EXPLOD 09/08/2015
Impactante
“O Mulato”, obra literária de 1881, é peça inaugural da escola naturalista no país. Há diversas passagens que claramente demonstram essa qualificação, no entanto, não são passagens que superem a crueza e vitalidade comparativa e metafórica existentes em “O Cortiço”. Ao contrário desta outra obra sua, o autor concentra quase toda a estória numa única situação/problema: o romance que passa a existir entre Raimundo e Ana Rosa, prima sua. O final, apesar de eu já ter conhecimento do desfecho mesmo antes de fazer a leitura, é, apesar de ser até previsível tendo em conta o autor e a escola literária, surpreendente. Em simples e poucas frases é impactante, até mesmo para quem não costuma gostar de romantismos, e por tudo que se passou na estória, é no mínimo impactante. Isso pode ser explicado, por outro lado, em razão da abrupta transição entre vida e o acontecimento maior que envolve a personagem principal e que dá nome ao romance, pois a partir de então passa-se a descrever o que aconteceu depois de forma resumida, já no fim mesmo.
Como eu já tinha ouvido falar, a demonstração de amor realiza-se por reações corporais. Mas não é nada muito revelador como ocorre em “O Cortiço”, que já me é exagerado. Tanto que acontece algo com Ana Rosa que o leitor nem espera, por não ter existido um indício que indicasse maiores considerações.
Importante dizer que o ambiente é São Luís do Maranhão, e isso é muito revelador sobre Aluísio Azevedo.
Há uma passagem em que Freitas conversa com Raimundo, a fim de demonstrar seus conhecimentos, sem modéstia, e nisto se demora tanto que talvez o autor o tenha feito propositadamente para o leitor sentir o mesmo desprazer de Raimundo em ouvir tanta conversa besta. Ainda assim, Freitas, não sendo, no fim das contas, um verdadeiro reflexo da sociedade racista, tem muito em conta e consideração “o mulato”.
O que achei mesmo interessante foi que Aluísio Azevedo concentrou a figura do preconceito e da maldade consequente e típica do período em personagens femininas. Diogo, como cônego, representa uma forte crítica, mas não me impressionou tanto quanto o número de mulheres “criadas à moda tradicional do Maranhão”, comparativamente aos homens, possuindo desprezo e até ódio pela raça negra.
Raimundo, ao contrário de muitas ilustrações que representam o mesmo em várias capas de livros em outras edições, não é visivelmente um homem de muita “cor”; até seus olhos são azuis. Mas muitos conheciam sua origem, filho de escrava com português casado.
Aluísio Azevedo tratou muito bem a temática do racismo, tanto que, mesmo quem não queira pensar muito sobre essa questão passa a, mesmo inconscientemente, como foi o meu caso, refletir sobre o preconceito racial em nosso país e sobre os direitos. Afinal, quem, no Brasil de hoje, não possui sangue de origem negra correndo em suas veias, nem que ao menos remotamente?