Flavia_Marcato 19/08/2012Férias! (Marian Keyes)Eu confesso que comecei a ler Férias! meio a contragosto. Acontece que comprei – em boa parte incentivada pelas amigas e criticas que li a respeito da Marian Keyes – os dois primeiros livros da Família Walsh (Melancia e Férias!), e depois de ler a historia da Claire simplesmente não entendia porque a Titia Marian era tão adorada. Não que Melancia seja um livro ruim, ocorre que achei que ela enrola demais e em minha opinião a Claire faz muito, muito drama (não que não tenha motivo, mas enfim).
O fato de não ter gostado tanto assim da Claire fez com que Férias! ficasse encostado na minha estante por meses, e somente nas minhas férias incentivada pela falta do que fazer dos dias chuvosos é que dei uma chance para Rachel.
A Rachel é uma figura, acabou de sofrer um “acidente” envolvendo muita droga e uma porção de remédios para dormir e todo mundo acha que ela tentou suicídio, por causa disso e da “traição” da amiga Brigit e do namorado (ops, ex-namorado) ela acabou tendo que ir para o Claustro.
Mas tudo bem, afinal todo mundo sabe que os centros de reabilitação têm vários tratamentos estéticos e academia, sauna e o melhor de tudo, muitos artistas. Ela não faria amizade com os outros clientes do Claustro, porque afinal ela não era uma toxicômana, e tudo não passa de um grande mal entendido sendo que ela não deveria estar ali.
O livro vai contando a historia de Rachel no Claustro intercalando com historias do passado, o que nos permite conhecer melhor sua melhor amiga de infância – Brigit – uma mulher que tem um bom emprego, que é bonita e já encontrou seu rumo na vida além de ser uma grande admiradora dos homens da cultura latino americana, e Luke – o namorado mais fofo do universo – que era um homem de verdade, se vestia como nos anos 70, com cabelos escuros e pernas grossas além de ser alto (o que era muito bom visto que Rachel também era alta).
Luke era o típico namorado perfeito que todo mundo quer, mais que por algum motivo muito idiota (aqui o fato de ele ser um pouco brega, usar roupas muito grudadas e ter uma fixação pela década de 70) a protagonista faz ele de gato e sapato.
No decorrer do período de Rachel no Claustro, começamos vendo ela em negação, afinal não era uma dependente, depois ela passa pela raiva quando finalmente assume que tinha sim um problema, seguindo pela depressão e finalmente a aceitação. Lá conhecemos varias figuras interessantes como Chris o belo, Vicent, Chaique a colega de quarto, Eamon o gordinho, Misty a ‘insuportável’, Mike e outros que não lembro agora.
O ponto alto pra mim com tudo foi à visita de Brigit e Luke como os OIEs (Outro Importante Envolvido) de Rachel. A gente sabe desde o inicio que ela tem um problema, mas ela apresenta uma visão muito mais cor-de-rosa de tudo, tudo parece melhor e mais bonito quando é ela quem conta (alias acho todos nós fazemos isso quando contamos uma historia), contudo quando eles contam como ela era exatamente é como se ela se transformasse de uma menina descolada que não era assim tão viciada em uma dependente magra de cabelo grudado que vemos de vez em quando.
O ‘depoimento’ de Brigit já é bem difícil, mas quando Luke fala é que realmente sentimos afinal ele foi rejeitado diversas vezes, das mais variadas formas. Enquanto ele fala podemos enxergar como ele sofre ao ter de confronta-la desta maneira o quanto ele tentou, o quanto ele era perfeitinho, como ele amava ela e o quanto tinha sido humilhado e magoado.
Neste momento tudo no livro muda tudo passa a ser visto de outra forma, e se você realmente estiver lendo com bastante atenção, é impossível não chorar, afinal a única coisa que vem na cabeça é que eles poderiam ter tido tudo, eles poderiam ter tido muito mais, neste ponto estamos na pagina 400 e ainda faltam quatro dias para Rachel completar três semanas no Claustro.
A história continua e passamos pelas diferentes fases de Rachel no seu longo processo de recuperação, chegando ate o momento em que ela sai do Claustro, depois de dois meses de internação. Vemos ela se envolver com Chris o idiota, brigar com a mãe e mesmo sabendo dos riscos e tendo aversão a tudo o que pode acontecer, ela tem uma recaída é atropelada e quase morre de novo.
Depois disso, ela ‘faz as pazes’ com as irmãs, a mãe e finalmente se compromete com sua recuperação. Conhecemos Lola e passamos a gostar dela no mesmo instante em que ela aparece linda e recuperada de seu vicio. Depois de um tempo, Rachel reencontra Brigit e uma das passagens mais bonitas faz as pazes com ela, reconhecendo que não foi uma boa amiga e tendo força suficiente para se desvencilhar da amiga e seguir em frente de cabeça erguida. Acompanhamos a decisão dela de fazer faculdade e entendemos a escolha dela pela psicologia. É emocionante acompanhar o crescimento de Rachel e a forma como ela coloca sua vida nos eixos, como finalmente entende que primeiro ela precisa ter amor próprio, pra depois pensar em qualquer outra coisa, e como isso a leva a repensar sua vida e suas escolhas.
E quando tudo culmina para o final, a única coisa com a qual conseguimos pensar é ainda faltava Luke, então ela vai pra Nova York antes de começar a faculdade. Em NY ela leva cinco semanas para ter coragem de ir atrás de Luke afinal ele pode nem lembrar mais dela, ou pior ter um ódio mortal por tudo que ela o fez passar. A única coisa que ela tem certeza é que ele não a amava há um ano e meio atrás (afinal foi o que ele tinha falado quando foi ao Claustro).
O encontro com Luke é emocionante, ela se desconcerta ao vê-lo, afinal ele era o homem que ela ama e que perdeu por ser uma toxicômana. Seu pedido de desculpas é sincero (e inesperado para ele), o encontro é um pouco desajeitado e meio travado, eles conversam sobre economia e balança de pagamentos até chegar ao fato dele ama-la ou não, chegando à conclusão mais obvia e linda, ele a amava, mesmo ela sendo a pessoa horrível que era ele a amava. Mas ao contrario do que se pode pensar, o encontro termina e nada acontece, eles não voltam e novamente você volta a chorar rios.
Já no epilogo, Luke vai atrás de Rachel declarando todo seu amor, e aqui as lagrimas só fazem aumentar, chegando ao nível soluço de ser. Luke é o típico cara perfeito, mesmo que algumas pessoas duvidassem.
É incrível ver o crescimento de Rachel, o quanto ela evolui e melhora como pessoa, como filha, irmã, mulher, como ela toma as rédeas de sua vida e coloca (com muito esforço) tudo onde deveria estar desde o inicio. É impossível não amá-la, não entendê-la e não torcer por ela (mesmo ela tendo errado ate não poder mais).
Depois de Férias! pude entender porque a titia Marian é tão adorada, e realmente há muito motivos para isso, o livro é incrível e flui tão bem, mais tão bem, que li as quase 560 páginas em quatro dias. Sem duvidas entrou para a minha lista de favoritos. Uma incrível historia de superação embalada em um ou dois romance, muitos erros e uma quantidade incontável de drogas.
Indico-o tranquilamente, só que, concordando com todas as criticas e indicações que li, só diria que antes de lê-lo que leia o Melancia, pois em Férias a spoilers da historia de Claire.
P.S.: Somente a titia Marian para narrar tão explicitamente uma cena de sexo sem ser vulgar, ponto pra ela.