Blog MDL 02/07/2016
Iniciando a história do cervo mais famoso das animações, acompanhamos o nascimento de Bambi no coração de uma floresta. Ao contrário do que o filme nos traz, seu nascimento foi um acontecimento isolado, observado apenas por uma gralha-azul bastante inconveniente.A partir de então vamos seguir a vida e rotina de Bambi. Sua infância com a mãe, seus primos, Gobo e Falina e diversos outros animais da floresta, o afastamento da mãe por conta do inicio da maturidade do pequeno cervo, até aquele fatídico inverno, o primeiro amor, a maturidade e seu relacionamento com o misterioso príncipe dos cervos.
A característica mais evidente desse livro é o antropomorfismo de seus personagens. Sendo um recurso deveras utilizado, principalmente em fábulas e contos de fadas, trata-se de atribuir traços, emoções e intenções humanas para seres e entidades não humanos, sejam animais, objetos, ou mesmo divindades. Essa forma de escrita existe desde os primórdios da antiguidade, seja em um contextos religiosos, atribuindo sensações e emoções humanas à deuses, seja por meio de fábulas para dar lições de moral.
A questão é que aqui, o antropomorfismo está tão bem desenvolvido e intrincado, que por diversas vezes me esqueci completamente que esse era um livro sobre um reino animal! No livro, temos uma sociedade que funciona um tanto sutilmente como uma monarquia: Todos cuidando cada um de seus afazeres, seja colhendo comida para um longo inverno, seja sobrevivendo à cada dia, enquanto temos uma raça que é reconhecida por seu porta ágil, elegante e régio. E se, na savana, é o leão que é considerado o rei dos animais, aqui os cervos são admirados por todas as características antes faladas, e ser considerado amigo de um deles era sempre uma honra. Algo que reforça esse meu argumento é o fato de que, entra os cervos, todos detém um nome próprio (Bambi, Falina, Gobo, etc...), com exceção de um ou outro que o nome não é mencionado, mas entre os outros animais, eles sempre são "o coelho", "a borboleta", "a Coruja", e assim sucessivamente.
Outro exemplo de como as características humanas são muito bem exploradas, uma de minhas cenas favoritas na história é quando Bambi, já crescido e com sua coroa de chifres em desenvolvimento se vê cara a cara com um de seus parente distantes, o alce. Ambos, em suas mentes admiram um ao outro, por sua força, porte, entre outras características, porém, eles não se dirigem um única palavra, o primeiro por considerar o parente convencido e arrogante, o segundo por achar o outro tão belo e inteligente, que faria papel de bobo falando sobre o que quer que fosse. Quem nunca?
Mas o que norteia toda a história não é os relacionamentos das raças e a fusão criativamente brilhante da vida selvagem com a sociedade humana. O grande cerne do livro trata-se da relação do Homem com a natureza. Sendo uma floresta cheia de vida selvagem, provavelmente situada nos Estados Unidos, nada mais natural que o local seja periodicamente alvo de caçadores, isso cria uma discussão entre os animais sobre o Homem: suas motivações, poderes, frieza e o temor que todos os animais tem dele. Dois dos personagens mais importantes para o aprofundamento dessa discussão são Gobo e o príncipe.
Gobo desapareceu no mesmo dia do ocorrido à mãe do Bambi, tendo sido considerado por muito morto. porém, tempos depois, ele retorna à floresta e conta que foi tratado pelo Homem. Tudo seria ótimo, só que agora Gobo é um animal doméstico em meio a animais selvagens, aderindo a hábitos totalmente estranhos e nocivos à sobrevivência. Uma clara demonstração do que ocorre quando nós libertamos um animal já domesticado na natureza.
O príncipe é o mais antigo e sábio alce da floresta, uma figura quase mística, que pouquíssimos vêem, tanto que já o consideram falecido. Obviamente, ele tem um interesse bastante particular por Bambi, e sua presença na vida do cervo terá uma importância gigantesca para esse debate.
Mais que uma meiga e fofa história sobre um ser na natureza, Bambi é um apelo para que tenhamos consciência que nossas ações podem machucar e prejudicar todo um ecossistema. Portanto, pensem muito bem sobre alimentar animis selvagem, ou usar os mesmos para posar em fotos com tochas de eventos patéticos.
site: http://www.mundodoslivros.com/2016/06/resenha-bambi-por-felix-salten.html