Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 22/06/2017
Já Li
Henry David Thoreau é conhecido por ser um escritor transcendentalista. Ou seja, Thoreau compartilhava do ponto-de-vista filosófico do transcendentalismo, que acredita que a sociedade e suas instituições afastaram o homem de sua real essência, mais próxima à natureza e à simplicidade, e o homem só pode resgatar sua pureza através de isolamento e contato direto com a natureza. Além de escritor, Thoreau também lutou pelo fim da escravidão nos EUA e era historiador. Ele teve uma vida bastante agitada, marcada por envolvimentos em movimentos de libertação e resistência, portanto, para quem se identifica com os valores de Thoreau, vale a pena conhecê-lo melhor.
Em 1854, Thoreau foi morar em uma cabana em Walden Pond, um lago em Massachusetts cujas terras eram de um amigo seu, Ralph Waldo Emerson. Atualmente, Walden Pond é uma reserva ambiental e os arredores onde Thoreau morou foram transformados em parque. No museu da reserva, há alguns itens de mobiliário do escritor expostos para os visitantes.
Thoreau morou em Walden Pond por dois anos, dois meses e dois dias. O escritor tinha em mente fazer uma espécie de experimento social, que comprovasse que os valores do transcendentalismo estavam corretos. Além disso, Thoreau queria declarar sua independência do Estado, mostrando que é possível retornar às origens do mundo, quando o homem mantinha seu sustento através da natureza e com necessidades mínimas e básicas de consumo. Esta sua experiência foi relatada por ele no livro "Walden ou A Vida nos Bosques".
Assim, é fácil perceber que o livro, além de ser autobiográfico, é predominantemente introspectivo. Do começo ao fim, o leitor acessa os pensamentos de Thoreau neste período de confinação, pensamentos estes que tem um tom de "estudo filosófico". Thoreau analisa e critica a sociedade e suas estruturas políticas e econômicas, bem como discorre sobre os benefícios de uma vida simples em contato com a natureza. O escritor não poupa críticas à sociedade, então o leitor se depara com frases como esta:
"A massa nunca se eleva ao padrão do seu melhor membro; pelo contrário, degrada-se ao nível do pior." (Walden ou A Vida nos Bosques, de Henry David Thoreau)
Thoreau organizou seu relato no livro em dezoito partes, que englobam economia, reminiscências de seu passado, os sons de Walden Pond, a solidão, os eventuais visitantes, vegetarianismo, primavera, entre outros. Em cada parte, Thoreau foca a narrativa em algum determinado assunto, mas isso não o impede de, eventualmente, sair do foco e discorrer sobre outros temas.
Para mim, a parte mais interessante foi a que trata de solidão. Thoreau vê a solidão como algo extremamente positivo, pois nos afasta do pior que os relacionamentos oferecem (fofocas, cobranças, falsidade, mentiras, e assim por diante), o que permite que ele encontre sua verdadeira essência, sem a interferência de outras pessoas. Ele também desenvolve a idéia de que, quando o homem está em contato com a natureza, não há sentido em sentir-se só, pois ele está em comunhão com a vida. Embora Thoreau seja bastante radical em sua visão negativa dos seres humanos, me identifico com alguns pontos mencionados por ele, pois valorizo muito a solidão e gosto de ficar sozinha e em silêncio. Talvez outras pessoas introspectivas como eu também gostem desta parte.
Na conclusão, Thoreau muda o tom narrativo. Ao longo do livro, ele escreve como um observador externo, relatando sentimentos e pensamentos com um distanciamento filosófico. Já na conclusão, ele adota um estilo mais apaixonado e emotivo, convidando seus leitores a saírem do conformismo.
Acredito que a leitura deste livro é recomendada para quem gosta de Filosofia. Do contrário, a narrativa pode tornar-se bastante cansativa. De qualquer forma, as reflexões que Thoreau faz sobre consumismo desenfreado, progresso a qualquer custo e escravização pelo dinheiro, são extremamente relevantes e merecem ser lidas e discutidas.
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