ritita 14/07/2021Força, esperança e luta.Muito prazeroso ler autores nacionais do quilate de Carolina. Que perfeição de narrativa, ainda que dolorosamente dolorosa.
Carolina conta um pouco de sua sofrida infância nos cafundós das Minas Gerais, bem depois da abolição da escravatura.
Com 4 anos a "negrinha" ainda não sabe ler, mas sabe muito observar e contestar, daí a contação iniciar nesta tenra idade.
Pertencente a uma família sem eira, beira ou telha, Carolina (Bitita), e sua mãe não tem pouso certo, roupa decente e comida suficiente.
Um pouco mais velha, para subsistir com o mínimo e tentar curar suas feridas nas pernas, Carolina anda e anda por MG e interior de SP procurando qualquer trabalho onde possa comer, dormir e ganhar uns contos de réis. Ela lava, passa, cuida de casas, de crianças, cozinha (mesmo que não saiba muito), trata de bichos e plantações.
Seu maior sonho é morar em uma casa coberta por telhas - na sua imaginação é lá que moram os bem de vida.
Nesta fase da vida Bitita já tinha completado o 4º ano primário e era ávida ler para conhecer mais.
"Nossa casa não tinha livros. Era uma casa pobre. O livro enriquece o espírito. Uma vizinha emprestou-me um livro, o romance Escrava Isaura. Eu, que já estava farta de ouvir falar na nefasta escravidão, decidi que deveria ler tudo que a mencionasse."
Com a fita que me cabe, tive a impressão que Carolina colocou muito de fantasia em sua história. Não consigo acreditar que uma criança possa passar por tanto sofrimento, ainda que negra, pobre e interiorana, afinal a escravidão havia terminado.
O livro foi editado primeiramente em francês e passou por várias edições, é possível, sim, que a narrativa tenha sofrido alterações fantasiosas. No entanto, nada tira a beleza e a dor do conteúdo.