Coruja 30/03/2023Estava com esse aqui há bastante tempo na fila, meio esquecido no kindle, até passar os olhos pelas efemérides literárias desse ano e descobrir que o livro completava centenário de publicação em 2023. Tal aniversário era uma desculpa perfeita para afinal puxá-lo às prioridades.
A primeira coisa que tenho a dizer sobre
Bambi é que não se trata de uma leitura fácil. É uma história de perdas: da inocência, da juventude, da família. É uma fábula, com animais fofinhos falantes; mas é também uma história sobre a natureza em sua forma mais crua, com toda a violência que se espera da cadeia alimentar. Ao mesmo tempo, é um conto sobre o Homem contra o Ambiente, algo que tanto pende para o horror assassino quanto para a angústia existencial.
Bambi começa relativamente protegido pela mãe, que lhe ensina as primeiras lições; aos poucos é deixado sozinho - e o tema da solidão é um dos pontos centrais na jornada de crescimento do personagem -, e tem de começar a confiar no próprio instinto; conhece a morte que chega no cheiro do suor d’Ele, no som de trovão de uma arma que não é capaz de compreender, no furor de uma caçada que tem a floresta inteira por presa. Por um breve período, descobre o orgulho de sua força e juventude, e a doçura do amor. Mas é apenas um momento de deleite - a necessidade de continuar a espécie -, antes que a dor e a solidão retornem, de mãos dadas com a velhice.
Não tenho certeza se, por mim sozinha, classificaria
Bambi como uma história infantil. Ou acharia uma ideia particularmente genial fazer uma animação que traumatizasse uma inteira geração de crianças - especialmente se tiver a mesma quantidade de vísceras e sangue do livro. Mas, se há algo de brutal no desenvolver do enredo, há também valiosas lições e reflexões a serem tiradas da leitura - especialmente quando consideramos a destruição que o ser humano vem infligindo ao meio ambiente.
[Aliás, depois de fazer muitos esforços de memória, cheguei à conclusão de que não assisti a adaptação da Disney pois não tenho o correspondente trauma à situação: a morte de Mufasa ainda hoje me assombra; os acontecimentos de Bambi certamente teria o mesmo efeito.]
Para um livro centenário,
Bambi tem muito a dizer de atual. É um conto melancólico, mas poderoso, que merece seu status como clássico. Parodiando Roberto Carlos, se chorei e se sofri (e tive o coração arrancado do peito), o importante é que emoções eu vivi.
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