Tenda dos Milagres

Tenda dos Milagres Jorge Amado




Resenhas - Tenda dos Milagres


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Polly 11/06/2020

Tenda dos Milagres: um mesmo Brasil (#116)
Antes de Tenda dos Milagres, eu tinha lido apenas um único livro de Jorge Amado em minha estrada como leitora: Mar Morto. Na verdade, já tinha o lido duas vezes. A primeira, aos treze anos, e acho que por ser tão desinformada e ainda cheia de preconceitos, eu estranhei bastante a sensualidade e a religiosidade (diferente da minha) presentes na narrativa. Na segunda vez que o li, eu já tinha mais de 18 e tinha iniciado minha busca pela quebra dos meus preconceitos. Só então eu soube apreciar a beleza e a sacralidade da escrita de Jorge Amado.

Tenda dos Milagres estava aqui em casa, há anos, saindo da estante e voltando outra vez, só esperando o momento certo para ser lido. E, amigos, querem saber de uma coisa? Eu devia ter lido esse livro muito antes. Pois, que livro espetacular! Uma pena que a realidade descrita nele, mesmo depois de 51 anos, é ainda tão atual. Tenda dos Milagres é nosso Brasil de 2020, sem tirar nem pôr, cheio dos seus preconceitos e intolerâncias e desigualdades e, lamentavelmente, num flerte sem fim com o autoritarismo.

Pedro Archanjo é o nosso herói, que só será reconhecido 25 anos depois de sua morte, e apenas através do famoso estadunidense vencedor do Prêmio Nobel da Paz, James Levenson. Bem a cara do nosso país tupiniquim com síndrome de vira-lata, tão sedento por alguém que o colonialize, não é? No entanto, Archanjo não vai ser verdadeiramente valorizado por aqui, até por que Archanjo é tudo o que nossa elite odeia: mulato, pobre, filho de santo e, além de tudo, um agitador social, transgressor do sistema. As portas da universidade só se abrem para ele para o simples cargo de bedel, mesmo Archanjo merecendo muito mais do que isso.

O conhecido Ojuobá é um intelectual dos bons (autodidata, para dar mais raiva ainda). Um antropólogo daqueles que só Tio Sam pra reconhecer mesmo. Archanjo vai burlar o sistema e mostrar que o que falta é só oportunidades iguais, e o resto é balela de supremacista branco.

Archanjo vai escrever quatro livros, um deles estudando a genealogia das principais famílias da Bahia, livro este que será seu fim em vida e sua glória na morte. Sua obra mostrará e escandalizará à elite baiana mostrando que a miscigenação é a identidade do nosso povo e que, se teorias supremacistas já são absurdas por si só, aqui elas não fazem sentido algum, nem se sustentam.

A morte do personagem é linda e triste ao mesmo tempo. Por desafiar à elite, Archanjo vai perder o pouco lugar que conquistou com o seu mérito. Acabará maltrapilho, numa esquina qualquer, esquecido pela Academia ingrata, mas não estará sozinho. O ojuobá é o exemplo e a promessa de que o povo pode vencer. Ele é a fé e a fonte de admiração de um povo sofrido, seu funeral é cheio de poesia, de amor e de gratidão. E de alegria. Por quê, não?
A religiosidade que Amado descreve é uma das coisas mais lindas que já vi. Amo mesmo como os seus personagens se conectam com o Divino, ainda que eles duvidem de sua existência.

Enfim, Tenda dos Milagres só me confirmou o quanto eu preciso ler a obra de Jorge Amado. Acho que não falei nem metade de tudo o que esse livro me fez refletir. Tenda dos Milagres é, ainda, atual e reflete nossas persistentes desigualdades, sendo superválido lê-lo. Indico sem ressalvas!
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Leonardo 04/05/2020

Pedro Archanjo: um dos grandes personagens de nossa literatura nacional
Já conhecia a obra do Jorge Amado por meio de Gabriela e Dona Flor e seus Dois Maridos. Eu procurava algo diferente dentro daquilo que o autor oferecia e optei por Tenda dos Milagres. Embora seja considerado um romance de cunho regionalista, a exemplo de Dona Flor e Gabriela, Tenda dos Milagres é um romance que se diferencia por ter forte crítica social e por colocar o dedo em uma ferida muito ainda presente no Brasil. O romance aborda a questão da discriminação racial. Em vida, o personagem principal, Pedro Archanjo, era combativo. Pedro era um homem do povo, um praticante das festas que cultuavam os orixás. Ele era amigo dos amigos, mulherengo, estudioso autodidata e não dispensador de uma boa cachaça... enfim, um bon vivant. A partir de seus estudos e livros, Pedro começou a incomodar a elite social e acadêmica. Essas elites se escandalizavam com a teoria de Pedro (promoção da miscigenação das raças como forma de aprimoramento da diversidade racial). As elites se escandalizavam com essas teorias que não eram acadêmicas (havia na época uma forte cultura do bacharelado). Para eles só o que era acadêmico seria considerado um saber. Pedro incomodava, pois era mulato, era bedel (cargo administrativo subalterno na universidade). Para essas elites só o que vinha de fora tinha valor (eles cultuavam o famoso complexo de vira-lata). Eles se apegavam a teorias pseudo-científicas ultrapassadas de cunho racista que pregavam a superioridade da raça branca. Isso era uma forma de manter o status quo, as elites no poder. Pedro Archanjo viveu em uma sociedade que reprimia a cultura popular. Para essas elites tudo o que vinha de mestiços e negros não tinha valor e precisava ser banido. Pedro, enquanto vivo, incomodou muito essas elites com suas teorias e ações. Sua escrita combativa vinha da vida. Ela não era opaca como a retórica dos catedráticos de sua época. Pedro provocou muita polêmica ao provar que não havia nenhuma família inteiramente branca na Bahia. Todos tinham um parente negro na família. Depois de morto, por ocasião dos cem anos de seu nascimento, o famoso intelectual James D. Levenson viu em Pedro um grande propagador do estudo da miscigenação. James veio ao Brasil para conhecer a pátria de Pedro. James Levenson falou muito sobre o brilhantismo de Pedro e, aí, finalmente as elites abraçaram Pedro como um grande pensador. Ou seja, foi preciso que um estrangeiro reconhecido desse o devido valor a Pedro para que gente de sua terra o valorizasse. Mas esse “reconhecimento” foi totalmente torto. Promoveram um outro Pedro à condição de herói da pátria. Retiraram de Pedro todo o seu discurso contra o racismo. Fizeram de Pedro uma figura simbólica esvaziada de seu principal discurso. Políticos usaram os festejos para se auto-promover às custas do homenageado. Mesmo morto, Pedro Archanjo não deixou de sofrer discriminação. Em vida, Pedro morreu pobre, abandonado e não devidamente reconhecido. Quando o reacionarismo não vence um adversário, busca trazê-lo, cooptá-lo para o seu lado. Infelizmente ainda não era para a geração de Pedro um período de mudanças profundas na sociedade racista em que ele viveu. Mas uma forte semente foi lançada. Esse é o maior legado de Pedro Archanjo para as futuras gerações.

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Paizinha 28/04/2020

Todas as vezes que leio Jorge Amado, tenho a impressão de que seus livros têm um só personagem: o baiano.

Não é diferente em Tenda dos Milagres, que, como já se disse, é um canto à miscigenação e ao sincretismo, um belo registro da cultura popular e da ascendência negra - não só dos pobres e marginalizados, mas também dos aristocratas baianos do início do século XX.
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Caser 27/03/2020

Jorge Amado faz de Tenda dos Milagres um manifesto à miscigenação, traço idiossincrático do povo brasileiro: contribuição do Brasil à civilização. Vejo que Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, foi certamente um dos referenciais do autor, além, claro, de vários personagens reais e acontecimentos históricos de sua época.

Ler Amado é um prazer. Seus personagens cativam.

Nessa obra, acompanhamos as aventuras e desventuras de Pedro Arcanjo, ojuobá, olhos de xangô, aquele que tudo vê e tudo sabe. Defensor do povo baiano, mestiço, mestre de encantamentos do candomblé e da palavra. É uma referência a figuras históricas da Bahia, como a do antropólogo baiano Miguel Querino, Dorival Caymmi e do próprio Jorge Amado.
Além do protagonista, outros personagens merecem destaque como o amigo e parceiro Lídio Corró. A menção final a Lídio é uma das passagens mais comoventes do livro; Tadeu Canhoto, filho de Pedro Arcanjo – há referências nessa personagem sobre Marighella (Amado e Marighella foram redatores oficiais do PC do B). Rosa de oxalá, o amor não realizado de Arcanjo; a história surreal e lendária de Doroteia, orixá encapetada, mãe de Tadeu, entre outros.

A meu ver, as partes referentes ao tempo presente da narrativa, sobre o Nobel que se interessa pela obra de Pedro Arcanjo, a aspirante a poetisa Ana Mercedes e o jornalista Fausto Pena, é a parte narrativa mais fraca do livro em relação à riqueza da história de Pedro Arcanjo. Aí o autor desejava apontar as relações de aparência e vaidade da mídia, da publicidade e do meio intelectual da época (1969).

Antes de ler o livro, já tinha visto a minissérie da Globo, de 1985, aliás, excelente. Recomendo também (tem DVD).

Leia o livro e depois a minissérie, e, também, se puder e quiser, o filme de 1979, dirigido por Nelson Pereira dos Santos.
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Camila.Dias 20/02/2020

Racismo colocado em evidência
Jorge Amado aborda a questão do racismo e intolerância religiosa nesse livro, que são altamente importantes e atuais.
Leitura recomendada!
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Dandara 04/02/2020

Tenda dos milagres: candomblé em romance
O livro Tenda dos Milagres nos traz uma visão profunda da persecução sofrida pelos terreiros de candomblé nas décadas de 20 e 30. Para contar esse fato, Amado nos traz vários personagens que misturam características criadas e reais. Uma aula de história necessária e importante.
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yuri29 11/10/2019

Magistral, simples assim.
Nunca tinha lido um livro do Jorge Amado. Confesso que essa obra me deixou marcas importantes. Por exemplo, como o conhecimento é importante para nós. Esse livro é fundamental, e na minha opinião, poderia ser obrigatório nas escolas. Nos ajuda a compreender questões como o desdém das autoridades para com a população no Brasil e como, sempre, mas sempre, as questões sociais eram tratadas como coisa de polícia. Jorge Amado trata com maestria a questão do negro do Brasil, do preconceito, da luta do povo baiano e a perseguição religiosa. É até difícil sintetizar em palavras o significado de uma obra desta magnitude. Recomendo "Tenda dos Milagres" para todo mundo.

OBS: Pedro Archanjo já é meu personagem favorito disparado.
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Thiago275 17/03/2019

Um manifesto antirracista
Tenda dos Milagres é o terceiro romance de Jorge Amado que leio. Na escola, li Capitães da Areia e lembro de ter gostado muito. Ano passado, li O País do Carnaval, primeiro romance do autor, e achei apenas ok. Mas Tenda dos Milagres já mostra um escritor maduro, com um estilo bem marcante e sedutor, embora talvez não muito apropriado para as ultra sensibilidades de hoje em dia.

Acompanhamos a história em duas linhas narrativas diferentes. Em primeira pessoa, acompanhamos Fausto Pena, um poeta, e como ele recebeu a incumbência de pesquisar sobre Pedro Archanjo, personagem quase folclórico de Salvador, bedel da Faculdade de Medicina, que escreveu alguns livros sobre a cultura baiana e sobre a miscigenação brasileira. Ocorre que o Prêmio Nobel Americano James D. Levenson entrou em contato com a obra de Pedro Archanjo e de repente, de autor obscuro e rejeitado, ele virou cult. E, na segunda linha narrativa, em terceira pessoa, acompanhamos a trajetória do próprio Pedro Archanjo.

O jeito como Jorge Amado escreveu o livro é bastante interessante para fazermos uma comparação entre os diferentes momentos que o Brasil passava e de como as circunstâncias podem mudar, e as coisas permanecerem, de certa maneira, iguais.

O livro foi publicado em 1969 e a história de Fausto Pena se passa nessa época (é o tempo presente). Em plena ditadura militar, é interessantíssimo acompanharmos a censura (velada ou não) que havia, principalmente na ocasião em que um seminário sobre Pedro Archanjo e sobre miscigenação foi cancelado, pois daria ensejo a "ideias subversivas". Mas claro que o Governo não teve nada a ver com o cancelamento. Foram os próprios organizadores que, baseados num pensamento bastante sensato, decidiram não levar a ideia à frente.

As homenagens feitas a Pedro Archanjo por ocasião de seu centenário são tão distantes da realidade que chegam a ser cômicas (além de hipócritas).

Acompanhando Pedro Archanjo, conhecemos a Tenda dos Milagres, onde vivia seu amigo Lidio Corró, riscador de milagres, ou seja, pintor de cenas milagrosas encomendadas por devotos que iam entregá-las na Igreja. Mas não era só isso a Tenda. Era um misto de gráfica (onde os livros de Pedro eram impressos), teatro, local de reunião do povo, enfim, uma espécie de faculdade particular.

Em oposição, havia a Faculdade de Medicina, onde Pedro era bedel e muito querido entre os estudantes, mas local onde encontramos figuras odiosas, como o Prof. Nilo Argolo, racista convicto de que os negros eram seres inferiores e toda a sua cultura era inferior. Por ironia, a faculdade de medicina era um lugar onde grassava a anti-ciência.

Em contato com Zabela, mulher idosa, hoje pobre, mas que provém de uma família antigamente muito rica e influente, Pedro Archanjo começa a pesquisar sobre os antepassados de todas as famílias ricas de Salvador e, para surpresa de ninguém, desenha a árvore genealógica de figurões (inclusive Nilo Argolo) sem apagar a linhagem negra que todos têm.

Isso causa um escândalo sem precedentes, mas o que Jorge Amado quer nos mostrar aqui, de maneira lúdica, é que a miscigenação é um traço intrínseco da formação do Brasil enquanto país, não existindo brasileiro (com família aqui há gerações) sem traço de sangue branco, negro e indígena. E, longe de representar um demérito, ai reside a força e a beleza de nosso povo.

Para representar isso, Jorge Amado descreve dois episódios muito significativos. Primeiro, Pedro Archanjo se envolve com uma sueca (que na verdade, era finlandesa). Seu nome era Kirsi, branca como a neve, e o filho deles, de volta à Europa, será o Rei da Escandinávia, com traços de brancos e negros.

Outro episódio é quando um determinado personagem se forma na faculdade e a comemoração envolve uma roda de candomblé e também o can can parisiense. espetacular.

Jorge Amado descreve também a perseguição aos terreiros, à capoeira, tudo que fosse ligado à cultura afro-brasileira, perseguição que, infelizmente, não acabou até hoje.

Eu não poderia terminar essa resenha sem falar da linguagem de Jorge Amado, seu traço sensual e gráfico. Nenhum outro autor descreve a beleza feminina, carnal e angelical, como ele. Mas aqui, o politicamente correto passa longe. Amado chama as coisas pelo nome. Velha é velha. Gorda é gorda. Mulato é mulato etc. As pessoas que enxergam racismo e preconceito nisso infelizmente estão perdendo uma grande obra.

Não atribuí nota 5 por alguns trechos no final do livro, quando Pedro Archanjo já está no fim da vida, que achei prolongados demais sem necessidade. Mas, a despeito disso, o livro é sensacional.
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João Ks 16/01/2019

Tenda dos Milagres - Jorge Amado.

Um tapa na cara do preconceito racial: é o que sobressai da narrativa em "Tenda dos Milagres".

O romance, escrito em 1969, conta com as belas ilustrações de Jenner Augusto na edição de 1982 da editora Record.

Na esteira de outras obras de Jorge Amado, o romance revela mais uma vez o estilo provinciano do autor, dotado de uma linguagem simples, por vezes arraigada no vernáculo local com suas gírias e expressões populares. De escrita fluída e pródiga em adjetivações engraçadas, Jorge Amado une o regionalismo pitoresco a temas globais (tal como o racismo), para então desferir sua crítica social.

A estória se passa em Salvador, entre o fim do século XIX e o início do século XX. Nessa época, a cidade da Bahia teria recebido a ilustre visita do Prêmio Nobel James D. Leveason, cientista norte-americano. Conta-se que o cientista teria vindo em busca de informações sobre a vida e a obra do falecido baiano Pedro Archanjo. Figura até então desconhecida dos baianos e dos brasileiros em geral, o nome de Pedro Archanjo se torna a sensação do momento entre os intelectuais e as autoridades locais, despertando assim o interesse da imprensa em geral, todos ávidos por saber quem foi esse homem cujo senso de humanitarismo fora capaz de provocar o interesse do Prêmio Nobel James D. Leveason.

A biografia e a obra de Pedro Archanjo vão sendo narradas pelas mãos do poeta Fausto Pena, um baiano metido a sociólogo que fora contratado por Leveason para realizar a pesquisa em torno da vida e da obra do ignorado Pedro Archanjo.

Da vida de Archanjo, descobre-se que fora um mulato baiano, órfão de pai, criado na amizade das rodas de capoeira, dos terreiros de candomblé, das casas de meretrício e da Tenda dos Milagres. Archanjo foi bedel (inspetor) da Faculdade de Medicina da Bahia, mas também foi Ojuobá (olhos de Xangô) nos rituais do candomblé. Desde cedo movido pela curiosidade, demonstrou interesse pela leitura, sempre tomando nota da sabedoria popular. Assim sendo, transitava com simpatia tanto entre os intelectuais como entre os populares, demonstrando sua crença e aptidão para a ciência, sem esquecer a paixão e admiração pela cultura vulgar. Na Tenda dos Milagres, onde o amigo e compadre Lídio Corró riscava milagres, Archanjo passava a maior parte do tempo, em prosa saborosa com os amigos, a dedilhar seu cavaquinho e a se jogar nas danças envolventes do candomblé.

Da obra de Archanjo foi possível descobrir o seu talento científico para a antropologia e a etnografia. Em quatro livros até então relegados ao anonimato, Pedro Archanjo tecera importantes considerações sobre a mestiçagem enquanto traço étnico do povo brasileiro e indisfarçável fator de nosso sincretismo cultural. Archanjo demonstrara que mesmo a elite branca, enfurnada em seu tosco preconceito racial, constitui parte da árvore genealógica baiana onde brancos e mulatos comungam de antepassados africanos.

A mistura étnica entre brancos e negros que resultara no baiano mestiço é louvada na obra de Archanjo. Ali, segundo o herói da estória, reside a beleza e a rica sabedoria popular do povo baiano. Archanjo nos faz sentir que a mestiçagem contribuiu para o enriquecimento da cultura e marcou para sempre a identidade daquele povo.

No entanto, o trágico e o burlesco residem no fato de que a descoberta da obra de Archanjo só foi possível em razão do interesse que nela demonstrou o cientista estrangeiro J.D.Leveason. E pior, toda a agitação nos meios político e midiático gerada pela descoberta da obra de Archanjo possuía interesses escusos, tais como o faturamento com a venda de periódicos e a aquisição de capital político à custa da imagem do saudoso Pedro Archanjo.

Como se não bastasse, os eventos realizados em torno da comemoração do centenário de Archanjo, em plena ditadura militar, tiveram o cuidado de deturpar a imagem e a obra do falecido baiano. Não economizaram em eufemismos e na perfumaria. Atribuíram a Archanjo ares de fidalgo, fumos de nobreza, feitio de homem branco e austero. Às favas! Archanjo era bom mulato, boêmio querido, nascido do povo! De sua obra a impressa ainda arrancara a essência, escondeu-lhe o âmago, nada falou sobre a tese em torno da mestiçagem, só faltando mesmo (pasmem!) atribuir-lhe simpatia ao arianismo.

Não fosse o interesse do cientista estrangeiro, sequer seria possível aos brasileiros tomar conhecimento do poderoso senso de humanitarismo de Pedro Archanjo, calcado na mestiçagem como fator étnico a legitimar o pluralismo cultural na Bahia.

Pedro Archanjo, o herói da estória, revelou-se paladino contra a discriminação e o preconceito racial.

Por fim, esses e outros fatos, todos carregados de poesia e de bom-humor, dão o colorido da narrativa em "Tenda dos Milagres".

Boas leituras!
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Dude 02/12/2018

Tenda dos Milagres
Bom livro que fala sobre racismo e miscigenação. Obrigatório em dias como hoje que acusam Jorge Amado de racista.
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Fabio Shiva 30/04/2018

viva a mistura!
Reli este livro, que considero dos melhores de Jorge, com grande emoção, bebendo cada página como se fosse um gole da melhor cachaça já produzida na Bahia – e assim é!

A história de Pedro Archanjo, “pobre, pardo e paisano” que combateu o racismo de teorias pseudocientíficas (como a antropologia física) com a própria vida e obra, é fascinante, cativante, emocionante. Cheguei às últimas páginas com um nó na garganta, por estar perto do fim, por ter que dar adeus a mestre Archanjo, mesmo lendo o livro pela segunda vez.

Quanto mais leio Jorge, mais ele é Amado por mim! Que gratidão pela existência desse grande mestre da literatura universal!

Salve Jorge!!!

***
“É mestiça a face do povo brasileiro e é mestiça a sua cultura.”

#1livropordia

http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com.br/2018/04/tenda-dos-milagres-jorge-amado.html


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
José Frota 01/05/2018minha estante
Que legal


Fabio Shiva 02/05/2018minha estante
Salve amigo!


José Frota 02/05/2018minha estante
Salve. Te escrevi.




Carlos531 07/04/2018

Historia crítica e emocionante.
Misturar o sincretismo religioso com todo o acervo cultura bahiano, e de vez em quando, críticas sociais na sociedade vigente, Jorge Amado faz com maestria. Dentre as 300 páginas do romance, não há um minuto sequer de tédio literário. Vale muito a pena ler essa obra!
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Julio.Argibay 06/03/2018

Pedro Archanjo eh o personagem principal desta estória de Jorge Amado, figura ímpar na sociedade baiana e profundo conhecedor da cultura afro em Salvador. Médico, historiador, defensor da miscigenação como meio de minimar os problemas raciais na sociedade. Como pano fundo a religiosidade e a cultura afro eh evidenciada nas estórias dos personagens secundarios neste romance. Um livro difícil pois a leitura não é fluida, exige muita atenção e paciencia do leitor. Eh deixar rolar...
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Bruna.Patti 07/01/2018

Tenda dos milagres
Resenha
Livro: Tenda dos Milagres
Autor: Jorge Amado
Ano de lançamento: 1969

Tenda dos Milagres, livro predileto do autor Jorge Amado , se passa em duas épocas diferentes: tempo presente e passado, na virada do século XIX para o XX. O livro se passa na Bahia, e acompanhamos o trabalho de Fontes, um antropólogo poeta, que começou a pesquisar sobre a vida de Pedro Archanjo, um cidadão extremamente influente na sociedade baiana. Mas Fontes não começa a pesquisar a vida desse escritor, cientista, poeta por vontade própria: recebe a encomenda de um gringo, que vindo ao Brasil, declara amar a obra de Pedro Archanjo.
Já no começo da obra, podemos perceber a crítica ao colonialismo: Pedro Archanjo já era estudada na Bahia, por professores de Universidades, porém, ele apenas começou a fazer sucesso na mídia quando um gringo evidenciou a importância de sua vida e obra, denotando que apenas o que vem de fora é bom, pois até aquele momento da obra, ninguém ligava para Pedro Archanjo, nem ao menos sabiam da existência desse homem.
Pedro Archanjo era escritor. Foi bedel da Faculdade de Medicina da Bahia. Bedel é um cargo administrativo de pequeno porte em universidades, profissão que exerceu durante mais de 30 anos. Archanjo questionava a sociedade racista de sua época. Na virada do século XIX para o XX podemos acompanhar através do enredo do livro, as teorias eugenistas, que a medicina brasileira ajudou a corroborar , do começo do século. Essas teorias diziam que a sociedade brasileira deveria se livrar dos mestiços e dos negros, em busca de formar uma sociedade pura, branca. Acompanhamos com dor as várias demonstrações de racismo, onde os negros e mestiços são apontados como criminosos única e exclusivamente pela sua cor, o tamanho de seu crânio , ou suas feições.

O quadro A Redenção de Cam, do pintor Modesto Brocos evidencia as teorias eugenistas do começo do século. Nessa pintura, temos uma mãe negra, que possui uma filha um pouco mais clara, mas ainda negra e um genro branco, nascendo seu neto branco. A mãe levanta as mãos para o céu, agradecendo a benção de conseguir finalmente branquear sua família. O título do quadro remete à história bíblica da maldição lançada por Noé ao seu filho Cam, que disse que ele seria o último escravo dos seus irmãos. Os povos de pele escura seriam descendentes de Cam, justificativa que foi utilizada por muito tempo para validar a escravidão.
Além disso, Pedro Archanjo era do candomblé, religião marginalizada e perseguida, desde a época retratada no livro, até o presente em nossa sociedade. No livro retrata-se a perseguição aos terreiros de candomblé, muitas vezes tendo suas giras e festas reprimidas com violência. Não somente as manifestações religiosas eram reprimidas com violência, mas todos as características da cultura do povo negro, como as comidas típicas, a luta da capoeira. Vemos as dificuldades que os negros tinham para estudar, trabalhar em empregos dignos, mesmo lutando para isso acontecer.
Pedro Archanjo acreditava que a chave para o combate ao racismo estava na mistura que forma nosso povo, visto que todos nós possuímos sangue negro. Esse livro é uma homenagem ao povo negro, que tanta batalha e sofre com o racismo nosso de cada dia. É um Foi escrito em 1969, mas poderia ter sido escrito hoje, por conta de todos os problemas que ainda assolam nossa sociedade. É um livro-protesto, que coloca sal na ferida do racismo, um livro que aponta sem medo. Como dizia Pedro Archanjo, ainda que tentem nos derrubar, somos muitos, e sempre nascerão mais de nós.
Deixo vocês com um trecho da música Eu só peço a Deus, de Renan Inquérito:
“É o Brasil da mistura, miscigenação
Quem não tem sangue de preto na veia deve ter na mão
Eu só peço a Deus!”


LINK DO MEU BLOG ABAIXO:


site: http://abiologaqueamavalivros.blogspot.com.br/2018/01/tenda-dos-milagres.html
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Paulo Sousa 30/12/2017

Tenda dos milagres, de Jorge Amado
Livro lido 4°/Dez//61°/2017
Título: Tenda dos milagres
Autor: Jorge Amado (Brasil)
Editora: @companhiadasletras
Ano de lançamento: 1968
Ano desta edição: 2008
Páginas: 320
Classificação: ??????????
_______________________________________________
um ano sem ler jorge amado é um ano perdido. para não perder de todo meu ano de leituras decido findar 2017 com ?tenda dos milagres?, essa obra soberba e fundamental no imenso conjunto literário do escritor baiano.
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o livro é protagonizado pelo bedel pedro archanjo, mulato das bandas do pelourinho, empregado da faculdade de medicina da bahia, que constrói sozinho, apesar de opiniões contrárias, a mais importante obra antropológica do século XX. totalmente autodidata, archanjo, profundo conhecedor das gentes e costumes da bahia, traz nos quatro livros seus a tese da miscigenação total, fato que lhe custou ardorosa perseguição pro parte do doutor nilo argolo, o eminente professor daquela faculdade e claramente pró arianista.
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o livro em si é a reconstrução da vida de archanjo, já após sua morte, provocada pela chegada ao brasil do prêmio nobel americano james levenson, que, ao chegar à salvador, profere à imprensa a grande importância dos livros do mulato em terras norte-americanas, o que causou furor e certo mal-estar entre a comunidade científica, alheia aos livros e pensamentos de archanjo.
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jorge amado trata, no livro, do problema da intolerância e preconceito raciais, da famigerada máxima lombrosiana de que a tendência à criminalidade está intrinsecamente ligada à cor da pele. e ao criar dois personagens ambivalentes (archanjo e argolo) amado personifica o embate entre o cientifismo arrogantemente pedante e arcaico contra o o autodidatismo nascido dentro da comunidade baiana, negra e macumbeira.
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jorge amado é mestre em criar heróis, muitos deles defensores de causas perdidas. diferente das histórias juvenis e românticas, onde o herói sempre casa com a princesa e ?são felizes para sempre?, em jorge o herói é marcante por ser parecido com a gente comum e por isso fatalmente sujeito à ruína. jorge soube como ninguém retratar as gentes e costumes da bahia, toda a beleza e musicalidade (não me refiro ao ritmo axé, mas a algo mais amplo) das tradições baianas enraizadas nos ancestrais afrodescendentes, os sabores, a alegria, os desmazelados, foi um escritor cuja verve sempre me encantou. e seus heróis, homens e mulheres que antes de tudo souberam buscar o sentido de viver dentro de suas origens, proclamaram sem medo o que a bahia tem de melhor, até cientista antropólogo como foi o caso de archanjo. leitor disciplinado, o personagem vai rebatendo sem dó através de seus livros as ?profetadas? sem embasamento científico de nilo argolo, branco de origem negra, mas que tenta esconder a todo custo suas origens africanas. como recompensa, morre pobre e velho num dos muitos becos do pelourinho, sem nunca ter conseguido o reconhecimento por ter produzido tão profícuo estudo de raças e matizes em seus livros, aliás, publicados a muito esforço na oficina tipográfica ?tenda dos milagres, de seu amigo de toda a vida lídio corró.
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gosto de errar pelas ladeiras do pelourinho. caminhar e absorver toda a atmosfera daquele lugar como que me transporta para dentro dos livros de jorge, esse mestre da literatura, só não maior que machado de assis, criador de livros a cujos heróis me fizeram rir, chorar, emocionar, como foi o pedro bala de ?capitães da areia?, o guma de ?mar morto?, o quincas berro d?água, o jubiabá do livro homônimo, a perdição de todo um povoado, tocaia grande e agora pedro archanjo, mestre cujo inglório desconhecimento o levou ao cabedal de meus personagens preferidos.
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