Dani do Book Galaxy 24/02/2020Uma utopia feminista, mas não tão feminista assimAntes de começar a ler este livro, eu já havia visto várias críticas (negativas) sobre ele. Muitas pessoas, principalmente mulheres, se decepcionaram consideravelmente com este livro, que promete ser um marco feminista mas acaba por perpetuar algumas ideias retrógradas do século passado.
Obviamente, isso acontece porque o livro foi escrito em 1915. Seria algo completamente bizarro e surpreendente se a Charlotte Gilman aparecesse nessa época com ideias feministas cem por cento alinhadas com as considerações atuais que temos sobre a luta das mulheres, sobretudo com todos os esclarecimentos que temos hoje e a autora, 100 anos atrás, obviamente não tinha.
Dito isso, achei que o livro em si começou interessante, mas a partir da metade, começou a ficar chato em sua narrativa. A autora escreve bem em minha opinião - diálogos bem construídos, e personagens interessantes. Narrado por um homem (um homem norte americano, heterossexual e vivendo na década 10, ou seja: a personificação de todas as ideias machistas perpetuadas no século XX e além), o livro segue um fluxo narrativo um pouco parado, construído sobretudo através de descrições e diálogos também descritivos.
O mais interessante dessas personagens machistas é que, durante o livro todo, nós os vemos serem questionados pelas personagens femininas que, com a simples lógica, vêm a provar como a sociedade machista é desprezível e sem sentido.
Além do fluxo narrativo ser um tanto parado, entendo porque o tema deste livro causa tanta revolta, sobretudo às leitoras feministas modernas. As ideias de Charlotte Gilman sobre uma sociedade utópica composta apenas por mulheres são bastante limitadas.
Acredito que a autora não conseguiu se desprender das tradições concebidas durante tanto tempo e, apesar de ela ter tentado se desvincular delas, não foi muito além. Dessa forma, a tão perfeita "Terra das Mulheres" é baseada na procriação e na Maternidade, sendo esse aspecto da vida da mulher tratado até como religião.
Vale pontuar que, além de colocar na mesa assuntos como maternidade e feminilidade, o livro também questiona a religião cristã e também a tradição do casamento.
Entendo que, analisando a obra junto a outros livros mais modernos que abordam o mesmo tema, "Terra das Mulheres" pode parecer retrógrado e maçante, mas não deixo de observar como ele levanta questões interessantes para debatermos hoje no âmbito do feminismo moderno.
Foi uma leitura arrastada, mas não de todo ruim. E, como todo livro que se propõe a questionar algo e a provocar discussões (mesmo que isso nem sempre ocorra da maneira mais acertada), é válido e interessante de ser lido.