Gabriel 17/01/2022
Júlio César, de William Shakespeare
Até o mais forte político pode sucumbir...
Primeiro livro do ano, primeira peça do Shakespeare do ano.
Em Júlio César (1599), vamos acompanhar a dualidade que rondava essa figura sagrada (literalmente, pois ocupava o posto de Imperador e de maior autoridade religiosa romana), e os conchavos que levaram ao seu assassinato- com 33 facadas- no Senado Romano.
Acompanhamos muito a trajetória da persuasão de Cassius para trazer Brutus (enteado de César) para o lado dos conspiradores. Marcus Brutus, que já tinha medo da possível tirania vinda de seu padrasto, acaba "cedendo", e junta-se aos outros 7 conspiradores- Cassius, Casca, Trebonius, Ligarius, Decius Brutus, Metellus Cimber e Cinna.
"Ele domina todo estreito mundo
Como um Colosso; e nós, homens mesquinhos,
Sob suas pernas vamos caminhando
Para encontrarmos covas desonrosas.
O homem por vezes manda em seu destino:
A culpa, Brutus, não 'stá nas estrelas
Mas em nós mesmos, se nos submetemos.
Brutus e César; o que há nesse 'César'
Por que ecoa esse nome mais que o seu?"
- Cassius (Pág 9 da peça- Edição da Nova Fronteira)
No dia dos Idos de Março (15 de março), Júlio César sai de sua casa, contrariando sua esposa, Calpúrnia, que teve um sonho premonitório de sua morte- além disso, um vidente já havia avisado a César que ele deveria ter cuidado com os Idos de Março, durante um festival de adoração a César.
Chegando ao Senado, é esfaqueado 33 vezes, o último golpe, dado por Brutus, nos rende uma das frases mais famosas de Shakespeare: "Et tu, Brutus?"
O desenrolar da peça nos mostra as mortes (muitos suicídios) dos conspiradores, por causa de um discurso bastante inflamado e, ao mesmo tempo, passivo-agressivo de Marco Antônio, braço direito de César.
Na minha opinião, é uma tragédia histórica- inclusive, o real título é "A Tragédia de Júlio César". Até porque marca o período entre a criação de Henrique V (peça histórica) e Hamlet (tragédia). Shakespeare tira proveito de uma história romana do século I a.C para criticar a sociedade inglesa da época, bastante dividida e com sérios problemas políticos. Esse período do Reino Unido é marcado pelo reinado da Rainha Elizabeth Tudor, última de sua dinastia (isso significava uma mudança de famílias no poder inglês). O duplo desse fato, na cena, é a mudança da monarquia para a república.
Uma peça marcada pela luta entre a política contra o amor; da honra romana contra a tirania; da persuasão contra os princípios; e a fácil manipulação de isso.
"Desde que Cassius, pela primeira vez
Me atiçou contra César, que eu não durmo.
Entre a execução de algo terrível
E a primeira ideia, o ínterim
Nos fica qual fantasma, ou sonho terrível:
A mente e o fatídico instrumento
'Stão em debate, e o estado do homem
Como um pequeno reino passa então
Por um processo revolucionário"
- Marcus Brutus
Tradução e texto introdutório, ambos de Bárbara Heliodora (li na edição da Nova Fronteira) impecáveis.