Recordações da Casa dos Mortos

Recordações da Casa dos Mortos Fiódor Dostoiévski




Resenhas - Recordações da Casa dos Mortos


91 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7


Carolina.Gomes 13/11/2024

Relatos do cárcere
Essa obra é inspirada em uma fase traumática da vida do autor: condenado à morte por atividades subversivas contra o regime czarista, Dostoiévski foi indultado no último momento, mas sua pena foi comutada para quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria. Dessa experiência extrema, ele trouxe o material humano e emocional que mais tarde serviria de base para alguns dos seus personagens mais complexos e inesquecíveis.

Ao longo da leitura, pensei que a literatura foi salva por um capricho do czar porque essa segunda fase do autor, pós Sibéria, é a mais genial.

Em Escritos da Casa Morta, Dostoiévski se vale de um personagem fictício, Aleksandr Pietróvitch Goriânchikov, para narrar suas experiências no presídio siberiano. Com essa estratégia, ele conseguiu abordar a vida no sistema carcerário russo e driblar a censura da época, oferecendo uma crítica velada, mas poderosa, ao sistema penal czarista.

Sob o olhar de Goriânchikov, o autor descreve a brutalidade e a desesperança que permeiam a prisão, mas também a humanidade que, mesmo em condições extremas, resiste entre os presos.

A obra me impactou profundamente. Não foi uma leitura fácil. Senti angústia e agonia e me aproximei mais do autor.

Dostoiévski mostra, com um realismo impressionante, a dureza da vida no cárcere, revelando como a violência e a opressão afetam a psique humana. O leitor se vê diante de retratos de prisioneiros que variam do vilão ao trágico, do frio ao passional, cada um com uma história de vida marcada pela dor e pelo desejo de sobrevivência. Esse olhar humanizado sobre os presos desafia qualquer julgamento simplista, e Dostoiévski faz o leitor refletir sobre questões como culpa, redenção e a essência do espírito humano.

A experiência de Dostoiévski na prisão foi fundamental para a criação de personagens complexos e ambivalentes, que viriam a se tornar marcas registradas de sua literatura, como Raskólnikov, de Crime e Castigo, e o Príncipe Míchkin, de O Idiota.

Em Escritos da Casa Morta, ele já ensaia a profundidade psicológica e o dilema moral que exploraria mais tarde.

A obra é uma leitura essencial para entender a genialidade de Dostoiévski e a profundidade moral e psicológica de seus personagens.

Depois dessa leitura tenho que reconsiderar toda crítica que fiz ao autor e me retratar publicamente. Se te critiquei, perdão, Dostô. Você nunca errou!

Recomendo fortemente a leitura. Na edição da Ed 34 há um material excelente para contextualização da obra e ainda traz a carta de Dostô em resposta ao censor.
mariamanuella.brittogedeon 15/11/2024minha estante
Daqueles que me arrependi de ter pulado . Mas lerei em breve




Alexandra 29/10/2024

Sem livros é mergulhado em si mesmo
Dostoiévski relata sua vida na prisão e a experiência de viver sem livros, mergulhado em si mesmo, fazendo-se perguntas, atormentado por elas e atento às pessoas que o cercavam e às variadas personalidades que inspiraram tantos inesquecíveis personagens de sua literatura. Gostei muito.
comentários(0)comente



João Ks 24/08/2024

Escritos da casa morta - Fiódor Dostoiévski.
Se há algo de que não se pode privar o homem é de sua capacidade de pensamento. Subtraiam-lhe as posses, arranquem-lhe de seu lugar, metam-lhe na prisão, e ainda assim subsistirá aquilo que lhe é próprio, o traço distintivo, seu poder especulativo.

Em geral essa sutileza do espírito humano está a salvo das violências externas que o Estado ou a sociedade possa decretar sobre o indivíduo. Nem o mais vil assaltante pode despojar sua vítima da liberdade de pensamento, tampouco o conseguirá o carrasco ou o policial a serviço de um Estado opressor.

Quando nos chegam às mãos as observações redigidas por Dostoievski a propósito dos anos em que permaneceu encarcerado na Sibéria, rigorosamente privado de todo o conforto e submetido a trabalhos forçados, é espantoso constatar, não obstante tudo isso, que ali ele permaneceu sob a posse de sua mais refinada capacidade de especulação, de seu poder de imaginação, do livre-pensamento.

Daí resulta que o Escritos da casa morta se abre como um quadro espetacular de rostos, de feições e de tendências do espírito humano, onde são traçados com primor de retratista os diferentes tipos humanos que experimentaram as agruras do degredo e da prisão no curso daqueles anos ao lado do protagonista do livro.

Como escreve o tradutor Paulo Bezerra, a casa morta foi o “laboratório do gênio”. E se Dostoiévski pôde extrair algo de positivo dessa amarga experiência carcerária é justamente a possibilidade do mergulho nesse caleidoscópio de retratos humanos, de onde hauriu a matéria-prima, a substância primeira, para seus exercícios de escrita psicológica. O Escritos da casa morta tem ligação direta com os romances de maturidade do autor.

Sabe-se que Dostoiévski experimentou o inferno da prisão quando jovem. No entanto, a obra não se apresenta formalmente como um livro de memórias, mas sim como uma ficção narrada pelo personagem fictício de nome Aleksandr Petrovich, ainda que se possa deduzir que os relatos ali contidos estejam fundamentalmente baseados na realidade vivida por Dostoiévski.

Ao contrário do que podemos pensar num primeiro momento, o fato de a prisão estar localizada na cidade de Omsk, em plena Sibéria, não é propriamente uma infelicidade para o narrador, que elogia as condições de vida na província e até se encanta com a beleza natural da região.

A Sibéria não é o problema. O problema é o que o Estado faz ali com as pessoas.

A opressão sofrida pela condição de prisioneiro (galé) na fortaleza de Omsk é completa, isto é, expressa-se moral e fisicamente. O detento é obrigado a conviver a contragosto com os mais diferentes tipos de pessoas, gênios diversos, idades e etnias variadas. Aliás, misturam-se ali condenados por crimes comuns, crimes políticos e crimes militares; bandidos de primeira viagem e criminosos inveterados; gente inocente e homens terrivelmente cruéis, serial killers, “quasímodos morais”. Ademais, tudo é precário: as casernas apertadas, sombrias e sufocantes, as tarimbas duras e estreitas, e a comida rala e insípida.

Mas acima de tudo são os trabalhos forçados que mais penalizam os detentos. E não é tanto um martírio de ordem física, pois as atividades nos campos de trabalho de Omsk são até amenos quando comparados às de outros locais da Rússia. Mas é o sofrimento moral decorrente da submissão compulsória a esse trabalho o que mais oprime o detento. Trabalhar sem propósito; trabalhar não para si, mas para outrem e sem retribuição; e o que é ainda pior, frequentemente se trata de um trabalho puramente inventado, sem propósito, apenas para ocupar o preso. Eis o maior tormento moral.

Além desses tormentos que tocam a todos no presídio, Aleksandr Petrovich (e assim Dostoiévski, supomos) vivencia um tormento particular, que somente toca a ele devido à sua condição social. É que na qualidade de detento proveniente da nobreza - ainda que tenha perdido seu título após a condenação – ele se sente profundamente alijado de todos no presídio. Embora se esforce para granjear o afeto e a simpatia de seus colegas, e até o consiga em certa medida, sente que no fundo não está em comunhão com eles, que estes não são seus companheiros, e que nunca o aceitarão como tal, devido às suas diferenças de origem.

Dostoiévski tem apreço pela gente humilde, e reconhece seu valor: “Nossos sábios têm pouco a ensinar ao povo. Eu até afirmo o contrário: ainda devem aprender com ele”.

Lá, a maioria dos galés são do povo, da gente simples; e jamais seriam capazes, por razões tão enraizadas no seu ser, na sua concepção de mundo, a receber o nobre Aleksandr Petrovich no seu seio como se fosse um deles; têm respeito por ele, até amizade (embora muitos o odeiem por sua condição privilegiada), mas daí a considerá-lo um companheiro, um dos seus, já é outra coisa por demais antinatural. E isso castiga profundamente Aleksander em seu íntimo, que está ali mais solitário do que qualquer um. Cai sobre ele uma dupla pena.

É claro que o que fica do livro são as impressões muitas vezes horríveis dos martírios na prisão; as cenas profundamente tristes testemunhadas no hospital da fortaleza, para onde eram enviados os doentes moribundos e os condenados recém-castigados com mil, duas mil, três mil vergastadas aplicadas por uma fileira de soldados, uma espécie de corredor polonês.

Mas ainda nesse contexto desanimador que oprime o sujeito, onde frequentemente o preso está esvaziado moralmente, onde lhe falta a seiva da esperança e a inclinação para a percepção aguda das coisas; mesmo ali ainda frutificou o poderoso pensamento do autor, sua arguta capacidade de observação do gênero humano. E isso é admirável. É a flor brotando no lixo, a planta rebentando no asfalto árido.

Grita Dostoiévski: “E quanta mocidade fora enterrada inutilmente naquelas muralhas, quantas forças poderosas ali pereceram em vão! Vamos, é preciso dizer tudo: vamos, aquela era uma gente extraordinária. Pois é possível que aquela fosse até mesmo a gente mais talentosa, a gente mais forte de todo o nosso povo. E aquelas forças poderosas perecerão em vão, pereceram de forma anormal, ilícita, irrecuperável. E de quem é a culpa?”
comentários(0)comente



Karime 10/08/2024

Real, humano e difícil.
Escritos da Casa Morta e atemporal, nos mostrando a forma desumana ao quão são tratados os criminosos que são levados ao cárcere.

Escritos da Casa da Morte e um mergulho profundo aos dias dos condenados que eram levados à Sibéria, onde a dignidade dos homens era deixada de lado enquanto os criminosos sofriam diariamente.

Somos levados a histórias reais, onde os criminosos nos contam a razão que os levou ali e como conseguem sobreviver às punições e ao tempo, tudo em meio a um ar melancólico desumano e humilhante.

Distoiévski nos apresenta um livro real, humano e difícil de engolir, tendo em vista que o mesmo passou longos anos na Sibéria e esse livro é um relato real do que o mesmo viu, ouviu e passou enquanto cumpria sua pena.
comentários(0)comente



Pedro.Inocente 21/07/2024

Um bom livro, mas confesse que estava com altas expectativas para essa obra e acabei me decepcionando um pouco!
Achei a escrita um tanto arrastada, apesar de Dostoiévski escrever muito bem, como sempre. Não me prendeu tanto quanto outras obras que li dele, mas com certeza vale a leitura, pois é um livro decisivo para toda a carreira do autor, em sua experiência nesses 4 anos na Sibéria, ter sobrevivido a esses desafios possibilitou Dostoiévski de ter suas inspirações e escrever suas obras futuras, muitas delas, de grande sucesso, como ?Os Demônios? , ?O Idiota?, ?Crime e Castigo? e ?Os Irmãos Karamázov?, por exemplo!
comentários(0)comente



Tiago.Cecconello 17/07/2024

"Ele também deve ter tido uma mãe"


Não tem nada pior para um ser humano do que ser apartado da sua condição de cidadão, privado de todos os direitos civis e de sua posição social. Estar nessa condição é ser praticamente um morto-vivo. Sócrates, antes de ser condenado, teve a oportunidade de fugir de Atenas. Seus amigos tinham um plano para salvá-lo da morte por cicuta. Porém, ele negou! Disse que não fazia sentido fugir de Atenas, pois foi nessa cidade, como cidadão, que ele se tornou Sócrates.
O brilhante Dostoievsky, em seu talvez mais documental livro, expõe a dura vida na prisão de uma forma nua e crua. Diferente de livros clássicos como Os Irmãos Karamazov e Crime e Castigo, que possuem descrições e análises psicológicas profundas, Recordações da Casa dos Mortos é um livro com relatos e experiências do próprio autor, com leves pitadas de psicologia. No entanto, não deixa de ser denso e menos importante. Ler esse livro é como estar sentado diante de um ex-presidiário com muita história interessante para contar.
Passados dezenas de anos, a forma atroz como o ser humano pune seus criminosos continua despertando náusea e pavor em toda boa alma que luta por justiça social. E Dostoievsky foi uma das boas e grandes almas da humanidade, por isso, ele denunciou o barbárie do sistema prisional com muita coragem e sentimento. Ele mostrou que, mesmo em um lugar onde aparentemente só existem pessoas ditas ruins, existe bondade, sonhos, bom humor.
O principal objetivo teórico da maioria dos sistemas prisionais do mundo é “recuperar” pessoas. Porém, como isso pode ser feito se não se proporciona o mínimo de dignidade? Queremos recuperar pessoas ou potencializar a criminalidade dentro delas? Essa é uma das denúncias do autor.
Diante de uma realidade tão cruel, impossível não ficar atônito como o soldado do livro que, ao ver um prisioneiro definhando em um hospital sem sequer ter os seus grilhões retirados para morrer sem o peso da desumanidade, disse:
“Ele também deve ter tido uma mãe”.
E o interessante é perceber que não foi só uma mãe que perdeu seu filho, também foi um filho que perdeu sua mãe.
“Dosto”, para os íntimos da boa leitura, é e sempre será o cara!
comentários(0)comente



Lucasjgv 11/05/2024

Escritos da casa morta
Incrível, nos faz refletirmos sobre diversos pontos, que particularmente eu nunca pensaria, nos faz refletir muito sobre a importância dos livros. Dostoievski é dostoievski.
comentários(0)comente



Mi_ 04/05/2024

Só um gênio como Dostoievski para escrever sobre um tema tão pesado, de forma leve e dinâmica.
A leitura é bem fluida e não deixa de ser - em alguns aspectos bem atual, como no trecho abaixo.
? O preso, por exemplo, que é condenado por processo devido a crime contra seus superiores, acha que se tal fez foi porque alguma razão houve; portanto, não se interroga se fez mal, muito embora saiba que os superiores encaram tais crimes dum ponto de vista muito diverso, apoiados no direito, digamos assim, devendo, pois, ser castigados. É uma questão que apresenta duas faces.
O criminoso está convencido de que um tribunal constituído por gente da sua própria classe lhe dará razão, jamais o condenando severamente ou até mesmo o absolvendo, já que não perpetrou um crime contra seus irmãos, contra a sua própria classe. Sua consciência, portanto, não o aflige, e nessa consciência assim apoiado, deixa de ter temor. Não lhe sobrevêm cuidados morais, acaba olvidando. Percebe, não obstante isso, que alguma coisa fez, acaba aceitando o castigo como uma fatalidade e, portanto, inevitável.?
comentários(0)comente



Lu 14/04/2024

Boa supresa.
Achei que seria uma coisa insuportável ler esse livro, mas que nada! É de leitura fácil, mesmo com algumas palavras que eu não conhecia (viva o Google!).
Claro que o tema não é superficial, é bem profundo. Todos lá cometeram algum crime. E o autor consegue fazer uma leitura quase poética da Casa dos Mortos.
Muito delicado, muito profundo e surpreendente.
comentários(0)comente



diegoviegasss 14/04/2024

Magnífico!
Uma grande obra! Creio que por ter sido um relato disfarçado de ficção tenha tornado a obra muito mais profunda e envolvente. A descrição de todo o período em que o protagonista passou na cadeia é muito bem construída e detalhada, conseguindo deixar bem clara a crítica que o autor gostaria de fazer em relação ao sistema penitenciário da época. Importante ressaltar também a habilidade de Dostoiévski em absorver e repassar em suas obras as características mais profundas de cada pessoa em seu determinado contexto social. Nesse livro, ainda mais no cenário carcerário, Dostoiévski conseguiu lidar com isso com muita maestria.
comentários(0)comente



Marcelo Minal 06/04/2024

Retrato da Prisão - Espelho da Sociedade
Profundamente auto-biográfico, "Recordações da Casa dos Mortos" retrata a percepção de um ex-nobre, Petrovich, ao se ver enclausurado, por 4 longos anos, numa prisão na Sibéria.

Através dos olhos do protagonista/narrador, que no fundo é o próprio Dostoiévski em sua experiência pretérita, nos deparamos com espessas sombras da sociedade: Corrupção para importar produtos ilícitos e subornar guardas, vícios como bebedeiras, prostituição, despotismo dos superiores, castigos brutais e desproporcionais, brigas e preconceito.

Por outro lado, no meio desta profunda escuridão, somos surpreendidos por um corajoso facho de luz: companheirismo, amor pelos animais e esperança, mesmo que inconfessável, de reviver a liberdade. Um vigor, um desejo de viver, não obstante a presença corriqueira da morte. É como uma flor que, teimosa, brota no meio do lamaçal dos pântanos.

A luz precisa de escuridão para existir, e vice-versa. No olho desta dicotomia percebemos que a prisão é uma porção da sociedade e praticamente tudo que ocorre lá dentro, ocorre também aqui fora. É um espelho.

Ao final, percebe-se que é possível ser otimista para com a vida. Petrovich, que passa quase a integridade do tempo de sua pena sendo hostilizado pelos outros detentos, pelo fato de ser ‘nobre’, nos seus últimos meses, finalmente, galga o respeito e até o companheirismo destes presos. "Ele é como a gente." Em sua despedida do presídio alguns chegaram até mesmo a chorar.

Enfim, embora existam passagens pesadas em “Recordações da Casa dos Mortos”, Dostoiévski faz a leitura ser agradável através de seu modo fluído e cativante de escrever. As ideias são bem conectadas de forma clara e concisa. Nesta edição há ainda uma cópia de uma carta verdadeira que o autor enviou ao seu irmão. É incrível como que alguns personagens do Romance são surpreendentemente semelhantes à descrição da carta.

Um bom livro.
comentários(0)comente



PatiClivati 04/04/2024

De leitura obrigatória
Dostoiévski renasce após cumprimento da sentença de quatro anos de trabalhos numa fortaleza.
O livro relata com a habilidade que só Dostô possui, a descrição da vida no presídio e hábitos dos prisioneiros. Esse período foi um caldeirão de vivência. Uma obra prima!
comentários(0)comente



Lucas.Silva 25/03/2024

Esse livro é simplesmente arrebatador. Valendo-se de um personagem fictício, Dostoiévski trata da vivência nos trabalhos forcados na Sibéria. Através da sua visão, apresenta personagens cheios de humanidade, ambíguos, com moral inabalável ou altamente questionável. Diz haver, na prisão, pessoas boas e pessoas ruins, inclusive pessoas boas entre as ruins. O autor russo matiza muito bem diversas questões sobre a moralidade, apontando para uma falha da utopia da razão. Não se trata de simplesmente trazer a ?luz? a um ser humano para que ele então seja completamente modificado, muitos são os que se rejeitam completamente a qualquer mudança, acreditando estarem bens da forma que estão.

Esse livro traz à tona também uma beleza em um lugar em que poucos acreditam na sua existência. A animação dos presos em relação à possibilidade de fazer uma peça teatral apreciada por todos, o respeito dos espectadores, o talento de seus atores, tudo isso é tratado com um alto grau de ternura. Momentos como esses são muito quistos pelos presos, e eles seriam pessoas excelentes no exercício de suas funções artísticas se suas condições fossem outras. Na realidade, Dostoiévski defende que lá, na prisão, é onde se encontra a melhor parte do povo russo. Este que poderia trazer muitas contribuições para a humanidade. Mas são privados de sua liberdade, tentando satisfazer sua vida reclusa com fragmentos dela, para logo em seguida ter a plena noção de que não se passou de uma sombra.

Ademais, a edição da 34 é esplêndida. Traz uma tradução muito cuidadosa, mudando inclusive (ou melhor, trazendo para o mais próximo do original) o nome da obra. A belíssima apresentação de Paulo Bezerra, assim como apêndices, como uma carta do próprio Dostoiévski engrandeceram e muito a leitura deste livro ímpar na história da literatura. Espero que todas as pessoas possam ter o prazer de ler esse livro repleto de dores, angústias, beleza e anseio por liberdade.
comentários(0)comente



Christyele 12/01/2024

Achei um bom livro, porem, por ja ter lido muitos relatos dos sobreviventes do holocausto eu só achei como mais do mesmo, o que me fez vibrar mesmo foram as cartas no fim do livro!
comentários(0)comente



Raissa 05/12/2023

Se amar é crime, me prenda agr! ?
Confesso que tive medo da leitura acabar sendo um pouco arrastada, já que se trata de um livro semibiográfico, mas acabou se tornando uma leitura muito boa (mesmo não tendo tantos diálogos). A gente vai acompanhar algumas memórias do protagonista (preso por ter matado a esposa, numa crise de ciúmes) no meio daquele ambiente grotesco (fazendo um paralelo com o próprio autor, durante os trabalhos forçados na Sibéria). Mesmo sendo uma leitura bem pesada, não dá pra não se emocionar em partes como a peça de teatro que eles fazem durante o Natal, que me lembrou bastante a famosa cena do carrossel em Capitães da Areia. Enfim, com várias pitadas de humor e críticas ao sistema carcerário da época, esse livro acaba sendo uma das obras mais "íntimas" que temos do autor, por se tratar de um relato disfarçado de romance!
comentários(0)comente



91 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR