Nicolas523 24/12/2023
"A culpa era de Deus, por zombar dela daquele jeito."
"Cidade do Sol" é um livro que traz, principalmente, revolta e angústia. Ao longo da leitura, me questionei se não seria o sofrimento uma ferramenta explorada de forma gratuita pelo autor. Porém, considerando a humanidade com que trata suas personagens e a realidade perturbadora que inspirou as descrições de Khaled Hosseini, esta é uma história sobre o declínio social e moral do Afeganistão. Para representar isso, ele partirá da vida de duas personagens que, a princípio, parecem não possuírem nenhuma relação entre si, além de seu pecado primordial: são mulheres.
"Assim como uma bússola precisa apontar para o norte, assim também o dedo acusador de um homem sempre encontra uma mulher à sua frente. Sempre."
A primeira delas, Mariam, "uma mulher que vai ser como uma rocha no leito de um rio, suportando tudo sem se queixar" ? frase que resume toda a trajetória dessa garota/mulher de origem humilde e sofrida do interior. E Laila, uma jovem inteligente e impetuosa que, no entanto, tem seu vigor exaurido pelas consequências da guerra. Ambas perdem toda sua ingenuidade ao serem inseridas num cenário de violência, perdas, abuso e exploração.
O livro trata de muitos temas interessantes. Até mesmo nos instantes em que narra os contextos políticos, o andamento não fica enfadonho. Como um amigo meu apontou muito bem, a escrita de Khaled é polida, fluente, mesmo nas cenas mais chocantes. É impossível não se emocionar com toda vida de duas mulheres tão fortes. No fim, apesar de tudo, a esperança, não importa o quanto esteja distante, acha brecha em suas vidas.