As rãs

As rãs Mo Yan




Resenhas - As Rãs


56 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4


joedsonfrl 25/06/2021

A verdadeira face da política do filho único
"No final de 1965, o rápido crescimento populacional causou inquietação nos altos escalões. Com isso, veio a primeira grande onda de planejamento familiar desde a fundação da Nova China. O governo lançou o seguinte slogan: “Um não é pouco; dois é bom; três é demais”

O livro nos conta como se deu, na prática, a política de filho único na China que vigorou de meados dos anos 70 até 2016, suas consequências, injustiças e danos nos aspectos psicológicos, culturais e sociais.
Contado através dos olhos de Corre Corre, o narrador vai nos mostrar sua vida e os feitos de sua admirada tia Wan Coração, uma médica ginecologista dedicada e fervorosa seguidora do Partido no interior da China que, sob a bandeira de progresso da nação, seguia cegamente as ordens de punição que vinham de cima sem questionamentos.

"Mas isso é história, e a história olha tão somente para o resultado, ignora os meios, como as pessoas que admiram a grande muralha da China, as pirâmides do Egito e outras obras grandiosas sem pensar nas pilhas e pilhas de ossadas debaixo delas."

De forma primorosa e com uma escrita que beira o lírico, usando e abusando de metáforas, humor e sarcasmo; Mo Yan nos presenteia com uma narrativa despida, que coloca o leitor como parte da narrativa e o envolve com o horror das perseguições e medidas arbitrárias impostas pelo governo. Um livro repleto de sentimentos, sofrimentos, perdas e arrependimentos.
Dani 25/06/2021minha estante
Você diria que o livro é mais documental com uma escrita pesada e teórica, ou uma "história" fluida em que podemos até imaginar que é ficção?


joedsonfrl 25/06/2021minha estante
Apesar de ser um livro com uma carga documental grande por trazer esses fatos históricos como personagem da narrativa, o autor foca mais na construção das relações sociais, familiares e da política no âmbito comunitário e individual; além de lançar mão de muitas metáforas que tornam a narrativa mais poética e fluida.




Layla.Ribeiro 22/01/2022

Desafio literário 2022- Autoria asiática
Sabemos pouco sobre a sociedade da China e esse livro foi muito bom para conhecer alguns aspectos culturais da contemporaneidade chinesa. A história se passa no interior da China e tem como tema principal a Política do Filho Único (1979-2016), na qual para deter o crescimento populacional desenfreado o Partido Comunista determina que casais devam ter apenas um filho, as pessoas que desobedeciam ao governo eram submetidos a vasectomia ou aborto (até mesmo em estado avançado) forçado e quando conseguia escapar tinham que pagar altas multas pelo bebê ilegal. Conhecemos uma personagem intrigante que é a Tia do protagonista, ginecologista obstétrica, fanática e filiada ao Partido Comunista, como aquela que por lealdade ao partido fazem coisas cruéis e desumanas. É um livro forte, de tirar o fôlego que me deixou horrorizada com muitas coisas, isso não significa que o livro é ruim, pelo contrário muito bom, para mim o único defeito foi a forma de conclusão do livro, que tinha uma narrativa epistolar, terminando em uma peça teatral, o que me incomodou. Uma curiosidade, há 10 anos o autor deste livro ganhou o Nobel e foi alvo de muita critica e polêmica, justamente por ele ser filiado e ter um cargo alto no Partido Comunista sendo acusado de possível fantoche do governo, o que discordo ao ler este livro, pois ele faz duras críticas ao governo de forma escancarada. Então, se sua família fosse da China , você estaria aqui lendo essa resenha?
comentários(0)comente



Alexandre Kovacs / Mundo de K 08/03/2016

Mo Yan - As Rãs
Editora Companhia das Letras - 496 páginas -Tradução direta do chinês por Amilton Reis - Lançamento no Brasil 23/09/2015.

A Academia Sueca definiu o estilo do chinês Mo Yan, prêmio Nobel de Literatura 2012, como "realismo alucinatório". A classificação pode soar extravagante à princípio mas, de fato, ao avançarmos no texto não há como evitar a comparação com o "realismo mágico" de Gabriel Garcia Márquez, uma interpretação que seria insuficiente e reducionista para o talento de Mo Yan, "alucinado" é um adjetivo que funciona bem melhor para caracterizá-lo. Adicionalmente, a fusão do antigo com o novo é marcante em "As Rãs", último romance do autor que até a divulgação do Nobel era muito pouco conhecido no Brasil. A citação de lendas do folclore em contraste com eventos contemporâneos da história da República Popular da China, principalmente os efeitos da política de planejamento familiar do Estado nas comunidades rurais, é o combustível literário deste romance, pano de fundo para contar a trajetória de Wan Coração ou simplesmente da "tia", como era chamada por todos na região, a primeira parteira da aldeia com ensino formal de obstetrícia que se tornou uma defensora intransigente do controle de natalidade, perseguindo os casais que tentavam burlar o sistema e passando a praticar abortos e vasectomias até mesmo em integrantes de sua própria família.

Hoje, sabemos que a política de planejamento familiar, "um casal, um filho", imposta pelo governo comunista no final da década de setenta foi realmente efetiva para controlar a explosão populacional na China — que ainda assim apresenta hoje uma população de aproximadamente 1,3 bilhões de pessoas — e, obviamente, promover o progresso econômico que presenciamos na atualidade. No entanto, as ações de controle, que contavam com a punição dos cidadãos que se recusassem a colaborar com as diretrizes do Estado, podendo perder os seus direitos políticos e empregos, foram muito criticadas no ocidente devido aos excessos denunciados, tais como os abortos forçados em gravidas de até sete meses e programas de esterilização em massa. As restrições ao controle de natalidade só foram abrandadas oficialmente na última reunião do Partido Comunista, em outubro de 2015, quando foi anunciado, após três décadas, que os casais chineses poderiam finalmente ter até dois filhos, o que não deixa de ser um progresso. O assunto é espinhoso e delicado para um país que ainda não pode ser considerado um exemplo de liberdade de expressão. O próprio Mo Yan foi criticado no ocidente por ter uma postura política pouco combativa e até mesmo submissa com o governo, o que me parece absolutamente inverídico depois de conhecer o conteúdo e as revelações deste romance, lançado originalmente em 2009.

O primeiro período histórico importante citado por Mo Yan é a época da Grande Fome, chamada pelo governo comunista de Mao Tsé-Tung como "Grande Salto Adiante" (1958 - 1962), uma tentativa de fazer com que a industrialização aumentasse no país através do trabalho coletivo e slogans da política revolucionária, a crise econômica foi ainda agravada devido ao período coincidente com vários desastres naturais o que ocasionou a morte de mais de trinta milhões de pessoas. Este é o ponto de partida da narrativa que descreve os personagens, ainda crianças, descobrindo em sua aldeia natal o prazer de comer carvão para aliviar a fome, um exemplo do tratamento "mágico" ou "alucinatório" da realidade manipulada pelo autor que, sem dispensar o lirismo na sua ficção, a começar pelos exóticos nomes dos personagens, denuncia os tempos difíceis através da visão do protagonista, Girino, um dramaturgo que escreve as suas memórias na forma de cartas a um professor de literatura japonês, lembranças da família e atividades da tia, primeiro parteira e depois aborteira, passando por várias fases da história chinesa.

"Professor, tínhamos em nossa aldeia um costume bem antigo de batizar as crianças com o nome de partes do corpo humano, como Chen Nariz, Zhao Olho, Wu Intestino, Sun Ombro... Nunca procurei saber a origem dessa prática, talvez tenha surgido por acreditarem que um nome humilde daria vida longa, ou pelo fato de as mães considerarem o filho parte da própria carne. Esse é um costume que caiu em desuso. Os pais de hoje não querem mais dar nomes estranhos aos filhos. As crianças da aldeia agora recebem nomes sofisticados de personagens de novelas de Hong Kong, Taiwan, Japão ou Coreia. Quem tinha o nome à maneira antiga, na maioria dos casos, acabou optando por outro mais elegante. Naturalmente, há aqueles que mantiveram o original, como Chen Orelha e Chen Sobrancelha. (...) Chen Nariz — pai de Chen Orelha e Chen Sobrancelha - foi meu colega na escola primária e meu amigo na juventude. Entramos na escola primária de Dayanglan no outono de 1960. As memórias mais marcantes que tenho daquela época de fome, são, em grande parte, relacionadas à comida. Por exemplo, a história de quando comi carvão. Muitos pensam que é invenção minha, mas juro por minha tia que tudo aquilo aconteceu de fato, não inventei nada." (págs. 11 e 12)
Outro marco importante, revisitado no romance, é a violenta Revolução Cultural (1966 - 1976) com suas terríveis assembleias de denúncias, organizadas pelos comitês revolucionários. Um processo que, na verdade, tinha muito pouco de revolucionário e menos ainda de cultural. O nosso protagonista, ainda criança, testemunha um desses eventos onde antigas brigas entre vizinhos e até mesmo antipatias pessoais originavam acusações políticas com consequências terríveis para os "réus". Esta fase termina apenas com a morte de Mao Tsé-Tung em 1976 e a transferência do poder para Deng Xiaoping, Secretário Geral do Partido que deu início à arrancada da China como a potência econômica que conhecemos nos dias de hoje. A tia é injustamente acusada de espiã do Partido Nacionalista devido a um namoro que manteve com um piloto da força aérea que desertou e sofre por isso uma série de humilhações públicas.

"O local da assembleia já estava tomado de gente. Sobre a barragem, um tablado imponente fora montado com tábuas e esteiras. Naqueles anos, a comuna contava com uma equipe especializada em montar tablados ou quadros de avisos, tinham técnica apurada e uma habilidade extraordinária. O tablado era decorado com dezenas de bandeiras vermelhas e uma faixa vermelha com letras brancas. Nos dois postes nos cantos do tablado estavam pendurados quatro enormes alto-falantes que tocavam a 'Canção das citações' no momento em que chegamos: 'A teoria marxista, em sua infinidade de ideias, se resume em uma única frase: é justo rebelar-se! É justo rebelar-se!' (...) Animação, havia muita animação mesmo. Eu lutava para avançar em meio à multidão, queria forçar a passagem para conseguir chegar bem perto do tablado. As pessoas com quem eu topava me chutavam, socavam, me enfiavam o cotovelo sem a menor cerimônia. Depois de muito esforço, tinha a roupa encharcada de suor e o corpo cheio de hematomas, mas em vez de chegar aonde queria, fui expelido da multidão. Ouvi o gelo estalar — pacá-pacá — e aquilo me causou um mau pressentimento. Nesse momento, um homem com voz de pato começou a berrar nos alto-falantes: 'A assembleia de denúncias está prestes a começar... Peço aos camponeses de renda baixa ou médio-baixa que se acalmem... Sentem-se os que estão nas fileiras da frente... Sentem-se'" (págs. 107 e 108)

Após a fase crítica da Revolução Cultural, mesmo tendo sido acusada e presa, a tia Wan Coração consegue voltar ao Partido e assumir a posição de líder do movimento de planejamento familiar, dando início às suas atividades que consistiam em realizar mais abortos do que partos, além de operações de vasectomia, sempre sob orientação do governo. É claro que a população chinesa, que tinha em sua tradição a importância da continuidade do nome da família e o desejo de muitos filhos (principalmente homens) não atende de forma passiva às determinações do Partido fazendo com que métodos violentos tivessem que ser aplicados pela tia no cumprimento do que ela considerava ser o seu dever com o Estado. Ela desempenha as suas funções de forma obsessiva e sem qualquer crise moral, talvez em uma associação do autor com as ações inflexíveis do governo, como podemos constatar no trecho abaixo que descreve a perseguição à mulher de Girino, sobrinho de Wan Coração:

"A van da força-tarefa estacionou na frente da casa do meu sogro. Praticamente qualquer um capaz de andar veio ver o que estava acontecendo. Nem a paralisia deteve Xiao Lábio Superior, que apareceu lá, de cara torta, apoiado numa bengala. Do alto-falante, saía uma voz cheia de entusiasmo e energia: 'O planejamento familiar é uma grande prioridade, que diz respeito ao futuro do país e da nação... Para construir um país forte com as quatro modernizações, devemos fazer todo o possível para controlar o crescimento da população e melhorar sua qualidade... Quem engravidar de forma ilegal não deve confiar na sorte e tentar se safar... Nada escapa aos olhos das massas populares, mesmo que se esconda num buraco ou na mata fechada, não será capaz de escapar... Quem emboscar ou agredir um funcionário do planejamento familiar será punido como contrarrevolucionário em flagrante... Quem de alguma maneira sabotar os trabalhos de planejamento familiar, será rigorosamente punido conforme a disciplina do Partido ou a legislação nacional... (...) Houve um longo silêncio dentro do portão, depois se escutou o cantar estridente de um galo jovem. Em seguida foi minha sogra que abriu o berreiro enquanto rogava pragas: 'Wan Coração, sua peste, coisa-ruim, demônio sem alma... Você não há de ter uma boa morte... Depois de morrer, vai escalar uma montanha de lâminas cortantes, vão jogar você num caldeirão de óleo fervente, vão arrancar sua pele e cavar seus olhos, vai queimar inteira numa Lanterna Celestial...' (...) Minha tia sorriu com desdém e falou para o vice-diretor: 'Podem começar!'" (págs. 192 e 193)

Na parte final do romance, em nossa época atual de celulares e desenvolvimento econômico da China, a população — principalmente os mais ricos — contorna corriqueiramente a política de controle de natalidade com o pagamento de multas e até mesmo o uso de "barrigas de aluguel" para conseguir ter mais filhos "ilegais". Nesta parte, Mo Yan faz justiça à definição da Academia Sueca, finalizando o livro com uma peça de teatro chamada de "As Rãs" que é um autêntico "realismo alucinatório". Enfim, uma obra muito recomendada porque ao restringir o foco da narrativa em um grupo de familiares e amigos que atravessam sucessivas gerações, atinge o status de universalidade e pode ser chamada de obra-prima, seja no oriente ou ocidente.

"'Na verdade, não há por que ter medo de anfíbios, eles têm o mesmo ancestral do homem', ela disse. 'O girino tem a mesma forma do espermatozoide e o óvulo humano também não difere muito de um ovo de rã. Além disso, já viu um feto com menos de três meses? Tem uma cauda comprida, igualzinho aos anfíbios na fase da metamorfose.' (...) Ela parecia recitar de cor: 'Por que a palavra 'wa' pode significar tanto 'rã' como 'bebê'? Por que o choro de um bebê que saiu do ventre da mãe é parecido com o coaxo de uma rã? Por que os bonecos de barro da nossa terra muitas vezes têm uma rã no colo? E por que a deusa criadora da humanidade se chama Nü Wa? Tudo isso indica que o ancestral dos seres humanos foi uma grande rã, o homem evoluiu da rã. É totalmente errada a teoria de que o homem veio do macaco...'" (págs 329 e 330)
comentários(0)comente



Luciana - @minhaestantemagica 12/07/2020

Excelente!
A política do filho único na China durou 36 anos (de 1979 até 2015) e foi uma tentativa de controle populacional por parte do governo, que acabou se mostrando desastrosa. O rigoroso planejamento familiar só permitia um filho por casal. As punições para os desobedientes eram severas: multas altíssimas, aborto e esterilização forçados. O aborto voluntário por gênero era corriqueiro e quando não acontecia, meninas recém nascidas eram abandonadas nas ruas à espera da morte. A preferência por meninos está ligada à cultura milenar, baseada nos ensinamentos de Confúcio que colocavam os homens como o pilar da família, responsáveis por cuidar dos pais na velhice. Já que as mulheres se dedicavam aos maridos. Aquele velho machismo estrutural que já conhecemos! É nesse cenário que somos apresentados à história de Corre Corre, sua tia Wan Coração e de toda aldeia. Os relatos começam na época da Segunda Guerra Sino-Japonesa, passam pela Revolução Cultural e acabam na China moderna e industrializada. Corre Corre pretende escrever uma peça sobre a vida de sua tia e troca cartas com um professor narrando toda a história. Wan Coração foi a primeira médica obstetra formada da aldeia e dedicou sua vida ao nascimento de bebês. Viu de perto a explosão populacional e, após a implantação da política do filho único, passou a ser uma fiscal implacável do cumprimento da nova lei. Obrigou homens a fazer vasectomia, fez abortos em várias mulheres, perseguiu casais... É o retrato fantasioso de uma época em que o país conseguiu prosperar. Saiu do modelo agrário e se industrializou ao ponto de virar uma potência mundial. O autor tem uma escrita maravilhosa e muito fluida. É um livro muito rico, crítico, com personagens interessantes e situações surreais sobre um país que foi capaz de avanços extraordinários, mas que também cometeu atrocidades em nome do desenvolvimento e gerou muita revolta mundo afora por não respeitar direitos humanos básicos.
comentários(0)comente



Tiago 27/01/2020

Sobre homens e sapos
"As Rãs" estava parado na minha estante há alguns anos esperando aquele momento certo de ser lido. Eis que assisti recentemente o documentário "One Child Nation", no Amazon Prime, e lembrei que o livro do premiado autor Mo Yan tratava exatamente desde tema da política do filho único implementada na China a partir do final da década de 1970. Resolvi que era hora de tirá-lo da estante.

Muito do que você enxerga no documentário está absolutamente presente também no livro, porém retratada de uma maneira diferente. "As Rãs" possui a grandeza literária daquelas obras que vão fundo no olhar, na percepção, nos detalhes. A escrita acessível é repleta de ótimos momentos, ora cômicos ora tristes. A saga do narrador Corre Corre se inicia desde seu parto até sua velhice, e a sua vida e de todos em sua aldeia, repleta de familiares e amigos, retratam as mudanças ocorridas na China e como foi viver neste período onde o controle de natalidade foi parte inexorável na vida da população chinesa.

Ao final Mo Yan aposta em um quê de realismo fantástico para compor esse microcosmo narrado de forma tão inteligente e sagaz. Este estilo de narrativa está longe de ser meu favorito, mas "As Rãs" é tão bom que mesmo a fuga de realidade se torna bela e inexplicavelmente crível.
comentários(0)comente



Gabriel 04/11/2022

As contradições e embates geracionais no processo de desenvolvimento chinês ganham um contorno lírico surpreendente. Que talento para escrever! Uma escrita simples, certeiro no uso das palavras e leve para assuntos delicados. Um livro intelectualmente honesto, com uma alta carga crítica, mas não com aspecto de denúncia. É a história recente de uma pátria e seu povo. Povo sofrido, mas jamais passivo. A cultura camponesa representada com personagens bem característicos e caprichosamente descritos que são marcantes ao seu modo: todos são reconhecíveis e bem construídos ao ponto de gerar comoção. A implementação de uma política pública de planejamento familiar forçada deixou feridas abertas na sociedade chinesa e a conscientização dessas chagas se dá através de um processo de auto ficção longo e cheio de contradições. Mo Yan transforma um processo complexo em belo, sai do particular para tentar compreender o universal através da literatura. Uma história de conflitos, dores, culpas, mas também de resiliência de um povo
comentários(0)comente



HigorM 05/12/2016

Sobre a negligência com livros de valores inesgotáveis
A importância de ter "As Rãs" traduzido para o Brasil vai ir além da compreensão da maioria dos leitores. Sim, o fato de Mo Yan ser um Nobel de Literatura já é de grande valor, afinal, os leitores se viam obrigados a conhecer o autor com apenas um minúsculo livro de memórias, "Mudança", o que era injusto, mas o prestígio atinge outros patamares.

O leitor vai ter em mãos um livro chinês traduzido diretamente do original – o que pode justificar a demora, por contra da tradução e revisão – o que é uma raridade em cenários de tradução exaustiva do inglês, mais fácil. Alem disso, temos um livro abordando um assunto muito instigante e pouco comentado: a política do filho único na China. Mais algum motivo para querer dar uma chance ao livro e autor? Leitores sem o costume de ler gêneros diferentes poderão se aventurar com a leitura de uma peça teatral.

Wa Perna é um aspirante a escritor que, extasiado pelos ensinamentos do professor Yoshihito em sua remota aldeia, decide contar a história de sua tia, Wan Coração, uma renomada obstetra que sempre considerou uma heroína. A partir de suas memórias, conhecemos então uma China comunista que impunha uma lei com um severo controle de natalidade, o que causou a ira de todos. Wan Coração logo se transforma, para a aldeia, em um demônio, já que seu ofício e devoção ao comunismo beiram a insanidade.

Acompanharemos então a vida dessa mulher que marcou eternamente a vida de tantas mães da aldeia, obrigando-as fugirem de seus lares para não terem de abortarem. Vidas que, embora fictícias no livro, sufocam o leitor, sem soar apelativo, por frisar que tal cenário aconteceu de fato, por volta da década de 1950, 60. Foram muitas vidas destruídas, literalmente (os fetos) e psicologicamente (as mães) por uma atitude drástica, porém boa e eficaz, segundo o governo.

Mo Yan foi laureado com o Nobel por 'um realismo que mistura tradição popular, história e contemporaneidade', o que notamos com louvor em seu único romance no Brasil. O leitor, ao término de "As Rãs", certamente vai querer ter outro livro do autor, e se frustrar pela ausência de mais. O que resta é a releitura, o que provavelmente vai acontecer, diante da mensagem tão forte e sempre inesgotável.

Talvez não haja resenha boa o suficiente para exprimir o quão maravilhoso este livro é. O melhor é não perder tempo e se aventurar com a história do país com maior população do mundo, isso mesmo com a política adotada, que evitou que 50-60 milhões de nascimentos. "As Rãs" é, obviamente, um livro com muito conteúdo, não somente histórico.

Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
comentários(0)comente



Bruno.Dellatorre 26/01/2022

Diferente
Amei incondicionalmente até a página 264. Depois, a partir da parte 4, ficou tão chato que chegou a assustar. Para coroar, tem uma peça esquisitíssima no final que encerra a história, mas que tem uma outra cena boa (principalmente nas umas três páginas). É um livro irregular, mas com mais méritos do que defeitos. Dei nota máxima pela personagem principal, Wan Coração, que é uma das melhores personagens de todos os tempos.
comentários(0)comente



ZePPa 26/02/2022

livro muito bem escrito e adorei a forma de narrativa , os crescimento chines que vemos hoje foi forjado em cima de muito trabalho sofrimento e disciplina. amei
comentários(0)comente



#Anafox 27/04/2022

Muito perdida com esses personagens Nariz, Perna, Bochecha, Fígado... Mas superada a estranheza inicial, o livro mantém um ritmo que torna a leitura agradável. A história nos traz aspectos na política de controle de natalidade na China, a partir de diferentes personagens que vivem no mesmo vilarejo, e nos são apresentados pelo personagem Corre Corre. Incrível o que se faz em nome de ideais... Os tais fins não justificam os meios. Recomendo a leitura! Não parece um calhamaço, mas tem quase 500 pág. Mesmo assim, é de leitura fácil e rápida.
comentários(0)comente



Marcos Santos 31/08/2022

Uma narrativa que descrever o início da política do filho único, tendo como narrador personagem o corre corre. Ele conta como sua tia trabalhando como enfermeira e fiel no cumprimento da lei, ajudava na divulgação do planejamento família. O protagonista retratar as dificuldades das famílias e a dependência do Estado para alcançar uma vida melhor. Ao mesmo tempo as mulheres que burlava a lei era severamente punida. De um lado freou o avanço da população e de outro acarretou morte de várias mulheres e deixou sequelas permanentes na memória dos sobreviventes desse período.
comentários(0)comente



Prim 11/02/2021

As rãs
Um dos livros mais surpreendentes que li nos últimos tempos. Acho que eu nunca havia parado para pensar realmente em todas as nuances que a política do filho único da China poderia ter. Aqui, do nosso lado do mundo, temos uma noção vaga e meio distorcida de que essa política de controle populacional foi algo simples de ser introduzido. Algo necessário ao qual a população chinesa acatou tranquilamente. Mas era óbvio que não poderia ter sido assim, né? Esse pensamento é só reflexo da arrogância, prepotência e xenofobia ocidental. Lendo o livro, achei complicado separar ficção e realidade. Poderia ser a história de alguém. De várias pessoas na verdade. Contada de forma tão simples, como uma conversa num barzinho. Atrocidades. Interferências do governo. Falta de informação. A luta entre o dever e a consciência. As ideologias versus a humanidade. Realmente, um livro e tanto. Acho que vou passar meses pensando em tudo isso.
comentários(0)comente



Karla Lima 09/03/2017

Tão mais interessante quanto menos o leitor souber a respeito da China
O texto da quarta capa informa que “as imagens e a atmosfera intensa criadas por Mo Yan levam a comparações justificadas com Gabriel García Márquez”. Só posso crer que o resenhista nunca leu GGM: não há magia no ar nem irrealidade nos fatos – o que não é um problema, mas causará decepção a quem decidir ler por causa e em busca do aspecto fantástico da trama.

A história termina em 2004 e o narrador é um dramaturgo de origem camponesa nascido na década de 1950. No meio século coberto pela obra, o autor, Nobel de Literatura de 2014, explora as transformações pelas quais a China passou. Desde a Grande Fome, quando as crianças “brincavam” de comer carvão, até a Revolução Cultural, a chegada e o fortalecimento do capitalismo, a mudança nos costumes que substituiu os arranjos estatais pela escolha individual quanto à profissão e cônjuge, certa abertura para a fé religiosa, a corrupção. A modernidade, atraente e ameaçadora, convive com a tradição em variados níveis de conflito: existe empreendedorismo e resistem as festas tradicionais nas aldeias; existem hospitais lindos como hotéis e sobrevivem os provérbios dos mais velhos e as crendices dos incultos.

O livro se desenrola em dois planos. O mais evidente aborda a severa política do filho único. A tia do narrador é uma ginecologista que no começo da história se torna responsável pelo controle de natalidade da aldeia. Seu trabalho é realizar os partos legítimos, evitar a gestação clandestina fazendo vasectomia nos homens e colocando DIU nas mulheres (com ou sem sua concordância, com ou sem seu conhecimento) e garantir, por todos os meios, que os fetos concebidos fora do planejamento de cotas sejam abortados. Quem sabe pouco acerca de Mao Tsé Tung (1893 – 1976) e sobre os 27 anos em que governou, a partir de 1949, encontrará aprendizados, curiosidades, motivos para revolta, piedade e empolgação. Os que já viram filmes ou leram qualquer obra sobre este lugar e esta época provavelmente ficarão frustrados com a mesmice do olhar sobre esse período histórico, e talvez, ao se concentrar no texto, se irritem com construções como: “bom dia”, ela disse; “olá”, ele disse; e suas variações: “espero que chova”, ela disse; “também espero”, ele disse; ou ainda “gosto de macarrão”, ela disse; “gosto de pasta de soja”, ele disse. Disse-disse-disse-disse-disse-disse, arre!

O segundo plano narrativo também tem a ver com maternidade, mas aqui de um ponto de vista singular e não como política de estado. Até mesmo os acontecimentos contemporâneos, e inclusive os personagens mais jovens, sustentam a noção de que a vida de uma menina vale menos que a de um menino, e a certeza de que nenhuma mulher está completa se não tiver filhos. Eu me pergunto se é uma opinião do autor ou reflexo de uma crença coletiva, e lamento e discordo em qualquer dos casos.
comentários(0)comente



Valéria Ribeiro 08/08/2021

Impressionante
Descrição

?Um não é pouco; dois é bom; três é demais.? Eis o slogan lançado pela Nova China em 1965 - quando as crianças, esfomeadas, ?brincam? de comer carvão - para conter o rápido crescimento populacional, numa política de planejamento familiar que se perpetuará por décadas. Nesse contexto, o Nobel de literatura Mo Yan dá voz a Corre Corre, aspirante a escritor que vê a tia como heroína e quer transformar sua vida em peça de teatro, não sem antes rememorar sua história. Trata-se de fato de uma mulher extraordinária. Nascida em 1937, é a primeira parteira da aldeia a estudar obstetrícia e a enxergar o ofício para além de métodos supersticiosos. Combinando a compaixão de médica a uma autoridade de general, logo se torna a oficial responsável pelo controle de natalidade. Ela deve educar jovens famílias a terem apenas um filho e, quando necessário, realizar abortos, levando a diretriz do Estado às últimas consequências. Conforme os anos se passam neste épico intergeracional, a política do filho único se burocratiza e corrompe, mas a tia de Corre Corre, revolucionária convicta, não enxerga os podres do sistema imoral em que está enredada. Se em chinês a palavra ?wa?, que dá título ao romance, significa tanto ?rã? como ?bebê?, as rãs desta trama são objetos de horror e desejo, como os filhos da Revolução Cultural na China, muitas vezes cobiçados pelas famílias e renegados pelo Estado. De atmosfera exuberante e imaginário plástico, As rãs traz o melhor do realismo fantástico, comprovando por que Mo Yan costuma ser comparado a Gabriel García Márquez. O lirismo, a inventividade da linguagem e a forma bem-humorada de tratar os cenários mais dramáticos, oscilando entre a poesia e o horror, o naïf e o escárnio, transformam esse relato ambientado em uma aldeia da China em clássico universal.

Fonte: Amazon
comentários(0)comente



Flá Costa 01/12/2021

Um bom livro
Não é excepcional. Não me fez querer parar de fazer tudo pra ler e o fim foi beeeeem decepcionante, mas descobri coisas inimagináveis sobre a política do filho unico.

É um bom panorama do que aconteceu na China naquela época.
comentários(0)comente



56 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR