Vencedor do Nobel de literatura em 2012 e um dos maiores autores do nosso tempo, Mo Yan oferece um romance épico sobre a política do filho único na China comunista.
Um não é pouco; dois é bom; três é demais. Eis o slogan lançado pela Nova China em 1965 -- quando as crianças, esfomeadas, “brincam” de comer carvão -- para conter o rápido crescimento populacional, numa política de planejamento familiar que se perpetuará por décadas. Nesse contexto, o Nobel de literatura Mo Yan dá voz a Corre Corre, aspirante a escritor que vê a tia como heroína e quer transformar sua vida em peça de teatro, não sem antes rememorar sua história.
Trata-se de fato de uma mulher extraordinária. Nascida em 1937, é a primeira parteira da aldeia a estudar obstetrícia e a enxergar o ofício para além de métodos supersticiosos. Combinando a compaixão de médica a uma autoridade de general, logo se torna a oficial responsável pelo controle de natalidade. Ela deve educar jovens famílias a terem apenas um filho e, quando necessário, realizar abortos, levando a diretriz do Estado às últimas consequências.
Conforme os anos se passam neste épico intergeracional, a política do filho único se burocratiza e corrompe, mas a tia de Corre Corre, revolucionária convicta, não enxerga os podres do sistema imoral em que está enredada. Se em chinês a palavra wa, que dá título ao romance, significa tanto rã como bebê, as rãs desta trama são objetos de horror e desejo, como os filhos da Revolução Cultural na China, muitas vezes cobiçados pelas famílias e renegados pelo Estado.
De atmosfera exuberante e imaginário plástico, As rãs traz o melhor do realismo fantástico, comprovando por que Mo Yan costuma ser comparado a Gabriel García Márquez. O lirismo, a inventividade da linguagem e a forma bem-humorada de tratar os cenários mais dramáticos, oscilando entre a poesia e o horror, o naïf e o escárnio, transformam esse relato ambientado em uma aldeia da China em clássico universal.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance