Tenda dos Milagres

Tenda dos Milagres Jorge Amado




Resenhas - Tenda dos Milagres


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Nélio 16/09/2017

Que livro bom de ser lido! O meu encantamento pela obra de Jorge Amado só aumenta!
Realmente, não podemos nos descuidar de ler os (bons) autores brasileiros. É o quinto livro dele que leio e não vou parar por aqui, só não consigo ordenar quais lerei primeiro, pois cada vez que tento escolher, mudo o próximo...rs
Tenda dos milagres é aquele livro que te faz viajar, que te faz conhecer nosso Brasil, que te mostra os “meandros do poder” e, mais do que nunca, que escancara o ser humano, em especial o brasileiro, claro! Nossas virtudes e nossas mazelas.
Somos um povo que renega sua cultura e seu saber em detrimento do que vem de fora. Pedro Archanjo só veio a ser “valorizado” pelo nosso povo quando um estrangeiro veio para dizer da sua qualidade.
Mas somos acolhedores, amigos, muitas vezes despreocupados até em excesso! Pedro é assim, inclusive fiel em suas amizades: “Nem por um níquel nem pela moeda inestimável do amor de Rosa de Oxalá vendera o amigo.”
O engajamento político na obra é algo que sozinho merece milhões de comentários. Para citar, temos o enfrentamento, a rebeldia, do povo contra o governo nas duas épocas que são narradas no livro, os problemas com a mestiçagem, com as africanidades etc.
O livro é recheado de ironias, principalmente quanto à diferença entre saber formal (ciência, formação acadêmica) e saber popular (comum, vivência). “A secretária (...) compareceu: lutando bravamente por um lugar ao sol entre tantos etnólogos, antropólogos, sociólogos, todos de mestrado feito, a maioria beneficiária de bolsa de estudo em universidades e boates estrangeiras(...).” Quantas reflexões não me causaram passagens como essa!
A questão do racismo, da mestiçagem, é algo muito bem abordado pelo autor. Sendo uma obra literária, ele não ficou na teorização, mas ele bem mesclou reflexões e comentários aos fatos contados no livro. Tudo muito pertinente que mostra como somos um povo pífio na compreensão da nossa formação, como povo mesmo! Nossa miscigenação é o que nos torna tão especiais, mas ainda há aqueles que acham que ela é o mal. Somos o que somos devido a ela! Quanta riqueza cultural, social e sentimental trazemos em nosso ser!
“Apenas trato de extirpar o mal pela raiz, evitando que ele se propague. No dia em que tivermos terminado com toda essa porcaria, o índice de criminalidade em Salvador vai diminuir enormemente e por fim poderemos dizer que nossa terra é civilizada.” A fala é de quem queria acabar com os negros na Bahia.
São tantas coisas! Que nem quero comentar, não posso contar! Espero que fique somente o gostinho... A riqueza do livro é imensa!
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Fimbrethil Call 24/06/2017

Lindo!
Adorei esse livro, muito muito bom! Um livro lindo! Como o próprio seu Jorge diz: "Viva Pedro Archanjo!, viva a cachaça Crocodilo!"
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Thiago Barbosa Santos 07/04/2017

Um clássico romance de engajamento!
Pedro Archanjo não é tão conhecido como Dona Flor, Tieta, Gabriela ou Quincas Berro D'Água, mas é tão ou mais importante que todas essas outras personagens criadas pelo genial Jorge Amado. Ele é protagonista de uma obra valiosíssima do escritor baiano. Tenda dos Milagres é um clássico romance de engajamento que discute com profundidade a questão racial no Brasil, sobretudo na Bahia.

Pedro Archanjo é um mulato que, como todos os outros, nasceu pobre, sem oportunidades de ascensão social e sem acesso às letras. Mas contrariou as estatísticas, foi um autodidata, leu muitos livros e buscou o conhecimento. Era também um exímio observador dos costumes do negro baiano. Criou com o amigo Lídio Corró a Tenda dos Milagres, espaço para a celebração da cultura negra e onde funcionava uma pequena gráfica que imprimia livros que eram marginalizados pelas grandes editoras.

Foi na Tenda dos Milagres que Pedro Archanjo publicou seus estudos sobre a cultura negra na Bahia e os enviou para universidades do Brasil e de outros países. Ele começou a ganhar notoriedade e conquistou um emprego na Faculdade de Medicina. Lá, encontrou o grande rival dele, o professor Nilo Argolo, que era racista e pregava o extermínio de negros e da mestiçagem.

O mulato Archanjo publicou então um livro que gerou muita repercussão. Um estudo aprofundado que mostrava que, na Bahia, não existia a tal 'raça ariana' cultuada por Nilo Argolo. Inclusive, o arrogante professor era bisneto de um negro e primo distante do próprio Pedro Archanjo. Em Tenda dos Milagres, Jorge Amado toca também na ferida da repressão ao candomblé que ocorreu na Bahia. É uma ficção altamente verossimilhante. Aliás, é totalmente baseada na realidade. Um romance escrito em 1969 e muito atual, pois apesar dos avanços alcançados na luta contra o racismo no país, nossa sociedade tem muito ainda a evoluir. Tenda dos Milagres é um dos grandes livros que discutem a questão racial no Brasil, um tiro.certeiro do mestre Jorge Amado.
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Jhons Cassimiro 02/04/2017

Jorge Amado é a personificação do respeito
Certa vez ouvi de um leitor de Jorge Amado que o livro Tenda dos Milagres não era o seu favorito porque os seus personagens principais não possuíam tanto encantamento quanto outros do autor, como Tieta ou Gabriela.
Talvez a sedução de protagonistas femininas ofereça maior encanto, e compreendo Tenda dos Milagres de outra maneira. Não se trata de um livro sobre uma pessoa específica. Também não consigo enxergar Pedro Archanjo e Lídio Corró como personagens inesquecíveis da literatura nacional, e talvez isso se dá porque eles representam o povo comum, e temos o hábito de valorizar o mais extravagante, como as citadas mulheres das outras obras.
Como o próprio título já revela, é a tenda dos milagres a protagonista. Não apenas a tenda física (o local onde Pedro realiza seus escritos e Lídio pinta os milagres do povo, localizada na cidade da Bahia), mas também a Bahia e o próprio Brasil, o povo brasileiro.
Somos heterogêneos, estamos rodeados de misticismo, crenças, atitudes, hábitos que são originados da miscigenação de um povo. Apesar de mais de 500 anos de país, o Estado ainda trata seus cidadãos com rótulos. Ou se é branco ou negro. O racismo continua sendo evidente e junto com ele, a intolerância religiosa se mostra como problema social.
Aquilo que Jorge Amado criticou em seu livro, ou seja, a separação nítida das raças, onde se coloca cada um em seu lugar, continua existindo. Ignora-se o fato de que não somos homogêneos, isto que nos concede graça como pessoas.
Por falar em graça, a religiosidade de um povo é retratada e enaltecida como algo legítimo e digno de respeito. Jorge Amado, ateu e comunista mostra ao leitor todo encantamento dos orixás, sendo necessário estar disposto ao aprendizado (para aqueles que não conhecem) e à tolerância (para aqueles que não são seguidores daquelas crenças).
Talvez o ponto alto desta obra (e de outras do autor) seja fazer o leitor manter a cabeça aberta e lançar luzes sobre os absurdos que a sociedade "branca" continua fazendo com o povo mestiço e preto.
Jorge Amado, enquanto político do Partido Comunista do Brasil, produziu feito grandioso ao criar lei na Constituição Federal, que garantiu a liberdade de culto religioso. Jorge Amado, enquanto escritor ateu, tentou cumprir um importante papel da literatura: transformar as pessoas.
O leitor percebe o realismo fantástico nas cenas, mas não consegue ridicularizá-las segundo sua ausência de crença, mas sim respeita aquilo, mesmo que lhe pareça estranho. Dessa forma, o livro consegue transformar o leitor, que ao fazer uma analogia com a vida fora do livro, entende a necessidade e a importância do respeito à individualidade de seus semelhantes.
Apropriando-me de uma linguagem simbólica, podemos dizer que Jorge Amado é a personificação do respeito; uma atitude tão corrompida em nossa sociedade, que paradoxalmente o exige, ao passo que não o pratica.


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Naty 11/03/2017

Rico em pormenores e super críico. Pena que não dou lá uma fã de Jorje Amado.
Esse livro é uma defesa de tese construída por Jorge Amado em forma de narrativa. Em todo o tempo, ele defende o misticismo, critica hierarquias sociais, critica posicionamentos tendenciosos e mentirosos da imprensa, além de, como em todos os seus livros, faz uma abordagem do universo da Bahia.
Primeiramente, quero dizer que não foi um livro que eu gostei ou que é fácil de ler. Na verdade, ele está mais para um compilado crítico de tudo o que Jorge Amado acreditava do que para uma leitura divertida. A linguagem do autor também fica um pouco mais densa e ele aborda o universo de duas épocas distintas simultaneamente. No entanto, nada disso pode negar a originalidade e a forma bem tramada como cada página foi escrita.
A seguir, destacarei diversos pontos e excertos interessantes desse livro:
-“Nesse território, a capoeira angola se enriqueceu e transformou: sem deixar de ser luta foi balé.”
-Em cada parte do livro, ele usa distintas vozes narrativas ou funções da linguagem, desde a referencial até a fática.
-“Como se aquela gente...visse no finado não um ser de carne e osso e, sim, um coorte de heróis e mágicos, tantas e tais façanhas lhe atribuem. Jamais consegui estabelecer o limite entre a informação, a invenção, a realidade e a fantasia”---Essa parte é bem interessante já que destaca a forma como as pessoas respeitavam e viam o famoso Pedro Arcanjo, mas não é só isso. Esse excerto é o comentário de um pesquisados que escreveu a biografia de Pedro Arcano para enviá-la ao estrangeiro ganhador do prêmio Nobel que evidenciou conhecer e admirar as obras de Pedro Arcanjo.
É engraçado perceber que, muito depois da morte de Arcanjo, ele foi relembrado, no entanto, não por ser valorizado em seu país, mas em países diferentes. É apenas a partir daí que suas obras começam a ser lidas e, até mesmo intelectuais que rejeitavam os ideais ali propagados, começam a elogiar e fazer cerimônias de celebração às suas obras.
No meio dessa parafernália de hipocrisia, o conteúdo da obra de Arcanjo acaba esvaindo aos poucos já que ele é transformado apenas em um marketing ou marco. A realidade da vida dele: pobreza, candomblé, luta pelo direito dos mulatos, etc são resignados ao segundo plano e ele vira mais um mote da indústria cultural. Ele, a desconstrução do tradicionalismo, a complexidade do pensamento, foi decomposto em míseras imagens irreais de realidade.
O exemplo mais absurdo dessa desconstrução de sua imagem foi sua utilização para o marketing de um restaurante. Dá para acreditar??? Alguns excertos que revelam mais do que eu acabei de explicitar são:
“Lendo-os, tinha-se a impressão de que o nome e os livros de Arcanjo jamais se encontraram na obscuridade e no anonimato de onde os foram tirar as citações de Levenson, e sim, em permanente evidência e brilho, proclamados aos quatro ventos. ”
“Pedro Arcanjo a serviço de refrigerante! É o fim! ”
-Um outro personagem que se destaca na obra é um professor da faculdade de medicina que é extremamente defensor dos preceitos tradicionais e fica enfurecido com a propagação de práticas que ele considera desrespeitosas à sua moral excludente, estamental e preconceituosa.
“Espumava o insigne cidadão e eu não lhe nego motivos para tamanha cólera. Dedicara sua existência a clamar contra a pornéia, a dissolução dos costumes, os maiôs, Marx e Lênin, o abastardamento da...última flor do Lácio, e que resultados obtivera? Nenhum...pornografia nos livros...Fidel Castro...desprezam as regras da gramática”
-Outro fator de grande peso na obra foi o conteúdo de um dos livros o qual apresenta a árvore genealógica das famílias da Bahia e suas diversas mestiçagens. Naquela época, a visão do branco como superior era muito forte o que gerou inúmeros embates dele com pessoas que não aceitavam ter ascendentes negros. Para ir ainda mais fundo, Jorge Amado já introduz aspectos mais contemporâneos como a valorização do dinheiro.
“...não há branco nem negro, há rico e pobre tão somente...o dinheiro embranquece”
- Jorge Amado ainda traz um relato bem interessante e preconceituoso de um jornal: “As gazetas protestavam contra “o modo por que se tem africanizado entre nós, a festa do carnaval, essa grande festa da civilização”...fracasso das grandes sociedades carnavalescas...”o que será do carnaval de 1902, se a polícia não providenciar para que nossas ruas não apresentem o aspecto de terreiros”. Nessa época, o espírito antipopular da imprensa via as manifestações culturais de extração africanas como bárbaras, um obstáculo ao avanço da civilização em terras bahianas.
- O amor livre também reaparece nessa bra também na figura de Arcanjo: “ Tudo o que é bom tem sua duração exata, tem de se acabar no prazo certo se quisermos que perdure para sempre”
-Quando Arcanjo foi transformado em “grande homem” e um jornalista leu a biografia que um dos personagens fez contando a vida dele na íntegra, o jornalista afirma algo muito interessante e que corrobora para reafirmar o que já expressei acima: “Meu caro porta, aprenda esta lição: um grande homem tem de possuir integridade moral e se, por acaso, transigiu e prevaricou, cabe-nos repô-lo em sua perfeição. Os grandes homens são patrimônios da pátria, exemplos para as novas gerações: devemos mantê-los no altar do gênio e da virtude”.
Em suma, Jorge Amado defende que a identidade negra não interessa ao Brasil e sim a identidade mestiça. Há outros pontos que não abordei como a história, em paralelo, de um amigo negro de uma família de brancos que se apaixona pela filha da família e só aí nós, leitores, conseguimos ver que o preconceito está em quem diz não ter preconceito. Ele podia até ser amigo de um negro, mas sua filha se casar com um nunca. No fim dessa trama paralela, esse menino acaba estudando e ficando muito rico, momento esse em que o problema vai diminuindo já que preto rico é branco, né?





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Eric Silva - Blog Conhecer Tudo 07/03/2017

Uma obra densa e fantástica pela sua qualidade crítica e engajamento político
Quinto livro da campanha do #AnoDoBrasil, Tenda dos Milagres é uma obra densa e fantástica pela sua qualidade crítica e engajamento político, bem como por sua importância que supera a monotonia de alguns de seus capítulos.

Já li alguns livros de Amado, entre eles Capitães da Areia, e pude atestar o quanto é politizada e crítica a sua obra, talvez isso seja uma das coisas que mais admiro no autor baiano. Contudo, tenho para mim que Tenda dos Milagres tenha sido, dos romances do autor que já li, aquele que revela este caráter crítico de forma mais contundente.

O livro abriga em si uma denúncia extensiva do racismo e da perseguição contra as religiões de matriz africana na Bahia do início do século XX. Aborda com humor, as vezes com asco e bastante realismo, como até mesmo a ciência era usada e descaradamente manipulada para justificar e comprovar cientificamente a inferioridade de negros e mulatos, justificando deste modo o ódio dispensado a estes grupos e a marginalização a eles imposta. Politicamente engajado, mulato, pobre e frequentador do terreiro de mãe Majé Bassan, Pedro Archanjo, personagem principal da trama, é em si a personificação de tudo que a elite soteropolitana mais desprezava, reunindo os elementos de ambas as discussões engendradas pelo livro, no entanto, mais do que isso, Pedro é um personagem que veio para quebrar estereótipos e tabus e o faz magnificamente bem.

Venha e confira a resenha completa no blog.
http://conhecertudoemais.blogspot.com/2017/03/tenda-dos-milagres-jorge-amado-resenha.html

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Exusiaco 10/11/2015

Em nome e em prol da miscigenação e da cultura popular, a narrativa se faz um libelo e uma espécie de resistência contra os atropelos da civilização ocidental que, calcada no evolucionismo social e no determinismo de Taine, dentre outra teorias de cunho positivista, visava a descaracterizar e instrumentalizar as culturas ditas primitivas para melhor suprir seus fins colonialistas e de lucros capitalistas na vertiginosa implantação da ideologia industrial.

Narrado em dois tempos alternados, um no tempo de Pedro Archanjo, no início do século XX e outra no tempo do feitio da obra, no final dos anos 60, já em tempos de avanço crítico do marxismo com a escola de Frankfurt num contexto em que J. Amado já se afastara da ortodoxia marxista. A obra traz a descoberta por um intelectual e etnólogo estadunidense, vencedor do prêmio Nobel, da figura de Pedro Archanjo, um desconhecido bedel de faculdade que de forma autoditadata, através de árduas pesquisas produziu obras de grande interesse antropológico, ciência já não mais eivada de evolucionismo social, embebidas com idéias de Franz Boas, Malinowski, com suas pesquisas de campo e etnografias que desierarquizavam e igualavam quaisquer culturas em termos de superioridade ou inferioridade.

Com sua obras reconhecidas por um gringo de renome, Pedro Archanjo foi alvo de comemorações e oportunistas estocadas políticas e de marketing, concorrências entre a imprensa para melhor tirar proveito do baiano recém alçado em ilustre figura, com farpas de Amado também à sociedade de consumo. Num caldo já pós-moderno, jornais e marketing se valem da celebridade de Archanjo para suprir seus interesses mercadológicos, desvirtuando em muito a figura do intelectual baiano.

Toda a saga de Archanjo foi bem alinhavada por Amado de modo a fazer emergir a cultura do povo em meio ao Candomblé, à capoeira e à cachaça. A tenda dos milagres era um local, direcionado por Archanjo e Lídio Corró, um riscador de milagres na forma de pinturas, onde se convergia e se condensava todo o grosso da cultura popular baiana. Ali também era mantida custosamente uma gráfica em que eram impressas as obras de Archanjo, com poucos exemplares, grande parte enviada para grandes centros universitários do Brasil e do exterior cuidadosamente por Lídio Corró, daí a descoberta do aqui desprezado Archanjo pelo eminente antropólogo americano James D. Levenson.

A perseguição e repressão ao candomblé e à cultura negra e mulata em geral, considerada como degenerescência pelos guardiões da cultural ocidental oficial, foi bem explicitada, situada em forma de ovo da serpente que já se insinuava e se configurava com o nazismo e a idéia de raça pura que aqui também se refletia, personificada na figura do professor Nilo Argolo. É a versão de Amado para a civilização, o progresso e a barbárie. Ainda bem que o ovo da serpente aqui chocado, foi depois suprimido e o extremismo intolerante aqui não vingou, apesar de que muitos traços ainda continuam, não foram extirpados, permanecem em latência e podem retornar em novas formas de intolerância que se insinuam, diga-se bancada evangélica, de passagem. Uma histórica forte repressão aos terreiros de Candomblé da Bahia foi assim narrada, demonstrando, com a fuga de muitos de seus representantes e seus ogãs para o Rio de Janeiro, a configuração germinal do samba carioca.

As personagens, entre situações líricas e realismo mágico com interferências de orixás, foram construídas de modo a reconfigurar a idéia de família tradicional ocidental, tão caras à modernidade e às teorias psicanalíticas como o complexo de Édipo de Freud. Vejo isso no episódio da entidade iaba, uma espécie de "tinhosa" que não ama e não "gosa", que surge para desonrar Archanjo, um potentado sexual, visando converter sua genitália em torresmo. Pedro Archanjo Ojuobá, olhos de Xangô, foi por este protegido e, através de ebós e preparos herbáceos, vence a Iaba e esta se converte na pessoa de Dorotéia. Doróteía concebe um filho que é entregue para ser educado por Archanjo e Corró na tenda dos milagres. O menino Tadeu Canhoto se dedica em muito aos estudos, se forma em engenheraria, se casa com uma moça de familia rica e tradicional e obtém completo êxito na vida profissional. Isso é um golpe contra as teorias racialistas que consideram a miscigenação uma degenerescência e têm ressonância também na psicanálise e na construção da mente nos termos de neuroses e recalques a partir da idéia de família tradicional.

Jorge Amado intentou alçar as culturas amalgamantes formadoras do Brasil todas em pé de igualdade, em detrimento de um comando unilateral forçado em que se arroga a civilização ocidental.
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Tauan 22/09/2015

Tenda
Mais um dos livros considerados clássicos que conquistaram um lugar entre os meu favoritos. Apesar de não ser o primeiro que eu li do Jorge Amado, foi o primeiro que eu recomendaria. Ele apresenta um linguagem mais "divertida" de se ler, em um contexto mais próximo a mim, e não perde a "caliencia" características dos livros do escritor baiano.
A história é contada retrospectivamente, em dois tempos. Em 1968, a passagem por Salvador de um célebre etnólogo americano admirador de Pedro Archanjo (que atua como uma espécie de intelectual orgânico do povo afro-descendente da Bahia, sendo autodidata, seus estudos sobre a herança cultural africana e sua defesa entusiástica da miscigenação abalam a ortodoxia acadêmica e causam indignação entre a elite branca e racista) desencadeia um revival de sua vida e obra. Para a comemoração do centenário de nascimento do herói redescoberto, arma-se todo um circo midiático.
Contrapondo-se a essa apropriação política da imagem de Archanjo, sua trajetória é narrada paralelamente como foi preservada na memória do povo: os amores, as polêmicas com os luminares da universidade, os confrontos com a polícia.
O livro foi adaptado para o cinema e para a televisão, na forma de minissérie, homonimamente.

site: http://pausaparaaleitura.blogspot.com.br/
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@Vicahelena 31/05/2015

Tenda dos milagres
Livro muito chato e cansativo. Mas conta bem em detalhes do racismo na bahia.
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AmadosLivros 22/11/2014

Resenha no blog Amados Livros
Não deixe de conferir nossa opinião sobre este livro no nosso blog! E lá também tem muitos outros livros legais! Dê uma passadinha lá! ;D
Link no final da postagem! ;]

site: http://amadoslivros.blogspot.com.br/2014/08/livro-tenda-dos-milagres.html
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Walmir 31/05/2014

excelente obra !
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Gláucia 17/02/2014

Tenda dos Milagres - Jorge Amado
O livro fala da vida de Pedro Archanjo, bedel da faculdade de medicina, auto didata, autor de livros sobre miscigenação, capoeirista, materialista adepto do candomblé, mulato...
O posfácio nos conta que é o livro preferido do autor e achei um pouco diferente dos outros que li dele. Escrito nos tempos da ditadura, tem um tom de engajamento político e muita coisa foi disfarçada e modificada para passar na censura, incluindo alguns personagens. O próprio Archanjo é uma mistura de várias pessoas reais.
O livro é escrito de trás pra frente e sua leitura foi um pouco arrastada, não muito envolvente. Faltou carisma para o protagonista, não na sua caracterização mas na forma com que o autor no-lo apresenta. Ficou faltando emoção, sal e tempero.

site: http://www.youtube.com/watch?v=Wx2t_5LJnYc
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