Lanna 10/11/2024
Uma perda de tempo
Todo mundo diz o quanto esse livro é triste, então li esperando chorar bastante, mas não derramei uma lágrima sequer simplesmente porque não consegui comprar essa história. Adianto que talvez a minha resenha contenha spoilers.
É uma sucessão exagerada de tragédias que é perceptível a intenção da autora de te chocar. Ela não fica satisfeita em te descrever uma cena forte, ela fica repetindo, repetindo, repetindo... Ela bate tanto ma mesma tecla que ao invés de me sensibilizar eu só tava de saco cheio de tudo que eu tava lendo ali.
Sou uma pessoa muito sensível pra temas de automutilação e na primeira vez que li uma cena dessas, fiquei enjoada e tonta, mas depois dessa houve mais uma avalanche de cenas de automutilação super descritivas que eu já não tava mais sentindo nada (que bom) porque até me acostumei.
A autora tem umas opiniões bem controversas, ela acha que terapia não funciona e que suicídio deveria ser "normalizado" como um direito da pessoa. Depois que eu soube disso, percebi o quanto essas opiniões influenciaram esse livro porque, basicamente, ela escreve uma história repleta de traumas pro Jude e nada do que os outros fazem pra ajudar surte efeito, ele não aceita buscar acompanhamento profissional e quando aceita, não funciona. É como se ela tivesse falando "hey, se você tem um trauma, esquece! A sua vida vai ser sempre uma merd* mesmo e teu único caminho é o suicídio". Isso é um desserviço tão grande que eu nem sei.
Agora vamos falar do que eu achei inverossímil. O Jude é abusado física e sexualmente por todos, repito, todos os homens que passaram pela vida dele durante a infância. E não foram um ou dois, foram centenas de homens, centenas de vezes. Aí ele cresce e em quem ele deposita toda a sua confiança? Homens. Não que seja impossível de acontecer, mas acho curioso a autora ter escrito que a rede de apoio do Jude é composta unicamente por homens. Primeiro porque é muito raro (eu nunca vi) que homens se ajudem TANTO assim, emocionalmente falando; na verdade, geralmente quando um homem tem um problema ele procura a figura feminina mais próxima. Mas a autora quis mesmo me convencer que um grupo de homens se uniria por quase 40 anos (!!!) pra ajudar alguém que nem aceita ser ajudado. Acho que até a Hanya percebeu que isso não fazia muito sentido, então deu logo um jeito de juntar o Jude em um relacionamento homossexual com um desses amigos (sendo que no livro, em momento algum é mencionada a orientação sexual do Jude, ele só diz que "achava natural" ficar com homens porque pra ele sempre foi assim, lembrando que ele não "ficava", ele foi abusado (!) durante a infância. Mais um desserviço da nossa querida autora ao tratar da sexualidade de uma vítima de abuso).
A primeira pessoa em quem o Jude realmente confia e que não abusa dele é uma mulher, a assistente social Ana, mas aí a autora deu um jeito de matar a personagem em menos de 50 páginas, afinal, como seria possível continuar escrevendo sua sequência de tragédias se o Jude começasse aos poucos a receber afeto de alguém né?! Outra figura feminina "importante" pro Jude é a Julia, sua mãe adotiva, mas nesse livro de quase 800 páginas eles não trocam 05 frases. Em um determinado ponto da história o Jude decide tentar ter um relacionamento, aí ele tem a opção de uma mulher conhecida ou um homem desconhecido (que ele descreve como tendo um olhar ameaçador), adivinha quem ele escolhe? O homem. Esse cara humilha, espanca e est*pra ele repetidas vezes. Mais uma tragédia pra vida do Jude.
A autora parece achar que sofrimento forma caráter porque todos os nossos protagonistas sofrem, o Jude coitado, come o pão que o diabo amassou em todo o livro, o único que tem uma infância feliz com família amorosa é o JB, e ele é um grandessíssimo babaca com todo mundo no livro todo. Até o Harold (pai adotivo do Jude) sofre com a perda de um filho e foi depois de ler sobre a morte dessa criança que não levei mais a autora a sério.
Hanya descreve uma morte muito cruel pra essa criança causada por uma síndrome, aí fui pesquisar pra entender mais sobre a doença e ADIVINHA? ESSA DOENÇA NÃO EXISTE! Sério! Porque não basta as milhares de doenças que causam dor, sofrimento e morte todos os dias, a autora tinha que inventar uma doença pra dar uma morte horrorosa pra uma criança de 05 anos. Pra quê?? Pra te chocar, leitor.
E temos o momento vilão de desenho animado, onde um psiquiatra do mal sequestra o Jude, tortura e abusa dele. Todo esse plot foi tão sem sentido e com furos que eu nem quero me demorar nele. É só mais uma das 40 mil violências que a autora faz acontecer com o Jude.
Já vi algumas pessoas falando que esse livro serve pra abrir nossos olhos sobre como o mundo é mau. Mas galera, existe uma invenção revolucionária chamada jornal, você tem acesso a ele por meio de papel, pela Internet, tv ou rádio, assim você se mantém atualizado do que acontece. Você não precisa que uma autora de escrita pretensiosa jogue um monte de sofrimento na sua cara pra te mostrar que o mundo é hostil.
Esse livro todo é um desserviço, nunca mais quero ler nada dessa autora e se eu vê-la na rua eu atravesso.