Alexandre Melo @livroegeek 30/05/2017A obscura natureza humana escancarada em TirzaEscrever sobre Tirza não é uma tarefa fácil. Arnon Grunberg em pouco mais de 500 páginas, brinca com os leitores, nos jogando de um lado para o outro, e fazendo com que mergulhemos no intimo de seus personagens. É o que acontece em Tirza, sua obra-prima, um livro que conta com diálogos longos, mas que nos surpreende de maneira singular visto a profundidade da natureza humana (e às vezes a animalidade) existente neles.
O protagonista imaginado pelo autor desta vez é Jörgen Hofmeester, um editor de literatura estrangeira, da classe média, já beirando os 60 anos de idade, que vive em uma residencia em um lugar - segundo ele - privilegiado da cidade. Mora com sua filha mais nova, Tirza - que dá nome ao livro, e aluga o andar superior de sua casa para investir no futuro da jovem. Jörgen foi abandonado pela esposa, que decidiu ficar com um cara mais jovem, numa casa-barco; e sua filha mais velha, Ibi, já saiu de casa, indo morar com o namorado na França. Ele é aquele tipo de cara certinho, cordial, obcecado pela sua rotina, perfeccionista, (um tanto quanto mão-de-vaca), além de ser devoto incondicional de sua caçula. Jörgen entretanto, esconde nas entrelinhas uma personalidade que só vamos descobrindo acompanhado sua rotina. A trama começa com os preparativos para a festa de formatura e despedida de Tirza, que irá viajar para África com o namorado marroquino. Nesse momento, Hofmeester reencontra sua ex-esposa, que volta para casa, momento em que teremos muitos diálogos onde conhecemos mais sobre o passado da família.
O livro é repleto de surpresas, mas na mesma medida, muita tensão. Por meio de Jörgen e sua personalidade enigmática, Arnon brinca com nosso senso de moralidade tocando em situações de encesto, pedofilia, violência contra mulher, loucura, transtornos obsessivos compulsivos, traição, e obsessão, mesmo que não consumados, ou às vezes apenas insinuados, fica na mente nosso medo de que algo assim aconteça nas próximas páginas. (às vezes até acontece...)
Não desejo tocar muito no enredo da trama, mas em resumo Tirza traz aquela narrativa bem característica de seu autor: sempre há algo oculto para ser descoberto, há sempre comportamentos interditados pela moralidade, cria-se incessantemente um incomodo no leitor, mas há sempre vontade de ler mais e mais. Tirza é um livro pesado, daqueles que te deixam ruminando por dias a seguir, mas recomendo com certeza.
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