Ca Melo 02/08/202012 livros nacionais para 2020: Leitura de JulhoEu nunca tive contato aprofundado da obra de Guimarães Rosa, nem durante o ensino médio e durante a faculdade o curso de Literatura Brasileira teve foco em outros autores do período modernista, li alguns poucos contos do autor. Apesar disso, Guimarães Rosa é um dos grandes nomes da nossa literatura, sendo suas obras frequentemente como leitura obrigatória dos maiores vestibulares do Brasil: Fuvest e Unicamp.
Dizer que eu tinha receio de ler Guimarães Rosa é pouco, muito se fala do estilo do autor marcado pelo regionalismo de cidades específicas do estado de Minas Gerais. Além disso, há também todo um preconceito sobre os livros clássicos, como se eles não fossem de fácil compreensão. Posso dizer por mim mesma estudando literatura, especificamente muito do cânone brasileiro e mundial, só me permitir ler determinados clássicos agora. Isso significa após ter me formado.
Não quero dizer que só entenderá Sagarana é quem tenha cursado Letras, mas é uma leitura que exige paciência do leitor para que ele possa apreender bem as narrativas. Nada que uma pesquisa na internet com análise da obra ajude também nessa missão, principalmente se for de cursinhos pré-vestibular. Eu tive dificuldade de me envolver no livro no começo, e não sei exatamente se era porque eu não estava “no clima” ou se de fato estava tentando me adaptar ao estilo do autor. Entretanto, a partir do segundo conto eu fui gostando mais da história e me passei a aproveitar a leitura, tentando entender os termos pelo contexto, para não deixar a leitura travada.
A estrutura da obra em contos/novelas (tem uma discussão por conta da dimensão dos textos reunidos) ajuda o leitor que está iniciando sua leitura em Guimarães Rosa, isto porque cada conto traz uma história diferente. Mas a obra no geral tem como pano de fundo a vida interiorana nas cidades de Minas Gerais, pautadas normalmente na vida de “vaqueiros”, por isso é recorrente o tema de viagens de um ponto a outro durante as narrativas,fé e religião, assim como os motivos de desavenças: triângulos amorosos e adultérios.
A narrativa é predominante na 3ª pessoa, com uma narrador observando e contanto ao leitor os acontecimentos, estes focados majoritariamente nos homens. Estes são também representados como proprietários de terras, gado, mulheres e empregados (descritos em sua maioria sem nomes, mas apenas como a mulher preta, o homem preto/mulato), muitos destes homens são vistos como figuras de poder em suas comunidades, mesmo cometendo erros como o abandono da mulher e família.
Meu conto favorito foi Sarapalha, que trata sobre uma epidemia de malária e a relação de dois primos no fim de seus dias por conta da doença. Além do contexto sócio-histórico gostei da narrativa por trazer algumas reviravoltas, elementos que eu particularmente adoro encontrar no gênero conto. Também destaco o tão conhecido A hora e vez de Augusto Matraga, que para mim reflete sobre a luta entre natureza e regeneração do homem.
Quero conhecer outros títulos do autor, para assim conseguir tomar coragem para ler seu livro de maior destaque Grande sertão: veredas. Mas posso dizer que a experiência de ler Sagarana foi muito importante, principalmente por valorizar a literatura nacional, a nossa produção literária.
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