Millene.Grandemagne 27/02/2023
Citações e reverberações
“Representando a consciência critica do leitor, Van, o narrador, vive um conflito entre voltar para a sua terra e usufruir dos seus privilégios em detrimento do sofrimento e desigualdade generalizados ou admitir que o País das Mulheres, apesar de sua organização asséptica, existe de maneira justa para todos. Pergunta muito semelhante que homens contemporâneos no campo progressiva se fazem (ou deviam se fazer) ao questionar seu próprio lugar de privilégio”. (prefácio)
“- Vcs não sentem respeito pelo passado? Pelas ideias e crenças de suas antepassadas?
Ora, não – respondeu ela. – Pq deveríamos? Elas já se foram. Sabiam menos do que nós. Se não estivermos à frente delas, somos indignas delas e indignas das crianças depois de nós.
Isso me colocou em reflexão honesta. Eu sempre imaginara – de ouvir falar, suponho – que mulheres eram mais conservadoras por natureza. No entanto, aquelas mulheres, sem a assistência do espírito masculino de iniciativa, haviam ignorado o próprio passado e construído com ousadia para o futuro”.
“- Mas, com certeza, suas mães esperam honra, reverência, obediência. Precisam fazer coisas pelas mães, não?
- Oh, não. Fazemos coisas a partir delas, não para elas. Não precisamos fazer coisas para elas, não precisam disso. Mas precisamos seguir em frente, esplendidamente, por causa delas, e é assim que nos sentimos a respeito de Deus.”
“Ora, na tentativa de nos aproximarmos de Deus em nossas mentes, personificamos a ideia, é claro; mas não assumimos que exista uma Grande Mulher em algum lugar, que seja Deus. Oq chamamos de Deus é um Poder Permeado, entende? Um Espírito Interno, algo dentro de nós do qual queremos mais”
“Paciência, gentileza, cortesia: tudo que chamamos de boa criação fazia parte do código de conduta. Mas onde elas nos ultrapassavam era na aplicação do sentimento religioso em todos os campos da vida. Não havia rituais, encenações de serviço divino, exceto os desfiles religiosos de que já falei, e estes eram tanto educacionais quanto religiosos, e também sociais. Mas havia uma conexão clara estabelecida entre tudo oq faziam e Deus. A limpeza, a saúde, a ordem impecável, a beleza pacífica e rica de todo o território, a felicidade das crianças e, acima de tudo, o progresso constante – tudo isso era religião”.
“- Como pode não querer [a imortalidade]! – protestei [Van] – Quer se apagar como uma vela? Não quer continuar, crescer e ser feliz para sempre?
- Ora, não. Nem um pouco – disse ela – Quero que minha filha e a filha da minha filha sigam adiante e elas vão. Por que eu? [...] É oq todos queremos, claro: Paz, Beleza, Conforto e Amor... com Deus! E Progresso também. Lembre-se. Crescimento, sempre e sempre. É oq nossa religião nos ensina a querer e pelo que trabalhar, e é como fazemos!”
“Quanto a nos dar coisas... Vemos que gostariam disso, mas ficamos felizes por não poderem – continuou Celis. – Entendam, amamos vcs pelo que são, não gostaríamos que pagassem algo. Não basta saber que são amados pessoalmente, como homens?”
O livro me surpreendeu! Tive ótimas reflexões e é impressionante como um livro tão antigo é tão visionário, como o fato de os homens acharem impossível que mulher passasse o nome ao marido, assim como ele faz a ela e o que hoje é algo totalmente possível pela legislação. Outro exemplo: a cremação que era algo visto como horrível para os homens e que as mulheres já utilizavam como forma de não desperdiçar espaço.
Outra coisa que me chamou a atenção positivamente é que na Terra das Mulheres todas as mulheres se ajudam na criação das crianças, por exemplo. O grande objetivo delas é formarem mulheres que cresçam e que sejam ainda melhores do que elas. Lembrando que na época de escrita do livro, as crianças não eram valorizadas como seres dignos de respeito e valor. Além disso, não há aquela “obrigação” dos filhos de seguirem os passos dos pais ou de ajudá-los, cada um faz a sua parte e as gerações vão se sucedendo, uma melhorando a outra progressivamente. Essa é a religião delas e não as instituições ou rituais, os quais desconhecem. Ocupam seus tempos melhorando uns aos outros e ajudando no bem estar da coletividade e do ambiente em que vivem.
Releria e indicaria!