Flávia Menezes 31/03/2022
QUANDO O ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE CHEGA.
?Love: A história de Lisey?, escrita pelo mestre Stephen King, e publicada em 2006, é uma das histórias mais importantes da vida do escritor. Não porque seja autobiográfico, mas porque sua ideia surgiu em 2000, quando ele foi internado com uma grave pneumonia, e por pouco, não deixou esse mundo. Em sua volta para a casa, ele descobre que sua esposa, Tabitha King, limpou todo o seu escritório, o que o fez perceber o quão grave foi o seu quadro clínico, e como foi difícil para ela lidar com essa situação. E foi aí que a ideia para esse livro surgiu.
Segundo o próprio autor, essa é uma história sobre casamento, sobre a coragem de lutar por quem se ama, sobre traumas, mas também sobre o luto. E por trás de todo o mundo de fantasia sobrenatural criado por King, são exatamente esses os elementos que iremos encontrar.
Esse não é um livro como os demais escritos pelo mestre, e nem posso dizer que não houve momentos em que me senti exausta com a leitura. A narrativa é bem lenta em alguns momentos, e há instantes em que o suspense é mantido por tanto tempo, que não posso dizer que me senti presa à história todo tempo. Mas, mesmo assim, não senti vontade de desistir.
Se me permite, uma dica que eu dou para enfrentar essas leituras mais difíceis é: faça uma leitura conjunta. Ter tido mais duas pessoas comigo (e aqui aproveito para agradecer toda a parceria que tive da Dani e do Elcimar!??), me ajudou muito a me empolgar mais com a escrita. Compartilhar ideias e impressões me ajudou muito a mergulhar de cabeça em toda a loucura, sem pensar em mais nada, e só sentir toda a intensidade que esse livro possui.
Um pequeno parênteses que faço, é que, para mim, um dos maiores ?bool? ou ?didiva? dessa história (termos usados no livro, para indicar que as pistas levariam a um prêmio), é que a Tabitha ajudou a escrever essa história, porém não quis receber qualquer crédito por ela. Loucura ou não, confesso que em alguns momentos, a narrativa me lembrou muito a escrita da Tabitha, porém, é só uma impressão minha, e se existe ou não algo de verdade nisso, acho que não vem muito ao caso.
Algumas coisas me marcaram bastante nessa história, e uma delas é toda a simbologia por trás do que foi escrito. Esse mundo paralelo para o qual somos transportados durante a leitura, é bastante significativo, e só me fez pensar no quanto, em momentos realmente difíceis, todos nós temos o nosso lugar seguro para o qual recorrer. É claro que em se tratando do mestre King, esse lugar não é só seguro, e o mestre acrescentou uma boa dose de perigo e muito horror. O que torna tudo ainda mais fascinante.
Outro ponto que me deixa bastante tocada, é sobre como é real o fato de nos ligarmos as pessoas quando passamos por situações semelhantes. É algo que nos conecta uns aos outros, porque compreendemos a dor do outro, e o quanto essa ?coisa-ruim? pode nos consumir de uma forma que o nosso eu verdadeiro parece nem estar mais lá. É tocante, é real, e emociona bastante.
Para mim, a história por trás da história, é que Lisey precisa criar todo esse universo de perigo, de loucura, para dar conta do luto e da dificuldade de encarar um mundo onde o homem que ela ama, não faz mais parte. Lidar com essa ausência, sabemos bem que não é nada fácil. E por isso, senti muito como se por trás de todas as metáforas, houvesse uma mulher que está sofrendo pela perda do homem que ela tanto amava, e precisa de qualquer coisa na qual possa se agarrar, para dar conta do vazio insuportável que ele deixou.
Essa não é uma história fácil de ser lida. E sua narrativa não é nada ágil, muito pelo contrário. Mas se você estiver disposto(a) a dar uma chance para compreender a forma como o escritor lidou com esse pensamento assustador, tenho certeza de que você vai encontrar uma história que vai te sensibilizar muito, e te fazer pensar sobre a verdadeira conexão que fazemos com outro ser humano, a ponto de nos comprometermos a estar ao lado dele na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, até que a morte nos separe.
Obrigada pelas lições, King. Foi o livro mais louco que eu já li nessa vida, mas a mensagem final, realmente fez valer muito a pena.