Lilian 19/04/2011A pata da GazelaBaseado no conto "A Cinderela" e na fábula do leão amoroso de La Fontaine, José de Alencar, em sua obra "A Pata da Gazela" (1870), esboça um retrato irônico e crítico da sociedade brasileira do século XIX. A história é bastante singela: um rapaz jovem e sedutor (Horácio) encontra um pé de botina caído na calçada e a trama se desenrola na tentativa dele, e de outro rapaz (Leopoldo) que também observava a cena, de descobrir quem é a dona daquele sapato. A história gira em torno de Horácio, Leopoldo, Laura e Amélia.
Horácio, rapaz jovem e sedutor, vê quando o lacaio das moças derruba um pé de um par de botinas de pelica e seda, pequeninas e mimosas e apaixona-se pela dona dos pés desconhecidos. Leopoldo, que estava na mesma rua, vê de relance Amélia e apaixona-se pelo seu sorriso, mesmo após um vislumbre dos pés disformes que ele pensa serem os dela. A partir daí, a história se desenrola em torno das posições antagônicas dos dois rapazes: um cultiva o amor pelo conteúdo, apesar de acreditar que a jovem possui um pé aleijão (pata de elefante) que vira se recolhendo à carruagem. O outro cultiva o amor pela forma, pela parte, ao acreditar que a moça dona da botina é dona de um pé pequeno e perfeito, uma pata de gazela. O que não sabem é que na carruagem estavam duas grandes amigas, Amélia e Laura, ambas envergonhadas por causa de seus pés (uma o tinha muito pequeno, e a outra, em proporções fora do normal). Ambos acham que a pessoa que viram é Amélia. Leopoldo vê o pé aleijão subindo na carruagem, entra na sapataria e vê um sapato de mulher sendo feito numa fôrma com proporções descomunais. Associa uma coisa a outra, e o primeiro sentimento que tem é de nojo. Mas com o tempo aprende a amar Amélia, apesar do pé defeituoso. Horácio, por sua vez, chega ao extremo de pedir Amélia em casamento, apenas para ter a oportunidade de ver seu pé. Mas afinal, qual dos dois estará certo? Apesar da história ser bastante previsível, o final da obra é surpreendente.
Este foi da minha fase José de Alencar, sim, eu tive essa fase e confesso que sinto falta dela, inclusive estou pensando em retomá-la, mas, deixa isso pra lá. “A pata da gazela” é lindinho, uma romance bem açucarado, mas sem cenas hots, é claro, foi escrito em 1870, como poderia ter? O livro tem um finalzinho bem previsível, mas é uma graça, eu que li no auge dos meus 11 anos, adorei na época e tenho certeza que adoraria hoje, pois assim como amo Jane Austen, sou apaixonada por José de Alencar. Esse não está na minha estante, simplesmente porque não o tenho, na época li a compilação da biblioteca da escola. Mas um dia, o terei, só preciso achar num sebo da vida...