Nathaly 29/04/2023Afogado nas própria ilusão, sobre um homem que perdeu-se no próprio personagemO personagem principal desse livro me trouxe tantos sentimentos conflitantes que eu não tive escolha a não ser fazer uma resenha.
Tom Ripley é um jovem americano, na casa dos 20 e poucos, que vive de pequenos golpes, estelionatos etc., o famoso 171. Um dia, ele recebe a visita do pai de um conhecido, que pensava que ele era um amigo próximo do filho e, por isso, intercedeu por sua ajuda para convencer Dickie (o filho do Sr. Greenleaf) a voltar da Itália para os EUA e assumir os negócios da família. Para isso, o Sr. Greenleaf garantiu que pagaria todas as despesas de Ripley para essa tentativa.
Tom viu nesse pedido uma oportunidade para sair, nem que fosse de forma breve, de sua vida medíocre e viajar pela Europa, conhecer novos lugares, culturas e pessoas. Assim o fez. O rapa não investiu muito na tentativa de trazer Dickie de volta para a família, pois viu nesse reencontro a chance de passar mais tempo que o previsto na Itália, tentando então fortalecer sua amizade com quem antes era apenas um conhecido, Tom se esforçou para fazer parte da vida de Dickie; saindo, fazendo-o rir, levando-o para aventuras. Porém, Marge, a companheira (por assim dizer) de Dickie, começou a sentir-se incomodada com a proximidade dos dois. O americano tinha sentimentos conflitantes sobre o que Tom queria dele, assim como o próprio trambiqueiro.
Além de uma certa atração sexual ou afetiva, percebe-se em Tom uma inveja profunda do estilo de vida de Dickie, como se ele não a merecesse por não aproveitar ao máximo. Ripley pensava o tempo inteiro como seria viver como o amigo, na Europa, cercado de cultura e de bens materiais de qualidade. Percebendo que sua presença não era mais desejada nem por Dickie e nem por Marge, Tom acaba agindo por impulso, desesperado por não perder o estilo de vida que antes não conhecia, mas que passou a adorar.
A partir daí, vemos como Tom passa por uma transformação ou exacerbação em seu estado mental fragilizado. Sua vida vira uma sucessão de mentiras, tão elaboradas que ele mesmo passa a acreditar nelas. Ele age como um ator em tempo integral, passando e repassando situações em sua cabeça para evitar perder o que conquistou por meios definitivamente sórdidos. O mais impressionante não é o quão elaborada é a fantasia que Ripley cria, mas o quanto seu ego sustenta tantas mentiras e o quanto ele manipula a si próprio, crendo estar sempre certo em suas decisões, vendo qualquer erro apenas como um empecilho à vida que ele tem certeza que merece.
Um personagem imerso numa torrente de mania de grandeza, soberba, mesquinhez e arrogância que arrasta quem estiver no seu caminho para não voltar a ser o jovem miserável que era em Boston.
Leitura fascinante de um dos romances policiais mais aclamados.
Leia essa e outras resenha no meu blog, link aí embaixo.
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