leandro 30/04/2011
Construindo a Porta Estreita
Muitos perguntam como um moça que viveu apenas 24 anos, reclusa e anônima, pode ter se tornado Santa e ser considerada doutora da Igreja. Parte das respostas encontra-se nessa obra transformadora e incômoda, que nos revela um ser puro e imaculado, cujos pensamentos e considerações nos deixam transtornados face ao materialismo que permeia a vida presente. Não é um livro fácil, porque tem o condão de nos colocar diante de nós mesmos e rever uma série de conceitos disseminados em nossa sociedade. Para se adentrar no cerne da obra, atrevo-me a afirmar que se faz necessário até mesmo certa inclinação mística ou de fé.
Pois para entender os paradoxos que envolvem a "Pequena Via" ou "Via Menor" e seus dilemas, caminho que Santa Teresinha afirma como uma das sendas para vivenciar a presença de Deus, é preciso certa dose de maturidade espiritual, é preciso se aprofundar um pouco no que Jesus Cristo denomina como "porta estreita".
Ao nos oferecer seu modelo de perseguir a fé, a Santa nos conduz para os sacríficios anônimos e cotidianos, as pequenas miudezas que somadas fazem o grande mosaico da vida. Uma entrega ao exemplo de Jesus, mas uma entrega consciente e forte, que exige uma disciplina constante para manter o senso nas pequenas escolhas, onde todo egoísmo é deixado em busca do que se possa traduzir em bem comum. O caminho de Santa Teresinha contempla a verdade sob as aparências, a reta conduta, o abandono de quaisquer glórias ou recompensas pelo reto agir, pelo bem. De certa forma, podemos aqui fazer uma correlação com o conceito de autonomia da vontade, em Kant, onde, de forma simplista, pode-se afirmar que a vontade livre é aquela manifestada em consonância com o bem em si mesmo, sem busca de utilidade, vantagem, que se exterioriza apenas em função de um imperativo categórico maior. Outra correlação, nesse sentido, é a que podemos extrair da obra de Josemaria Escrivá, com seu Opus Dei, que na essência seria o desempenho de todas as atividades em aproximação com o Espirito Santo, de forma que todos os atos estariam revestidos, assim, de um harmonia maior (e consecução) com a Lei de Deus. Claro que a "via menor", "autonomia da vontade" e o Camiho (Escrivá), não se tratam da mesma coisa, apenas possuem pontos de contato, revelando a universalidade de tais ideiais que inspiram tais conceitos, baseados numa realidade moral superior.
Portanto, História de Uma Alma trata-se de um livro introspectivo, mas cujas raízes encontra-se no inconsciente coletivo da humanidade, em sua acepção de conjunto do patrimônio dos valores e ideais humanos.