Marcela 18/08/2015
Pera, uva, maçã, salada mista: o pluri-universo de "Red Queen"
Pela primeira vez nesses anos de Skoob, ousei escrever uma resenha antes mesmo de terminar de ler o livro. Talvez eu a altere depois, acrescentando novas informações. Talvez eu nunca termine de ler e ela continue assim... whatever.
"A Rainha Vermelha" foi um daqueles livros que me conquistou pela capa. Quando a vi pela primeira vez, pensei "wow, parece interessante", mas não o comprei de primeira: esperei até uma oportunidade de gastar o menos possível. A sinopse também me parecia interessante, por se tratar de uma distopia em que a cor do sangue iria determinar qual será o seu papel na sociedade. Este fato me chamou a atenção por remeter a fatos históricos como nos séculos passados, onde os aristocratas se achavam mais importantes que os plebeus e se consideravam como detentores de "sangue azul", nobres.
De fato, essa referência histórica é o principal pilar a sustentar a trama de Victoria Aveyard. Nota-se bem o quanto esse fator é importante para o desenrolar dos fatos. Entretanto, essa premissa acaba se perdendo em meio a um mar de referências indiretas ao universo de outros sucessos literários. Perde-se tanto, inclusive, que não nos deixa claro sobre qual é a linha temporal adotada na obra. Em que século estamos? Como poderia ser definido o contexto sócio-histórico da sociedade? No começo do livro, parece que estamos num regresso à Idade Média, com uma sociedade majoritariamente formada por pobres massacrados pelos aristocratas esnobes, que precisam ir às guerras caso não tenham um emprego. Entretanto, do nada, surgem armamentos tecnológicos, eletricidade, elevador, e outros aparatos modernos demais, comuns à nossa própria época. Surge então a primeira dúvida: que mundo é esse?
Afora essa indefinição de contexto histórico-social, a denominação pura de "vermelhos" e "prateados" o tempo todo ao longo da história torna-se um tanto maçante. Ok, por um lado, pode ser vista como o modo como a sociedade se identifica entre si: não são pessoas; são "coisas" definidas pela cor do sangue. Mas, ainda assim, torna-se um tanto exaustivo essa leitura redundante o tempo todo. Há passagens como: "sangue prata jorrava do prateado" ou algo assim. Ok, né?
Para além da redundância exacerbada em sempre repetir termos como "prateado", "sangue prata", "vermelho", "sangue vermelho", chegamos a um fator muito importante, que, na minha opinião, foi uma das maiores fraquezas da história: o pluri-universo. "A Rainha Vermelha" não se contenta em seguir apenas uma linha de distopia. Parece querer seguir várias ao mesmo tempo, escorando-se em fórmulas usadas anteriormente por franquias que já têm seu sucesso mundial garantido. Não gosto muito de comparar histórias entre si, mas, nesse caso, as semelhanças são tão palpáveis que seria impossível não fazê-lo. Como não lembrar da impiedosa e esnobe Capital (Jogos Vorazes), com sua política do 'panem et circenses', além de ter uma heroína muito amiga de um rapaz de mesma condição social - aqui, Kilorn é um equivalente do meu querido Gale -, com quem luta para não ser escolhida para lutar na guerra - ou para não ser um tributo na arena? Ou do jogo de intrigas e escolhas para definir quem será a próxima princesa/rainha (A Seleção)? Ou das famílias de aristocratas poderosos, dotadas de poderes que as distinguem da sociedade comum, assim como os Moroi, capazes de manejar os elementos da natureza (Academia de Vampiros)? Ou da heroína de origem humilde, com uma capacidade não convencional, que tem que lutar para fingir ser alguém que não é (Divergente)? Ou até mesmo a distinção das "Casas" por meio de cores e sua devida importância em cada setor da sociedade, além do próprio jogo de interesses e de uma rainha poderosa, fria e cruel (As Crônicas de Gelo e Fogo)? E, por fim, até mesmo os poderes especiais desenvolvidos por cada um de maneira diferente, única, distinguindo a sociedade entre dois tipos: vermelhos/humanos comuns e prateados/mutantes (X-Men)?
Sim, "A Rainha Vemelha" estrutura-se exatamente sobre esses principais pontos citados, lógico, sem esquecer do velho triângulo amoroso, uma heroína que tenta em todos os aspectos pagar uma de durona - mas, diferente de Tris e Katniss, simplesmente não convence, por não ter um pingo de carisma - enquanto luta para destruir os aspectos opressores do meio em que vive, por meio de uma descrição que, aqui, soa rasa e superficial, esquecendo-se das doses de sentimentalismo humano na narração. Mare mais parece um robô do que a protagonista que dá voz aos relatos da sua história. É triste ver como nessa onda de grandes sucessos inteligentes YA podem acabar surgindo histórias que parecem tão interessantes, vistas de fora, mas que são tão fracas que chegam a decepcionar.