Fernando Lafaiete 08/07/2018A Guerra Não Tem Rosto de Mulher: A Realidade que nos deprime e nos faz pensar!**Projeto leituras conjuntas**
Tema do ano: Representatividade e problemas sociais na literatura.
Livro 4: A Guerra Não Tem Rosto de Mulher - Mês: Junho
Próximo livro do projeto: Passarinha (fica o convite para lerem e debaterem no final do mês com a gente através dos comentários da resenha que eu postar)
***NÃO contêm spoiler****
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Por onde começar? O que escrever sobre minha experiência com esta obra? A indico? Foi uma leitura rápida?
Muito difícil escrever uma resenha sobre este livro. É sem sombras de dúvidas uma das leituras mais difíceis que já fiz na vida. Svetlana Aleksiévitch fez algo incrível..., ela resolveu reunir um compilado de relatos de mulheres que estiveram na Guerra. Mulheres essas que foram esquecidas por quem durante anos escreveu o que encontramos hoje em dia nos registros históricos. Levando em consideração que vivemos em um mundo machista, nada surpreendente em relação a esta informação.
É uma leitura incômoda, dolorosa e que nos faz pensar sobre a crueldade humana. Os relatos me tocaram de maneira tão profunda que muitas vezes ficava sem saber como agir. Me impactou tanto que nem tive forças para chorar. As páginas se arrastaram e é tanta dor acumulada que em vários momentos cheguei a ficar cansado de tanta desgraça e sofrimento.
“Estou escrevendo uma história dos sentimentos... Uma história de alma... Não é a história da guerra ou do Estado, e não é a hagiografia dos heróis, mas a história do pequeno ser humano arrancado da vida comum e jogado na profundeza de um acontecimento enorme. Na grande História. ”
A autora nos mostra através dessas dolorosas memórias que a Guerra tirava dessas mulheres o que as caracterizavam como tais, suas identidades de gênero. Passavam a não ser mais vistas como mulheres nem por elas e nem pela sociedade que faziam parte. Um fato revoltante que nos mostra também a ingratidão de um país que tanto precisou destas guerreiras.
Este livro me abalou emocionalmente em um nível que raramente acontece. Realmente não tenho emocional para tanto sofrimento.
“O mais difícil de aguentar, para mim, eram as amputações... Várias vezes faziam umas amputações tão altas que cortavam a perna, e eu mal conseguia segurá-la para pôr na bacia. Lembro que eram muito pesadas. Você pega quietinha, para que o ferido não escute, e leva como se fosse uma criança.... Uma criança pequena.... Especialmente se a amputação é alta, longe do joelho. Eu não conseguia me acostumar. Os feridos selados gemiam ou diziam palavrões. Palavrões cabeludos. Eu estava sempre coberta de sangue... Cor de cereja.... Escuro...
Não escrevia sobre nada disso para a minha mãe. Escrevia que estava tudo bem, que estava bem agasalhada, bem calçada. Ela tinha mandado três para o front, era difícil para ela...” ( Maria Seliviôrstovna Bojok, enfermeira)
Aleksiévitch nos mostra um outro lado da guerra. Ela nos mostra outros níveis de sofrimentos. Ela nos mostra que mesmo em um ambiente tóxico como a guerra é possível haver compaixão. Ela nos mostra que nenhum lado é pequeno se comparado com o outro. Mulheres estiveram na guerra..., elas participaram, elas morreram, elas sobreviveram e elas precisam ser ouvidas. É uma realidade que nos deprime, mas que precisa ser encarada.
“[...] tudo é ainda mais incompreensível, menos previsível do que na história. Tenho diante de mim lágrimas vivas, sentimentos vivos. Uma fase viva, humana, pela qual passam sombras de cor e medo durante a conversa. Às vezes até se insinua a ideia subversiva de uma quase imperceptível beleza do sofrimento humano. E então me assusto comigo mesma...
O caminho é um só: amar o ser humano. Compreendê-lo pelo amor. ”