Mariane.Sauer 15/07/2016
Reflexões
Considerado o “ponto zero”de suas obras, segundo o próprio autor. O autor debruça-se sobre a questão do suicídio: se a vida vale a pena ser vivida. Para iniciar o tema, Camus começa explicando o que ele chama de “sentimento do absurdo”: “O divórcio entre o homem e sua vida, o ator e seu cenário é o sentimento do absurdo” (pg.21). “Essa revolta da carne é o absurdo”; “essa densidade e estranheza do mundo é o absurdo” (pg.28). E é este sentimento de absurdo, este sentimento de não pertença, de estranhamento do mundo é que poderia-se justificar o suicídio, enquanto uma solução para o absurdo. E é isto que o autor vai rebater. Ele explica que Negar um sentido à vida é diferente de dizer que ela não vale a pena ser vivida. As pessoas se matam por isto, porque não valer a pena viver, mas não pela falta de sentido. Muitos se matam, inclusive, por motivos que lhes dão razão de viver (e de morrer também). E muitos filósofos que dizem não haver sentido na vida não se matam (pg. 19 e 23). Logo, não há conexão direta.
Estranha-se o mundo. Percebe-se que o mundo “é denso”. Isto é o absurdo. Nem a ciência consegue explicar tudo. “A ciência que deveria me ensinar tudo, acaba em hipótese” (pg. 33). O verdadeiro conhecimento, logo, é impossível. “O mais absurdo é o confronto entre o irracional (que é o mundo) e o desejo de clareza cujo apelo ressoa no mais profundo do homem” (pg. 34). O homem tem esse desejo de compreender, mas não consegue. Viver somente com o que se sabe, não admitir nada que não seja certo. Viver sem apelação. “O absurdo aniquila todas as minhas possibilidades de libertação eterna” “A morte está ali como única realidade. Depois dela, a sorte está lançada. Já não sou livre para me perpetuar, sou escravo”. “O absurdo me esclarece o seguinte ponto: não há amanhã. Esta é, a partir de então, a razão da minha liberdade profunda” (pg.63). “Mergulhar nesta certeza sem fundo, sentir-se suficientemente alheio à sua própria vida para acrescentá-la e percorrê-la sem a miopia do amante, aí está o princípio de uma libertação” (pg.64). Aquilo que se pode sentir e viver é a única liberdade, ou seja, o homem absurdo aceita a vida assim como ela é recusa uma esperança, não busca consolos. O homem absurdo vive sem apelo e satisfaz-se com o que tem.
A seguir o autor dá exemplos de homens absurdos: o “don juan”(o amante), o ator e o aventureiro. Pois todos à sua maneira pensam com clareza e não esperam nada. O ator penetra diversas vidas e as experimenta; aplica-se de corpo e alma a não ser nada, ou ser muitos. O don Juan segue a ética dos prazeres, é sua maneira de dar e de fazer viver. Amar e possuir, conquistar e esgotar. O aventureiro, ou conquistador, tem ele, o homem como seu próprio fim, querem lutar, querem superar-se. Todos estes imitam, repetem e recriam sua própria realidade (pg.98). E por fim dá o exemplo dos “criadores”, dos homens que criam algo, artistas, que relaciona-se com os exemplos anteriores, pois criar é “viver duas vezes”. Cobre-se com imagens o que carece de razão. “Se o mundo fosse claro, não existiria a arte”. Logo, a arte também o expressa o absurdo.
Por fim, Camus relaciona a questão do absurdo com o mito de Sísifo, o definindo como um homem absurdo, na medida em que é consciente da sua condição, contemplando o seu tormento. E finda o livro dizendo que “A própria luta para chegar ao cume basta para encher o coração de um homem. É preciso imaginar Sísifo feliz”. Ou seja, conclui que sim, a vida vale a pena ser vivida, seja como for, desde que tenhamos consciência da falta de um sentido e conviver com este fato e satisfazer-se com o que se tem.