spoiler visualizaramanda_gabalves 29/07/2024
Uma Obra a Frente de Seu Tempo
O marido de Luísa é um homem bom e muito cuidadoso com ela. No entanto, me incomoda o fato de ele querer proibir a esposa de receber a amiga. Posso compreender seu ponto de vista devido à má fama da mulher, e naquela época a reputação era muito importante. Mesmo assim, não gosto dessa atitude.
Basílio é o típico cafajeste, um homem arrogante, falso, fútil, egoísta e podre. Usa seu charme para encantar Luísa com histórias de viagens e aventuras, e promessas vazias. Assim que ela cede às investidas dele, ele passa a tratá-la de forma diferente, menos atenciosa. Quando ela começa a perceber e tenta deixá-lo, ele volta a enganá-la, e Luísa, ingênua, cai nas graças dele.
Luísa me irritou em grande parte do livro; achei-a extremamente fútil, egoísta e ingênua ao ponto de ser burra.
Ernestinho, primo de Jorge, escrevia uma peça de teatro e enfrentava grandes dificuldades. Ironicamente, a peça falava sobre uma mulher que traía o marido, e este não conseguia perdoá-la e acabava matando-a. Mas seu empresário pediu que mudasse o final para algo mais aceitável ao público, fazendo o marido perdoar a esposa, e Jorge discordou completamente desse final, dizendo que, se fosse ele, mataria a esposa. Para mim, isso é a cereja no topo de um bolo de ironia e sarcasmo que é esse livro.
Acredito que a história de D. Felicidade, apaixonada por um homem que nem lhe notava, influenciou Luísa a criar essa fantasia e a se envolver com Basílio. Ao observar Leopoldina com seus amantes e D. Felicidade encantada pelo Conselheiro, ela se deixou levar por essa atmosfera de paixão envolvente. Sempre se sentindo sozinha devido às constantes viagens do marido, essa solidão contribuiu para a situação. Além disso, Luísa é uma mulher muito romântica, imersa nas páginas de livros de romance, o que também a impulsionou para esse envolvimento.
Pelo que pude observar, a narrativa de Eça de Queiroz é muito característica da época em que foi escrita. A maneira como ele descreve o sentimento da paixão, seja a paixão carnal entre Luísa e Basílio, ou entre Leopoldina e seus amantes, ou ainda a paixão de D. Felicidade pelo Conselheiro, é muito específica e, de certa forma, muito erótica.
A empregada de Luísa, Juliana, tem um amargor compreensível em relação à sua vida. Ela vive em condições precárias, recebendo um tratamento indigno e um salário baixo por seu árduo trabalho diário, mesmo quando está doente. Embora suas atitudes não sejam justificáveis, elas se tornam compreensíveis e dignas de certa empatia.
Tive grande dificuldade em terminar partes do livro, pois a narrativa dos personagens muda constantemente, sem aviso prévio. Em um momento, estamos acompanhando a narrativa de Luísa, depois de Juliana, e ainda de Sebastião, e até mesmo de Jorge. Isso torna a leitura muito confusa e o autor tende a dar descrições muito complexas e repetitivas das características do ambiente, dos personagens e de suas emoções, o que é compreensível para o padrão de escrita daquela época, mas, mesmo assim, acho um pouco cansativo.
No geral, achei o livro de uma genialidade indescritível, completamente revolucionário para a época em que foi publicado, fazendo críticas sociais muito corajosas e sagazes, abordando temas muito repudiados no período, como traição e até uma insinuação sutil de homossexualidade.