recebeu um abraço do viúvo, finalmente ele poderia falar da esposa de igual para igual com alguém, como a um sócio, dizer como ela foi maravilhosa; a esposa, prestes a morrer, pede ao marido um funeral com toda a pompa para matar de inveja a vizinha, que é desafeto dela. O marido não tinha lá nenhum dinheiro, e ela o mandou pedir dinheiro para Humberto, que ele conhecia pouco, mas por que pedir dinheiro para ele, que espécie de relação tinha com a sua esposa, ela não conseguiu confessar, morreu antes, mas teve tudo o que desejou, além da missa de sétimo dia luxuosa; a história do cara que descobriu a traição da mulher e, para se vingar, leva todo dia alguém para se deitar com ela no bordel pagando apenas cinco pratas. Levou o melhor amigo, que espantado, ficou sem reação e não conseguiu tocá-la; a noiva tem toda a aprovação da família para se casar com aquele rapaz, pois ele é trabalhador. Mas na noite de núpcias, de tão cansado por causa do trabalho e querendo dormir cedo para trabalhar no dia seguinte, não houve a tão especial noite de amor, ele capotou na cama. Indignada, a noiva, já perto de amanhecer, foi atrás do leiteiro; a noiva recebeu um presente de uma mulher misteriosa na véspera do casamento, em uma caixa de sapatos. Ao abrir, ficou em choque, entrou em desespero, era um feto. O noivo confessou ser uma vingança da amante, ali era um filho seu. Ela terminou o noivado, tinha agora repulsa por aquele homem e, tempos depois, por todos os outros; o rapaz, mesmo com a contrariedade da família e dos amigos, noivou com a moça mais mal falada da cidade, ela mesma confessava que não era fácil, a mãe dele, um dia, contou a história da prima que beijou conscientemente o noivo leproso para que apodrecessem juntos, dizendo que a noiva dele jamais faria isso. Obcecado pela história, resolveu testar a noiva, fingiu estar leproso e a reação dela foi a pior possível, correu, limpou a boca e, mesmo ele confessando ser uma brincadeira, ela seguia o chamando de leproso e não o deixava beijá-lo, só conseguiu quando, transtornado, apertou o pescoço dele e a deixou sem vida; era um galã e tinha todas as mulheres que queria no papo. O amigo fez uma aposta, que há uma mulher, a mais linda do Rio de Janeiro, com quem ele não conseguiria nada. O amigo manteve o mistério e disse que não revelaria quem era, que aquela ele não conquistaria. Ficou louco, obcecado pela ideia. Até que o amigo morreu atropelado e não revelou. Ele, desesperado, foi ao necrotério sacudir o cadáver e implorar que revelasse o nome, chorando convulsivo.