As rãs

As rãs Mo Yan




Resenhas - As Rãs


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joedsonfrl 25/06/2021

A verdadeira face da política do filho único
"No final de 1965, o rápido crescimento populacional causou inquietação nos altos escalões. Com isso, veio a primeira grande onda de planejamento familiar desde a fundação da Nova China. O governo lançou o seguinte slogan: “Um não é pouco; dois é bom; três é demais”

O livro nos conta como se deu, na prática, a política de filho único na China que vigorou de meados dos anos 70 até 2016, suas consequências, injustiças e danos nos aspectos psicológicos, culturais e sociais.
Contado através dos olhos de Corre Corre, o narrador vai nos mostrar sua vida e os feitos de sua admirada tia Wan Coração, uma médica ginecologista dedicada e fervorosa seguidora do Partido no interior da China que, sob a bandeira de progresso da nação, seguia cegamente as ordens de punição que vinham de cima sem questionamentos.

"Mas isso é história, e a história olha tão somente para o resultado, ignora os meios, como as pessoas que admiram a grande muralha da China, as pirâmides do Egito e outras obras grandiosas sem pensar nas pilhas e pilhas de ossadas debaixo delas."

De forma primorosa e com uma escrita que beira o lírico, usando e abusando de metáforas, humor e sarcasmo; Mo Yan nos presenteia com uma narrativa despida, que coloca o leitor como parte da narrativa e o envolve com o horror das perseguições e medidas arbitrárias impostas pelo governo. Um livro repleto de sentimentos, sofrimentos, perdas e arrependimentos.
Dani 25/06/2021minha estante
Você diria que o livro é mais documental com uma escrita pesada e teórica, ou uma "história" fluida em que podemos até imaginar que é ficção?


joedsonfrl 25/06/2021minha estante
Apesar de ser um livro com uma carga documental grande por trazer esses fatos históricos como personagem da narrativa, o autor foca mais na construção das relações sociais, familiares e da política no âmbito comunitário e individual; além de lançar mão de muitas metáforas que tornam a narrativa mais poética e fluida.




ElisaCazorla 08/08/2016

A culpa e a Responsabilidade
Este é um romance de força, de cores, de cheiros, sabores e sensações muito realistas! É um romance que navega nas fronteiras entre a história e a ficção por remeter sobre o período de mudança entre revoluções na China e também quando a política do filho único foi implantada. Eu gostei muito do começo ao fim! Gostei do estilo, é rápido e fácil de ler mas isso não quer dizer simples. Achei interessante o autor não ter deixado muito claro suas próprias opiniões sobre essas mudanças políticas. Senti que o autor apresenta os dramas e situações e deixa o leitor decidir o que pensar sobre essas mudanças e essas políticas.
A personagem Tia é magnífica! Senti por ela empatia muita compaixão. É também um personagem interessante para se discutir respeito, ideologia, culpa e responsabilidade.
O romance gira em torno de cartas que Girino escreve para um professor contando sobre uma peça de teatro que ele está escrevendo. Encontramos esta peça no final do livro. Eu gostei da peça. Gostei muito! Foi mágico ler a peça e nos apresenta ideias interessantes sobre as fronteiras entre o que era real para o personagem e o que era imaginação.
Adorei o livro! Não é primeiro chinês que leio, também gostei muito de Yu Hua. Mo Yan é diferente, não tem o lado cômico do Hua, mas é igualmente forte e um contador de histórias maravilhoso.
Joezer.Moreira 12/10/2023minha estante
Concordo plenamente com a sua análise, Eliza! Também adorei o livro. Achei interessante também como o livro aborda as mudanças sociais na região com o passar das décadas, o enriquecimento de alguns grupos, sem um posicionamento, a não ser o dos personagens.




aureogiunco 31/12/2015

“missão dada é missão cumprida”

Mo Yan em As Rãs consegue nos apresentar a transformação da China nos últimos 50 anos de de forma espetacular. Com uma escrita simples e de fácil leitura Yan faz você entrar de cabeça na história de Girino, muitas vezes confundindo a história literária com uma autobiografia.

A Tia me fez compreender as pessoas que a partir de uma ideologia, assumiam para si que “missão dada é missão cumprida”. O livro nos leva a compreender a dor e a alegria de ser quem somos, independente de onde, com quem ou em qual posição estamos.

Por meio de pequenas cartaz viajamos mais de 40 anos acompanhando histórias de vida, paixão, dor e sofrimento do povo chines. Tem horas que estamos emocionados com a situação, comovidos pelo contexto, para logo em seguida nos indignarmos com as atitudes dos personagens, sem se dar conta que pouco depois depois você já está rindo com sacadas super bem humoradas do autor.

As referências que o autor traz de momentos históricos, personagens e principalmente de outras obras e autores nos faz viajar ainda mais por essa linda e fantástica história.

Um livro emocionante, cativante de fácil e gostosa leitura.
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Gilberto 07/02/2016

As Rãs
Em "As Rãs", Mon-Yan (pseudônimo), conta uma estória épica e humana que se passa em um vilarejo rural no interior da China pós revolução cultural. Muito rica em detalhes,
com cenas bastante marcantes sobre as carências de recursos e dificuldades naqueles tempos, conta também como esta sociedade cresceu e se transformou ao longo dos anos.
É uma estória perturbadora sobre como foi implementada e executada a política de um filho por família, dramática sobre como as necessidades da sociedade sobrepõe as
necessidades individuais e como os executores desta política abraçaram a causa sem se questionar. Simples fetos se tornam inimigos do Estado, cujo único crime que cometeram foi existir, sujeitos à mais implacável das perseguições, quase como uma obsessão capitalista pelo lucro, e invariavelmente resultando em sua eliminação. Ao mesmo tempo é paradoxal, porque este mesmo Estado perseguidor, eliminou técnicas medievais e desumanas de assistir a parturiente quando no parto do primogênito. "Rãs" é um trocadilho, já que em chinês, o mesmo ideograma representa "bebê". Há um certo realismo fantástico e misticismo na figura de um personagem que cria bonecos de barros que representam os bebês de mães ansiosas pelo o único filho que, por lei, podem gerar.
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Mauricio.Alcides 04/03/2016

Meu novo autor favorito?
“Mudanças” de Mo Yan me despertou o interesse pela cultura e pela literatura chinesa e “As rãs” o consagrou como um dos meus escritores favoritos.

Em sua ultima obra publicada o Nobel de literatura de 2012 nos trás a vista a historia de “corre corre” um ex: camponês que viveu os últimos anos da presidência de Mao e presenciou a evolução das políticas familiares de sua nação. Junto a historia de sua tia “corre corre” retrata sua experiência pessoal e de seus amigos com essa política que apenas em sua aldeia foi responsável por mais de 2000 abortos.

A historia contada por Yan é fascinante, a mistura entre tradição popular e realismo é algo impar que eu nunca vi na vida.

Nota: 10
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 08/03/2016

Mo Yan - As Rãs
Editora Companhia das Letras - 496 páginas -Tradução direta do chinês por Amilton Reis - Lançamento no Brasil 23/09/2015.

A Academia Sueca definiu o estilo do chinês Mo Yan, prêmio Nobel de Literatura 2012, como "realismo alucinatório". A classificação pode soar extravagante à princípio mas, de fato, ao avançarmos no texto não há como evitar a comparação com o "realismo mágico" de Gabriel Garcia Márquez, uma interpretação que seria insuficiente e reducionista para o talento de Mo Yan, "alucinado" é um adjetivo que funciona bem melhor para caracterizá-lo. Adicionalmente, a fusão do antigo com o novo é marcante em "As Rãs", último romance do autor que até a divulgação do Nobel era muito pouco conhecido no Brasil. A citação de lendas do folclore em contraste com eventos contemporâneos da história da República Popular da China, principalmente os efeitos da política de planejamento familiar do Estado nas comunidades rurais, é o combustível literário deste romance, pano de fundo para contar a trajetória de Wan Coração ou simplesmente da "tia", como era chamada por todos na região, a primeira parteira da aldeia com ensino formal de obstetrícia que se tornou uma defensora intransigente do controle de natalidade, perseguindo os casais que tentavam burlar o sistema e passando a praticar abortos e vasectomias até mesmo em integrantes de sua própria família.

Hoje, sabemos que a política de planejamento familiar, "um casal, um filho", imposta pelo governo comunista no final da década de setenta foi realmente efetiva para controlar a explosão populacional na China — que ainda assim apresenta hoje uma população de aproximadamente 1,3 bilhões de pessoas — e, obviamente, promover o progresso econômico que presenciamos na atualidade. No entanto, as ações de controle, que contavam com a punição dos cidadãos que se recusassem a colaborar com as diretrizes do Estado, podendo perder os seus direitos políticos e empregos, foram muito criticadas no ocidente devido aos excessos denunciados, tais como os abortos forçados em gravidas de até sete meses e programas de esterilização em massa. As restrições ao controle de natalidade só foram abrandadas oficialmente na última reunião do Partido Comunista, em outubro de 2015, quando foi anunciado, após três décadas, que os casais chineses poderiam finalmente ter até dois filhos, o que não deixa de ser um progresso. O assunto é espinhoso e delicado para um país que ainda não pode ser considerado um exemplo de liberdade de expressão. O próprio Mo Yan foi criticado no ocidente por ter uma postura política pouco combativa e até mesmo submissa com o governo, o que me parece absolutamente inverídico depois de conhecer o conteúdo e as revelações deste romance, lançado originalmente em 2009.

O primeiro período histórico importante citado por Mo Yan é a época da Grande Fome, chamada pelo governo comunista de Mao Tsé-Tung como "Grande Salto Adiante" (1958 - 1962), uma tentativa de fazer com que a industrialização aumentasse no país através do trabalho coletivo e slogans da política revolucionária, a crise econômica foi ainda agravada devido ao período coincidente com vários desastres naturais o que ocasionou a morte de mais de trinta milhões de pessoas. Este é o ponto de partida da narrativa que descreve os personagens, ainda crianças, descobrindo em sua aldeia natal o prazer de comer carvão para aliviar a fome, um exemplo do tratamento "mágico" ou "alucinatório" da realidade manipulada pelo autor que, sem dispensar o lirismo na sua ficção, a começar pelos exóticos nomes dos personagens, denuncia os tempos difíceis através da visão do protagonista, Girino, um dramaturgo que escreve as suas memórias na forma de cartas a um professor de literatura japonês, lembranças da família e atividades da tia, primeiro parteira e depois aborteira, passando por várias fases da história chinesa.

"Professor, tínhamos em nossa aldeia um costume bem antigo de batizar as crianças com o nome de partes do corpo humano, como Chen Nariz, Zhao Olho, Wu Intestino, Sun Ombro... Nunca procurei saber a origem dessa prática, talvez tenha surgido por acreditarem que um nome humilde daria vida longa, ou pelo fato de as mães considerarem o filho parte da própria carne. Esse é um costume que caiu em desuso. Os pais de hoje não querem mais dar nomes estranhos aos filhos. As crianças da aldeia agora recebem nomes sofisticados de personagens de novelas de Hong Kong, Taiwan, Japão ou Coreia. Quem tinha o nome à maneira antiga, na maioria dos casos, acabou optando por outro mais elegante. Naturalmente, há aqueles que mantiveram o original, como Chen Orelha e Chen Sobrancelha. (...) Chen Nariz — pai de Chen Orelha e Chen Sobrancelha - foi meu colega na escola primária e meu amigo na juventude. Entramos na escola primária de Dayanglan no outono de 1960. As memórias mais marcantes que tenho daquela época de fome, são, em grande parte, relacionadas à comida. Por exemplo, a história de quando comi carvão. Muitos pensam que é invenção minha, mas juro por minha tia que tudo aquilo aconteceu de fato, não inventei nada." (págs. 11 e 12)
Outro marco importante, revisitado no romance, é a violenta Revolução Cultural (1966 - 1976) com suas terríveis assembleias de denúncias, organizadas pelos comitês revolucionários. Um processo que, na verdade, tinha muito pouco de revolucionário e menos ainda de cultural. O nosso protagonista, ainda criança, testemunha um desses eventos onde antigas brigas entre vizinhos e até mesmo antipatias pessoais originavam acusações políticas com consequências terríveis para os "réus". Esta fase termina apenas com a morte de Mao Tsé-Tung em 1976 e a transferência do poder para Deng Xiaoping, Secretário Geral do Partido que deu início à arrancada da China como a potência econômica que conhecemos nos dias de hoje. A tia é injustamente acusada de espiã do Partido Nacionalista devido a um namoro que manteve com um piloto da força aérea que desertou e sofre por isso uma série de humilhações públicas.

"O local da assembleia já estava tomado de gente. Sobre a barragem, um tablado imponente fora montado com tábuas e esteiras. Naqueles anos, a comuna contava com uma equipe especializada em montar tablados ou quadros de avisos, tinham técnica apurada e uma habilidade extraordinária. O tablado era decorado com dezenas de bandeiras vermelhas e uma faixa vermelha com letras brancas. Nos dois postes nos cantos do tablado estavam pendurados quatro enormes alto-falantes que tocavam a 'Canção das citações' no momento em que chegamos: 'A teoria marxista, em sua infinidade de ideias, se resume em uma única frase: é justo rebelar-se! É justo rebelar-se!' (...) Animação, havia muita animação mesmo. Eu lutava para avançar em meio à multidão, queria forçar a passagem para conseguir chegar bem perto do tablado. As pessoas com quem eu topava me chutavam, socavam, me enfiavam o cotovelo sem a menor cerimônia. Depois de muito esforço, tinha a roupa encharcada de suor e o corpo cheio de hematomas, mas em vez de chegar aonde queria, fui expelido da multidão. Ouvi o gelo estalar — pacá-pacá — e aquilo me causou um mau pressentimento. Nesse momento, um homem com voz de pato começou a berrar nos alto-falantes: 'A assembleia de denúncias está prestes a começar... Peço aos camponeses de renda baixa ou médio-baixa que se acalmem... Sentem-se os que estão nas fileiras da frente... Sentem-se'" (págs. 107 e 108)

Após a fase crítica da Revolução Cultural, mesmo tendo sido acusada e presa, a tia Wan Coração consegue voltar ao Partido e assumir a posição de líder do movimento de planejamento familiar, dando início às suas atividades que consistiam em realizar mais abortos do que partos, além de operações de vasectomia, sempre sob orientação do governo. É claro que a população chinesa, que tinha em sua tradição a importância da continuidade do nome da família e o desejo de muitos filhos (principalmente homens) não atende de forma passiva às determinações do Partido fazendo com que métodos violentos tivessem que ser aplicados pela tia no cumprimento do que ela considerava ser o seu dever com o Estado. Ela desempenha as suas funções de forma obsessiva e sem qualquer crise moral, talvez em uma associação do autor com as ações inflexíveis do governo, como podemos constatar no trecho abaixo que descreve a perseguição à mulher de Girino, sobrinho de Wan Coração:

"A van da força-tarefa estacionou na frente da casa do meu sogro. Praticamente qualquer um capaz de andar veio ver o que estava acontecendo. Nem a paralisia deteve Xiao Lábio Superior, que apareceu lá, de cara torta, apoiado numa bengala. Do alto-falante, saía uma voz cheia de entusiasmo e energia: 'O planejamento familiar é uma grande prioridade, que diz respeito ao futuro do país e da nação... Para construir um país forte com as quatro modernizações, devemos fazer todo o possível para controlar o crescimento da população e melhorar sua qualidade... Quem engravidar de forma ilegal não deve confiar na sorte e tentar se safar... Nada escapa aos olhos das massas populares, mesmo que se esconda num buraco ou na mata fechada, não será capaz de escapar... Quem emboscar ou agredir um funcionário do planejamento familiar será punido como contrarrevolucionário em flagrante... Quem de alguma maneira sabotar os trabalhos de planejamento familiar, será rigorosamente punido conforme a disciplina do Partido ou a legislação nacional... (...) Houve um longo silêncio dentro do portão, depois se escutou o cantar estridente de um galo jovem. Em seguida foi minha sogra que abriu o berreiro enquanto rogava pragas: 'Wan Coração, sua peste, coisa-ruim, demônio sem alma... Você não há de ter uma boa morte... Depois de morrer, vai escalar uma montanha de lâminas cortantes, vão jogar você num caldeirão de óleo fervente, vão arrancar sua pele e cavar seus olhos, vai queimar inteira numa Lanterna Celestial...' (...) Minha tia sorriu com desdém e falou para o vice-diretor: 'Podem começar!'" (págs. 192 e 193)

Na parte final do romance, em nossa época atual de celulares e desenvolvimento econômico da China, a população — principalmente os mais ricos — contorna corriqueiramente a política de controle de natalidade com o pagamento de multas e até mesmo o uso de "barrigas de aluguel" para conseguir ter mais filhos "ilegais". Nesta parte, Mo Yan faz justiça à definição da Academia Sueca, finalizando o livro com uma peça de teatro chamada de "As Rãs" que é um autêntico "realismo alucinatório". Enfim, uma obra muito recomendada porque ao restringir o foco da narrativa em um grupo de familiares e amigos que atravessam sucessivas gerações, atinge o status de universalidade e pode ser chamada de obra-prima, seja no oriente ou ocidente.

"'Na verdade, não há por que ter medo de anfíbios, eles têm o mesmo ancestral do homem', ela disse. 'O girino tem a mesma forma do espermatozoide e o óvulo humano também não difere muito de um ovo de rã. Além disso, já viu um feto com menos de três meses? Tem uma cauda comprida, igualzinho aos anfíbios na fase da metamorfose.' (...) Ela parecia recitar de cor: 'Por que a palavra 'wa' pode significar tanto 'rã' como 'bebê'? Por que o choro de um bebê que saiu do ventre da mãe é parecido com o coaxo de uma rã? Por que os bonecos de barro da nossa terra muitas vezes têm uma rã no colo? E por que a deusa criadora da humanidade se chama Nü Wa? Tudo isso indica que o ancestral dos seres humanos foi uma grande rã, o homem evoluiu da rã. É totalmente errada a teoria de que o homem veio do macaco...'" (págs 329 e 330)
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Our Brave New Blog 18/03/2016

RESENHA AS RÃS - OUR BRAVE NEW BLOG
O livro do china Mo Yan (olha ele de novo aí como prometido) quebra vários paradigmas ao mesmo tempo: é um livro grosso, mas rápido; pertence a um laureado do Nobel, mas é extremamente fácil de ler e contém uma peça, sendo assim, necessário que você pare a sua birrinha com teatro para saber o final da obra. Apesar do nome, a obra não tem nada a ver com a do Aristófanes, então não se preocupe, porque não é necessário ser tão “culto” assim para pegar e ler.

RESENHA COMPLETA NO SITE!!


site: http://ourbravenewblog.weebly.com/home/a-ras-por-mo-yan
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avdantas 28/03/2016

A força e a delicadeza de uma história
Olhando de fora, é difícil entender a organização política de países como a China. Isso porque, quando ouvimos relatos, nos parece que não há unanimidade sobre a aceitação do regime socialista. Mas qual regime que tem aceitação em massa?

Talvez uma das características mais fortes do governo socialista da China seja a tão famosa política do filho único. Limitar a quantidade de filhos que um casal pode ter parece um nível de intromissão mais do que o desejado do governo na vida dos seus cidadãos. Entretanto, a superpopulação da Terra não é assunto apenas da ficção científica. Muitos cientistas se preocupam com isso (indico, inclusive, ler Inferno, de Dan Brown, sobre o assunto), assim, um governo socialista, popular, se preocupar com a população de seu país e a capacidade de gerar alimento e renda para todos os seus cidadãos não parece tão absurdo.

O tema é delicado. E é sobre ele que As rãs trata. Esse livro me foi indicado por um dos vendedores da livraria Leitura (uma das melhores na minha cidade) e eu fiquei com o pé atrás. Eu não buscava por algo tão político assim, mas ele me garantiu que eu iria gostar, então comprei (confio na palavra dele).

Não deu outra: o livro me arrebatou do começo ao fim. Numa mescla de capítulos curtos narrando episódios que, aparentemente, não têm relação com a trama principal, com capítulos mais longos em que Mo Yan desenvolve muito bem a ambientação e as características das personagens, o romance de quase 600 páginas exala uma aura ao mesmo tempo forte, dura e simples, folclórica e sutil. Acreditem, atingir isso na linguagem não é nem um pouco fácil.

A narrativa começa com uma carta do narrador Girino (ou Wan Perna, ou Corre Corre) para um professor que lhe pediu para escrever sobre sua tia, a chefe do departamento de ginecologia e a organizadora e mantenedora do departamento de controle de natalidade da aldeia de Gaomi, onde grande parte do romance acontece. Girino, então, começa a escrever um material que é misto de memória, misto de pesquisa para uma peça que ele pretende escrever.

Conhecemos então a tia de Girino, Wan Coração (quase todos os personagens têm nomes de partes do corpo. Segundo o narrador, é uma tradição da região), uma mulher forte, muito comprometida com os ideias socialistas do partido que tanto ama e que não mede esforços para defender. Logo no início da narrativa ela chega a ser tida como traidora do regime socialista, mas consegue comprovar sua inocência e segue como uma das mais fortes agentes do governo (mesmo que nunca chegue a ocupar um cargo alto na política do país, cargos esses que ela trata com um certo escárnio, pois julga que quem os ocupa esquece do que de fato o país precisa). Wan Coração é a responsável pelo lado duro e político do romance, desenvolvido muito bem para não parecer panfletário (nem contra nem a favor), apenas observador, ajudando o leitor a construir um senso crítico sobre tudo, mas sem, necessariamente, afirmar ou impor nada.

O governo, preocupado com o crescimento da taxa de natalidade, implanta uma política de controle, que impede casais de terem mais de um filho homem e de terem apenas mais um filho caso o primeiro seja uma mulher.

Obviamente, a China da época do romance (em torno de 1950-1960) ainda é muito enraizada nos costumes populares e acredita que a família precisa deixar o máximo de descendentes possíveis. Claro que a política do filho único iria encontrar dificuldades para ser implantada. Mas Wan Coração é muito destemida e não tem medo de dissuadir os homens e as mulheres que engravidaram fora do planejamento de que o aborto é um ato patriótico. Aqui entra o conflito do romance: a política que controla a vida íntima da população visando um bem maior, e as tradições de um país ainda muito ruralizado. Esse contraste não é constante, mas quando surge cria um efeito muito semelhante ao de Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marques (apesar de que em As rãs não exista realismo fantástico).

A medida que Girino vai narrando a vida da tia à frente do planejamento familiar, mescla fatos de sua vida, como seu primeiro casamento que termina tragicamente. O professor, destinatário do material, pede para ler mais sobre a vida de Girino. A partir daí, a tia fica um pouco em segundo plano. Entretanto, o papel formador da figura de Wan Coração nas crianças que nasceram na região de Gaomi é forte (todas essas crianças nascidas pelas mãos dela) e dessa forma ela permanece presente na narração.

Alguns acontecimentos trágicos dão andamento ao final do livro (não falarei quais). Ao fim temos então em torno de 100 páginas de um texto teatral escrito por Girino: a peça que ele pretendia escrever desde o começo da troca de cartas com o professor. Nesse momento, achei que o livro não poderia mais me surpreender. Mas estava enganado. A peça dá visibilidade a personagens que não estavam tão presentes no romance, criando definições e ajudando a construir ainda mais a figura de Girino e de Wan Coração.

No fim do livro, é impressionante a maneira como Mo Yan conseguiu tratar de um tema tão delicado (que envolve vários abortos e falecimentos decorrentes destes abortos) de uma forma que lhe deixa maravilhado com a profundidade dos personagens e a maneira como a cultura e a tradição estão entranhadas na população de um país (fazendo você esquecer, até certo ponto, do horror do aborto obrigatório no regime político da época).

Lembrando que Mo Yan (que na verdade é o pseudônimo de Guan Moye e significa não fale) foi vencedor do prêmio Nobel de literatura, que destacou a força do seu realismo que mescla tradição popular, história e contemporaneidade.

Apenas para concluir, o mesmo ideograma é utilizado para representar bebês e rãs. Em um determinado momento do romance, mais especificamente na peça que é a parte final, essa confusão entre bebês e rãs criaria uma metáfora incrivelmente forte e sensível que, infelizmente, se perde na tradução. Apesar disso, a tradução é muito bem feita e a edição da Companhia das Letras não pecou em nada na minha experiência de leitura.


site: http://cheirodesombra.blogspot.com.br/2016/03/as-ras-de-mo-yan.html
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Wendell.Vita 23/04/2016

As Rãs
As rãs - MO YAN, é um livro onde o protagonista da historia(Wan perna ou corre corre) por intermédio de cartas para um professor universitário, narra a história de vida da sua tia(Wan coração) uma obstetra que realiza partos em aldeias no interior da china na década de 60 e seu desejo em transformar a história dela em uma peça de teatro. A história mostra o programa de planejamento familiar imposto pelo governo chinês e como tudo isso interfere na vida de seus personagens. Através das descrições é muito interessante acompanhar toda evolução cultural, econômica da China desde a época feudal até o capitalismo atual, a mudança de perspectivas , as facilidades que o capitalismo trouxe para a população, mas as desgraças também. O livro é interessante, mas tem uma narrativa pesada, como nomes de personagens de difícil assimilação, principalmente no primeiro terço do livro. na metade da leitura a historia ganha mais vivacidade com muitos desdobramentos o que torna o livro empolgante, mas termina novamente com uma leitura lenta, com influência do realismo fantástico o que pode dificultar ainda mais o entendimento do leitor. É um livro interessante, mas a leitura é demorada.
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MF (Blog Terminei de Ler) 30/10/2016

A terrível política do filho único refletida num romance excelente
Livro escrito por Mo Yan, primeiro chinês a conquistar o prêmio Nobel de Literatura. Fazia tempo que um livro não me chamava tanto a atenção. O romance de Mo Yan é contado por meio de cartas, escritas pelo narrador da história, Wan Perna (também conhecido pelo apelido de infância "Corre Corre" ou pelo pseudônimo literário "Girino"). As cartas são direcionadas a um professor japonês, mentor de Corre Corre. Nessas cartas, ele conta a história de sua vida, dando um foco maior em sua tia, Wan Coração.

Corre Corre nasceu numa aldeia do interior da China, de gente humilde, onde as pessoas tinham o simpático costume de dar nomes de partes do corpo humano para os filhos (daí temos situações como Chen Orelha, casado com a Wang Visícula, pais de Chen Nariz e Chen Sobrancelha rs). A tia de Corre Corre foi a primeira obstetra da vila onde ele cresceu. Logo, ela se tornou a mais requisitada parteira. Comunista, participava ativamente das atividades do partido que comandava o país. Certo dia, "tia" se apaixona por um piloto de aviões mas, durante a revolução comunista, ele trai o partido, fugindo para Taiwan. Esse acontecimento leva "tia" a sofrer humilhações de todo tipo. Talvez, por isso, e por ter ampla experiência como obstetra, ela é designada pelo governo como responsável pelo controle de natalidade em sua região. Era a chamada "política do filho único", onde um casal poderia ter apenas um filho. E, para garantir o cumprimento da lei, ela usará todos os mecanismos possíveis, o que inclui cirurgias de vasectomia e abortos (independente do tempo de gestação) a força. Nesse ponto, o relato encantador das memórias de Corre Corre tornam-se pesarosas e reflexivas.

Mo Yan, quando conquistou o Nobel, foi muito acusado por conterrâneos refugiados de ser defensor do partido comunista. Porém, pelo menos nesse livro, Yan não toma um lado, deixando para o leitor a liberdade de refletir sobre as ações. De certa forma, Mo Yan até critica o governo, principalmente na questão da corrupção, visto que a terrível política do filho único era aplicada com rigor aos pobres, mas os ricos conseguiam burlar a lei, pagando multas ou arrumando amantes estrangeiras. A escrita de Yan é leve, ainda que o relato seja, muitas vezes, triste e trágico. Por vezes, lembra muito o colombiano Gabriel García Márquez pela descrição de personagens e capacidade de contar histórias incríveis.

Ah, sobre o título do livro, no original em chinês é "Wa", palavra que pode significar tanto "rã" quanto "bebê". O porquê da analogia... só lendo a obra para descobrir.

site: https://mftermineideler.wordpress.com/2016/11/16/as-ras-mo-yan/
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HigorM 05/12/2016

Sobre a negligência com livros de valores inesgotáveis
A importância de ter "As Rãs" traduzido para o Brasil vai ir além da compreensão da maioria dos leitores. Sim, o fato de Mo Yan ser um Nobel de Literatura já é de grande valor, afinal, os leitores se viam obrigados a conhecer o autor com apenas um minúsculo livro de memórias, "Mudança", o que era injusto, mas o prestígio atinge outros patamares.

O leitor vai ter em mãos um livro chinês traduzido diretamente do original – o que pode justificar a demora, por contra da tradução e revisão – o que é uma raridade em cenários de tradução exaustiva do inglês, mais fácil. Alem disso, temos um livro abordando um assunto muito instigante e pouco comentado: a política do filho único na China. Mais algum motivo para querer dar uma chance ao livro e autor? Leitores sem o costume de ler gêneros diferentes poderão se aventurar com a leitura de uma peça teatral.

Wa Perna é um aspirante a escritor que, extasiado pelos ensinamentos do professor Yoshihito em sua remota aldeia, decide contar a história de sua tia, Wan Coração, uma renomada obstetra que sempre considerou uma heroína. A partir de suas memórias, conhecemos então uma China comunista que impunha uma lei com um severo controle de natalidade, o que causou a ira de todos. Wan Coração logo se transforma, para a aldeia, em um demônio, já que seu ofício e devoção ao comunismo beiram a insanidade.

Acompanharemos então a vida dessa mulher que marcou eternamente a vida de tantas mães da aldeia, obrigando-as fugirem de seus lares para não terem de abortarem. Vidas que, embora fictícias no livro, sufocam o leitor, sem soar apelativo, por frisar que tal cenário aconteceu de fato, por volta da década de 1950, 60. Foram muitas vidas destruídas, literalmente (os fetos) e psicologicamente (as mães) por uma atitude drástica, porém boa e eficaz, segundo o governo.

Mo Yan foi laureado com o Nobel por 'um realismo que mistura tradição popular, história e contemporaneidade', o que notamos com louvor em seu único romance no Brasil. O leitor, ao término de "As Rãs", certamente vai querer ter outro livro do autor, e se frustrar pela ausência de mais. O que resta é a releitura, o que provavelmente vai acontecer, diante da mensagem tão forte e sempre inesgotável.

Talvez não haja resenha boa o suficiente para exprimir o quão maravilhoso este livro é. O melhor é não perder tempo e se aventurar com a história do país com maior população do mundo, isso mesmo com a política adotada, que evitou que 50-60 milhões de nascimentos. "As Rãs" é, obviamente, um livro com muito conteúdo, não somente histórico.

Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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Julio.Argibay 10/02/2017

Revolucao Cultural
Um drama ambientado em plena Revolucao Cultural chinesa, focando a política do filho único. Uma aldeia nos confins dá China serve de pano de fundo para um drama que retrata um momento de transição cultural e politica levado ao extremo.
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Karla Lima 09/03/2017

Tão mais interessante quanto menos o leitor souber a respeito da China
O texto da quarta capa informa que “as imagens e a atmosfera intensa criadas por Mo Yan levam a comparações justificadas com Gabriel García Márquez”. Só posso crer que o resenhista nunca leu GGM: não há magia no ar nem irrealidade nos fatos – o que não é um problema, mas causará decepção a quem decidir ler por causa e em busca do aspecto fantástico da trama.

A história termina em 2004 e o narrador é um dramaturgo de origem camponesa nascido na década de 1950. No meio século coberto pela obra, o autor, Nobel de Literatura de 2014, explora as transformações pelas quais a China passou. Desde a Grande Fome, quando as crianças “brincavam” de comer carvão, até a Revolução Cultural, a chegada e o fortalecimento do capitalismo, a mudança nos costumes que substituiu os arranjos estatais pela escolha individual quanto à profissão e cônjuge, certa abertura para a fé religiosa, a corrupção. A modernidade, atraente e ameaçadora, convive com a tradição em variados níveis de conflito: existe empreendedorismo e resistem as festas tradicionais nas aldeias; existem hospitais lindos como hotéis e sobrevivem os provérbios dos mais velhos e as crendices dos incultos.

O livro se desenrola em dois planos. O mais evidente aborda a severa política do filho único. A tia do narrador é uma ginecologista que no começo da história se torna responsável pelo controle de natalidade da aldeia. Seu trabalho é realizar os partos legítimos, evitar a gestação clandestina fazendo vasectomia nos homens e colocando DIU nas mulheres (com ou sem sua concordância, com ou sem seu conhecimento) e garantir, por todos os meios, que os fetos concebidos fora do planejamento de cotas sejam abortados. Quem sabe pouco acerca de Mao Tsé Tung (1893 – 1976) e sobre os 27 anos em que governou, a partir de 1949, encontrará aprendizados, curiosidades, motivos para revolta, piedade e empolgação. Os que já viram filmes ou leram qualquer obra sobre este lugar e esta época provavelmente ficarão frustrados com a mesmice do olhar sobre esse período histórico, e talvez, ao se concentrar no texto, se irritem com construções como: “bom dia”, ela disse; “olá”, ele disse; e suas variações: “espero que chova”, ela disse; “também espero”, ele disse; ou ainda “gosto de macarrão”, ela disse; “gosto de pasta de soja”, ele disse. Disse-disse-disse-disse-disse-disse, arre!

O segundo plano narrativo também tem a ver com maternidade, mas aqui de um ponto de vista singular e não como política de estado. Até mesmo os acontecimentos contemporâneos, e inclusive os personagens mais jovens, sustentam a noção de que a vida de uma menina vale menos que a de um menino, e a certeza de que nenhuma mulher está completa se não tiver filhos. Eu me pergunto se é uma opinião do autor ou reflexo de uma crença coletiva, e lamento e discordo em qualquer dos casos.
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Olga 09/04/2017

O livro As Rãs trata da política do filho único na rural China comunista, sob a visão de um escritor / dramaturgo que nos conta sobre sus vida, de sua família e amigos nesse contexto histórico tão peculiar.
Essa foi minha primeira incursão na literatura chinesa. E que estreia! Logo com o prêmio
Nobel de literatura Mo Yan.
O livro apesar de tratar de um tema árduo: repressão e aborto, o faz de uma maneira leve e quase divertida, apesar de profunda.
Confesso que tive que fazer uma lista com o nome dos personagens e suas mini biografias e deixar dentro de livro para consulta durante a leitura, pois eram muitos Wan, Li, Xeng, Qin, Wu, Chen, etc, para guardar de memória. Esse recurso ajudou muito no desenrolar da narrativa, pois esta abarca ao menos 50 anos.
A grande personagem do livro é a "Tia" Wan Coração, obstetra, responsável por trazer ao mundo as crianças da comunidade rural chinesa onde se passa a história e por não deixar que as famílias tivessem mais de um filho, em obediência ao rígido planejamento familiar estabelecido pelo partido comunista.
O conflito de sentimentos dos personagens é muito bem apresentado, especialmente da "Tia" e do narrador "Girino", mas nem por isso o livro é pesado ou triste. Ao contrário, é um eterno "bola para frente", esperançoso e, apesar de tudo, otimista.
Adorei o paralelo dos bebês com as Rãs e com os bonecos, estes que são a parte onírica da história. O momento em que não sabemos se o que se passa se trata de sonho ou realidade.
A escrita de Mo Yan é muito delicada e refinada, na voz do narrador, ao nos contar através de cartas escritas ao seu professor, a história de sua família, amigos e de sua vila. E ao falar de sua vila, fala das histórias de todos nós.
Espero que vocês gostem do livro como eu gostei.
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Pedro.Castello 13/07/2017

Inesperado.
Você lê o livro todo esperando pela peça de teatro do personagem principal e quando ela chega, é meio que uma repetição do que já foi lido. E isso não é ruim, porque o final da história é contado através da peça. O que é bem interessante, pois é uma forma de narrativa completamente diferente do que foi usado durante o decorrer do livro. Vale a leitura.
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