Thamyres Andrade 19/01/2017George se mostra encantadoraTô tentando descobrir até agora como faz pra parar de sorrir depois de terminar esse livro. A junção de um tema tão emergente e tabu com uma escrita super leve, deram um toque todo especial à história.
George é um menino. Não, uma menina. Uma menina que se sente presa no corpo de menino. Isso. É uma criança trans.
Confuso? Que nada!
A forma como o autor conduz a narrativa, bota abaixo essa ideia de que pessoas transgêneros são como bichos de 7 cabeças.
Ele descreve com facilidade a rotina de um menino e, ao mesmo tempo, consegue mostrar com clareza a ótica infantil e como ele se sente em diversas situações. Não é difícil perceber que George é infeliz e vive aflita por ser tratada sempre no masculino, quando acha que o certo deveria ser o contrário. Ela quer que as pessoas entendam. Ela quer poder ser quem é por dentro. Quer interpretar Charlotte na peça da escola. Ser vista como uma menina.
Em alguns momentos, os pensamentos da personagem são tão reais e tangíveis que fui tomando certa afeição por ela. Em certo ponto, as páginas foram afinando e eu só desejava ler mais e mais.
No início confesso que demorei um pouco a me sentir confortável lendo "a George". Mas a cada capítulo eu levava uma bofetada maior que a outra e, finalmente, acostumei com o artigo feminino. É íncrível como às vezes a gente vai sendo desconstruído sem perceber, né? É só estar com a mente aberta o suficiente pra que isso aconteça.
Bom... Perto do fim, lágrimas brotaram nos meus olhos e eu comecei a enxergar meio embaçado. Foram lágrimas de revolta. De compreensão. Sim, eu compreendia e compreendo. Alguns trechos tiveram um significado pessoal pra mim. Passagens que doeram e exerceram poder de libertação, talvez.
É claro que, analisando minuciosamente, sempre há o que melhorar. Particularmente, eu acredito que inúmeras cenas poderiam ser trabalhadas mais a fundo, em vez de funcionar apenas como elos, duplicando ou até mesmo triplicando as 140 páginas da obra. Mais questões polêmicas do meio LGBT também poderiam ser abordadas. Mas entendi que o objetivo do autor foi dar o primeiro passo. E que passo! Tomara que trabalhos semelhantes possam surgir e que George encoraje outros escritores a darem vida a personagens que se sentem incompreendidos, tanto quanto eles existem na vida real. E que as pessoas se mostrem mais dispostas a acolhê-los, seja nos livros ou fora deles.
Por um mundo com menos Jeffs e mais Kellys.
A história não chega a dar margem pra uma continuação, mas eu ficaria muito feliz se houvesse um sucessor, mostrando mais do universo transgênero.
Alex Gino, vc sambou lindamente na cara da sociedade.
Definitivamente, comecei 2017 com o pé direito. Nota 5.