Sarah L.T. 18/02/2023
Quem é o Shadow?
A premissa de "Deuses Americanos" é clara: Uma suposta batalha entre os Deuses antigos, trazidos da Europa para os Estados Unidos, e Deuses novos, cultuados pelos habitantes do país na idade contemporânea. O Neil Gaiman conta essa "preparação" por meio de Shadow, um ex-presidiário que, inicialmente, é difícil entender o porquê de estar envolvido na Guerra dos Deuses.
Não se pode negar que acontecem alguns diálogos com falas profundas e interessantes, muitos cenários descritos de uma forma mais intuitiva do que factual, que dão um ar mais místico que eu acho que o livro merece. A impressão que eu tive é a de que, como podemos observar pelo histórico de livros que ele já escreveu, que o Neil Gaiman tem muito apreço e curiosidade pela cultura religiosa de vários países, colocando os deuses como personagens. Sinto como se ele fosse uma criança criando histórias de crossover entre seus personagens favoritos.
Entretanto, essa admiração que ele possui não me foi bem transmitida. Gosto verdadeiramente de um livro, quando me preocupo com os personagens, quando eles me fazem sentir o que sentem e quando não consigo separar meus sentimentos dos deles. Nesse livro, o protagonista me fez questionar o tempo inteiro o porquê de a narrativa estar o acompanhando, porque ele me parecia extremamente indiferente às coisas extravagantes que aconteciam e não obtive uma justificativa satisfatória para o meu questionamento. Terminei o livro sem saber quem o Shadow era e, absolutamente, sem me importar se ele vivia ou morria.
Além disso, os personagens, mesmo os que não eram deuses, chegavam às conclusões e agiam sem nenhuma base, sem nenhuma justificativa do porquê sabiam o que sabiam ou faziam o que faziam. Eles pareciam simplesmente saber, do nada, sem ninguém contar. Realmente, a falta de coerência, ou explicações sobre as ações dos personagens, ou descrições de cenas e cenários mais palpáveis fez falta. Senti, algumas vezes, que eu estava só vagando por cenas de reflexão profunda que não tinham uma ligação entre si.
De modo geral, é um livro razoável, mas que eu não leria de novo.