Maria - Blog Pétalas de Liberdade 28/10/2016Resenha para o blog Pétalas de Liberdade “Ela tinha mesmo começado a acreditar que, se as pessoas conseguissem vê-la no palco como Charlotte, talvez fossem ver que ela era uma garota fora dele também.” (página 66)
Narrado em terceira pessoa, o livro conta a história de George, uma menina que nasceu num corpo de menino. Aos 10 anos, ela estava no ensino fundamental, morava com a mãe e o irmão mais velho e tinha uma melhor amiga, Kelly.
Na escola, seria montada uma peça de teatro para ser apresentada para os familiares e os alunos mais novos. A adaptação seria de “A menina e o porquinho”, e George ficou encantada pela história, além de ter se emocionado com ela. Um desejo começou a crescer em seu coração: a vontade de interpretar Charlotte na peça, uma personagem que sempre é interpretada por meninas, mas será que deixariam George fazer o papel, já que todo mundo que olhava para ela via um menino? Ela usava roupas de menino, sapatos de menino, cabelo cortado e penteado como de menino, mas tudo o que ela queria era ser uma menina! George tinha esperanças de que se as pessoas a vissem interpretar uma personagem feminina, poderiam entender que ela era uma menina.
“(...) – O que quero dizer é que só uma pessoa especial chora por causa de um livro. Mostra compaixão além da imaginação. – Ela deu um tapinha no ombro de George. – Nunca perca isso, George” (página 18)
“George” foi um livro que quis ler por ter interesse em entender melhor o tema da transexualidade. E após concluir a leitura, meu sentimento é de uma gratidão enorme ao Alex Gino por ter escrito uma história sobre uma criança trans de uma forma tão delicada, com um ar de fábula. O autor constrói a narrativa de uma maneira muito fluida, a leitura pode ser feita rapidamente, em um ou dois dias. E o escritor conseguiu me deixar com o coração acelerado, completamente tensa, em uma cena; e em outra cena, eu quase chorei.
O meu primeiro choque com a leitura, veio nas páginas iniciais, onde, desde o princípio, George foi tratada pelo pronome “ela” durante a narração; o que me fez perceber que a personagem não queria ser uma menina, ela era uma menina, e acho que isso é o que a sociedade precisa entender quando se fala em transexualidade. Me parece que em se tratando de identidade de gênero, ainda há muita falta de conhecimento sobre o tema, mas durante a leitura é possível perceber como a maioria das pessoas que convivia com George, percebia que havia algo de diferente nela desde seus primeiros passos. É possível perceber também como há uma divisão entre coisas de menino e de menina, nas brincadeiras, nas formas em que são ensinados a se comportar e se expressar, infelizmente.
Acredito que, na vida real, pessoas trans enfrentem até mais desafios que George, mas devido ao público alvo do livro, um infanto-juvenil, creio que o autor fez bem ao dar o desfecho que deu para o personagem, um final que pode trazer esperanças para pessoas que estão passando pela mesma situação, e a certeza de que quem realmente te ama (e sempre haverá alguém, um familiar, um amigo...), vai continuar te amando e vai apoiar você em sua busca por assumir sua verdadeira identidade ao invés de te obrigar a continuar sofrendo por tentar ser quem não é.
“Ela desejava poder ser outra pessoa – qualquer outra pessoa.” (página 13)
Sobre a edição: acho essa capa minimalista muito bonita, as páginas são amareladas, a diagramação tem letras, margens e espaçamento de bom tamanho.
Enfim, “George” foi uma leitura apaixonante e com uma temática super interessante, que eu recomendo para todo leitor. Acho que quem leu “Extraordinário” certamente vai gostar de “George”, assim como quem gosta de histórias com protagonistas crianças, de livros infanto-juvenis e que falem sobre amizade. Creio que é uma obra que pode contribuir para a diminuição do preconceito e para promover a tolerância e o respeito pelo diferente (o fato de o pai da Kelly cuidar da filha sozinho, é mais um aspecto pelo qual o autor merece ser parabenizado, pois traz um tipo de família não convencional e ainda assim real, e que, portanto, precisa ser representada). Leia sim, se você tiver a oportunidade, tenho certeza que você vai gostar, é um daqueles livros que se você ler e não gostar, pode vir reclamar comigo!
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