Leila de Carvalho e Gonçalves 20/07/2018
Jornada Espiritual
Durante sua vida, o romancista e dramaturgo inglês William Somerset Maugham (1874-1965), apesar de admirado pelo público, jamais conseguiu um elevado respeito por parte dos críticos e de seus companheiros escritores, boa parte ressentida pelo seu êxito comercial.
Habilidoso contador de histórias, suas obras seduzem a atenção, graças ao estilo linear e direto, assim como pela linguagem polida, redigida com clareza e objetividade. Singularmente, são esses os defeitos apontados por seus detratores numa época onde a literatura de vanguarda experimental seduzia as elites culturais, tendo como principais representantes: William Faulkner, Thomas Mann, James Joyce e Virginia Woolf.
Publicado em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, "O Fio da Navalha" é considerado um de seus principais livros, contudo, foge a regra, quando comparado aos demais. Logo no início, Mr. Maugham afirma que não se trata de uma obra de ficção, provavelmente seu intuito era transmitir maior veracidade à história, visivelmente pacifista, que criou.
Outro aspecto peculiar é que esse romance antecipou uma tendência que posteriormente ganharia fôlego com o movimento "Paz e Amor", vinte anos depois. Nele, o escritor discute uma crise espiritual, provocada pelos horrores da guerra, que leva um veterano norte-americano, Larry Darnell, a buscar, na Índia, um sentido para a vida. Na década de 1960, uma boa parte dos jovens, levada pela insensatez da Guerra no Vietnã e pela falta de perspectiva existencial, refez essa mesma jornada em busca de inspiração, a fim de abdicar dos valores ocidentais.
O título do livro foi retirado de um dos "upanixades", texto sagrado hindu, e é um chamamento para a autorrealizacao: "Levante-se! Acorde! Procure a orientação de
um professor Iluminado e realize o Ego.
Afiado como o fio de uma navalha é
o caminho, dizem os sábios, difícil de atravessar."
Finalmente, o texto rendeu várias adaptações para o cinema, entre elas a de 1946, com Tyrone Power no papel principal, e a de 1984, estrelada por Bill Murray.