Queria Estar Lendo 14/07/2022
Resenha: O Chamado Selvagem
Recebido em cortesia da Editora Arqueiro, O Chamado Selvagem foi uma surpresa. É considerada a obra-prima de Jack London, e foi relançado nessa edição Pop Chic recentemente. A resenha de hoje é sobre ele. Um livro sobre o mundo selvagem e a luta por sobrevivência.
Aviso de conteúdo: durante a leitura, tem muitas cenas de crueldade animal, violência e morte.
Buck é um cachorro, e é através dele que seguiremos essa história. Ele vive uma realidade pacata em um rancho na Califórnia. Sem grandes expectativas. Porém, durante a corrida pelo ouro em 1890, Buck acaba sequestrado e vendido para trabalhar puxando trenós no norte da América.
A partir daí, acompanhamos a transformação do doce e afável cão doméstico em um animal buscando sobrevivência a todos os custos. Aprendendo sobre o mundo ao seu redor e, principalmente, se adaptando a ele.
O Chamado Selvagem é uma história visceral. Essa é a melhor maneira de definir. É uma leitura rápida, que atormenta por ser tão brutal e simples. É a história de um cachorro se adaptando ao meio selvagem. Arrancado de sua família e da sua vida calma, Buck precisa se adaptar se quiser sobreviver.
"Era de partir o coração, só que o coração de Buck não se partia."
Eu gostei demais da leitura. O modo fluído com que a trama acontece. A narração mantém o foco sobre o Buck. O desenvolvimento da história acontece através do cão se tornando menos cão, e mais fera selvagem. Mostra, de maneira direta, a domesticação deixando Buck aos poucos, com o chamado da floresta se tornando mais e mais audível com o passar do tempo.
O Chamado Selvagem faz um exercício interessante em relação à mudança. É uma história intensa por falar justamente sobre essa quebra de "civilidade". Quando confrontado com a natureza selvagem, a natureza original da criação, a adaptação acontece. Aos poucos, em meio a sofrimento e provações terríveis, mas acontece.
E apesar de se tratar de um cachorro, há paralelos com o homem em sua jornada. No modo com que Buck eventualmente abraça a violência para se manter vivo em um meio que está constantemente tentando derrubá-lo. Como ele ainda sente e se permite sentir. Como a natureza o recebe de braços abertos, contanto que ele esteja disposto a abraçá-la de volta. A se soltar por completo.
"E quando, nas noites frias e silenciosas, ele apontava o focinho para uma estrela e soltava um uivo longo, semelhante ao de um lobo, eram seus ancestrais, agora apenas poeira, que apontavam o focinho para uma estrela e uivavam através dos séculos e através dele."
Em determinado momento, Buck se agarra a um último fio de humanidade. Uma última coisa que o conecta à civilização e ao homem. É lindo, e é triste, porque o chamado selvagem está correndo em suas veias. Mas ele ainda tem o apego. Ainda tem a fidelidade a quem o protege. Ainda se mantém domesticado e civilizado por lealdade a um humano.
O Chamado Selvagem me surpreendeu em todos os momentos, até o seu fim. Que é agridoce. Mas real. Eu me peguei chorando com alguns trechos, porque história com cachorro sempre vai me fazer chorar.
A edição Pop Chic da Arqueiro é uma graça. Realmente, pequena e bonita. Tem uma ótima tradução da Maria Carmelita Dias. Assim como revisão e diagramação excelentes para leitura.
O Chamado Selvagem é, de fato, uma obra prima de Jack London. É um livro interessante por falar da natureza através da ficção. Dando voz a um cachorro se transformando no meio selvagem.
site: https://www.queriaestarlendo.com.br/2022/07/resenha-o-chamado-selvagem-jack-london.html